Queria Estar Lendo 19/10/2020
Resenha: A Rainha do Nada
A Rainha do Nada é o último volume da série The Folk of the Air, cujo primeiro título - O Príncipe Cruel - foi publicado aqui pela Editora Galera Record. Holly Black escreveu uma história sobre seres mágicos perversos e uma garota humana aprendendo a resistir em meio a essa perversidade, e o fim pode não ter sido espetacular, mas foi bom. Me deixou feliz.
Esta resenha vai conter spoilers dos primeiros livros. Fica aí o aviso!
A trama se inicia um tempo depois da reviravolta chocante de O Rei Cruel. Jude está exilada no reino humano, traída pelo rei que acreditava amar e pela irmã em quem confiava plenamente. Ela não tem muito que fazer, uma vez que, para os humanos, Jude está morta e esquecida no tempo - portanto, faz o possível para manter sua conexão com o mundo das fadas, caçando recompensas e elementos perigosos a mando de criaturas mágicas.
Quando sua irmã, Taryn, surge em busca de sua ajuda, Jude recebe uma oferta irrecusável: pode retornar ao reino mágico. Mas seu retorno vai trazer consequências com as quais ela não estará tão preparada para lidar.
A Rainha do Nada tem sido um divisor de águas no que concerne opinião de leitores. Eu vi algumas resenhas muito positivas outras muito negativas e outras mornas. Vi algumas amigas ficarem mais ou menos pra tudo, outras surtarem até arrancarem os cabelos. Eu só posso dizer que, na minha experiência, esse livro foi como os outros dois: uma montanha-russa cheia de surtos e gritos e momentos "JESUS SEGURA MINHA MÃO!" com um final surpreendente por se afastar tanto do caos e da tensão do resto do livro.
Acho que a Holly me ganhou justamente por entregar o que eu tanto estava querendo e tanto relutei em acreditar que veria no fim dessa série. The Folk of the Air não é exatamente a inovação em história e criação de mundo, então eu não fiquei decepcionada por não ver um fechamento tão elaborado e desenvolvido. Acho que ela correu em alguns momentos, sim, mas conseguiu manter o ritmo que os outros livros estabeleceram.
Jude já se firmou como uma sobrevivente arisca e difícil de entender. Ela carrega rancor pelas traições, mas sua sede por vingança está em equilíbrio com uma parte do coração que quer entender porque isso aconteceu. Por que ousou entregar seu coração para um rei cruel e perverso que ela acreditava confiar e gostar dela de volta? O que levou Cardan a traí-la?
As respostas chegam cedo e são um pouco do que eu já esperava, mas não quebraram o encanto dos reencontros e do retorno dela para o mundo mágico. A tensão permeia cada momento desse primeiro arco do livro porque você não sabe para onde exatamente a história está caminhando; uma guerra se aproxima? Uma conspiração? Em quem a gente pode confiar quando todo mundo parece prestes a trair todo mundo?
"Eu preciso me lembrar de que não sou mais a garota de antes. Eu posso estar cercada, mas não significa que tenha perdido meu poder."
Jude se move nessas incertezas até encontrar seu caminho entre os seres encantados. Eu preciso dizer, sem muitos spoilers, que berrei contra um travesseiro na sua primeira cena com o Cardan porque se tem UMA COISA que a Holly não erra mão é no relacionamento desses dois.
De ódio a amor nos seus mais intensos significados, Jude e Cardan são aquele tipo de ship que, num primeiro momento, parecem imperfeitos um para o outro, até que se tornam inevitáveis e então você entende a alma gêmea por trás daquela coisa todo. Os dois são feitos um pouco de caos, um pouco de fragilidade, um pouco de necessidade de carinho e amor e pertencimento. E se encontram quando estão juntos.
"Minha doce nêmesis, como estou grato por você ter retornado."
Cardan, inclusive, teve um desenvolvimento fenomenal no passar da trilogia. Daquele rapaz que era o pandemônio encarnado até o rei que carrega o peso da coroa e do reino e de uma profecia tensa nos ombros, deu pra sentir nos olhares e sorrisos o quanto isso marcou. Meu filho caótico e precioso que me ganhou quando eu menos esperava e roubou meu coração com todas as forças.
Eu amo tudo a respeito dos dois. Amo a instabilidade e como é difícil entender o que cada um está sentindo mesmo quando está tão claro ali nas páginas. Amo que eles se entendam e se percam um no outro e que carreguem uma história tão intensa.
"Não é tão fácil ajudar uma rainha. Elas não deveriam precisar de ajuda."
Outra personagem que me surpreendeu nesse último volume foi a Taryn. Ela era meio pombo no começo, aí passou por umas mudanças no segundo título até AQUELE FINAL e de repente seu arco de crescimento chegou num choque. Tal como Vivi, ela é uma personagem bem construída, só mais difícil de ler - e, aqui, nós conseguimos fazer isso até seu desfecho satisfatório. Sinto que faltou algumas considerações por parte da narrativa no que concerne diálogos entre irmãs, mas não foi perdição total.
Por falar em desfecho de novo, repito que no meu coração de fã da série e de leitora, foi bom para mim. Me fez surtar e pular na cadeira, me fez chorar e sorrir e torcer por reviravoltas positivas. Alguns capítulos pareceram apressados demais e eu olhava para a porcentagem de leitura com medo do que essa pressa poderia fazer com a história, mas o ritmo é estabelecido desde o começo do livro, então no final já parece natural que as coisas se desenvolvam mais rápido. Não é uma correria tal como em Três Coroas Negras, mas é gradual de acordo com os pontos chave da trama desse fim.
Personagens como Madoc, Oak e as três sombras espiãs também tiveram seus momentos, mas falar sobre eles envolve spoilers demais para que eu desenvolva uma opinião. Só posso dizer que cada um teve seu tempo e seu espaço para alçar o começo de um final. Não é aberto, mas é uma promessa; é um recomeço.
"Ele é como uma força gravitacional puxando tudo em sua direção."
A Rainha do Nada seguiu a linha dos seus antecessores e entregou momentos de tirar o fôlego, momentos para te grudar na cadeira de tanto medo e outros para te derreter de amor. Conseguiu me fisgar com seu carisma e com seus personagens tão intensos, principalmente Jude e Cardan, que vão ficar no meu coração para sempre.
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