Conça 04/04/2021
Minhas impressões, opniões e sentimentos...
(Eu não sei quem você é) foi a minha primeira leitura da autora Penny Hancock. Logo no começo percebi que se tratava de uma obra belíssima dentro do contexto da sua atuação profissional e que teria muita experiência para tratar do assunto. Nascida e criada em Londres, é escritora, jornalista e professora.
Não sei se considero a temática do livro como thriller, mas ele carrega um mistério assustador porque os personagens são do mesmo ciclo. Uma obra profunda sobre relações e um tema que assombra muitas mulheres em pleno século XXI.
Apesar das personalidades quase opostas, Jules e Holly são melhores amigas desde os tempos de faculdade. Holly é professora de escrita criativa, Jules é empresária. Holly gosta de ficar em casa, Jules adora festas. Elas compartilham tudo, desde detalhes do cotidiano até segredos e confissões. Holly é a única sobre o caso extraconjugal de Jules. Jules apoiou Holly quando ela perdeu o marido subitamente. Saul, o filho introspectivo de Holly, e Saffie, a filha rebelde de Jules, cresceram juntos, com apenas três anos de diferença.
Quando Saffie faz uma denúncia grave contra Saul, nenhuma das duas amigas está preparada para o impacto devastador que o fato terá na amizade e na vida das suas famílias. Quem você conhece melhor? A sua amiga mais antiga? Ou o seu filho? Em quem você deve acreditar quando um acusa o outro de um crime horrendo?
A narrativa é dividida em capítulos, Holly na primeira pessoa e Jules na terceira pessoa. Essa foi minha primeira impressão do livro que mais me chamou atenção, apesar do histórico que normalmente as narrativas na primeira pessoa não são confiáveis, tive total confiança mais na narrativa de Holly do que na de Jules.
Na minha concepção Holly é a personagem principal da trama, ela tem um senso crítico apurado e um nível muito elevado nas considerações que denota amor, justiça e relações em geral. Inclusive, foi a personagem que mais se aproxima do que defendo e acredito. Já Jules, achei egoista e muito pouco sensata nas ponderações, ao contrário de Holly, ela era só emoção e razão quase zero. Saffe e Saul, são dois adolescentes em fase de afirmação e construção da personalidade dos futuros adultos, ricos de elementos dos dramas vivenciado por muitos da mesma idade que já descreve as características de pontos extremos no enfrentamento das adversidades, sejam por medos, insegurança, revolta, dentre outros...
A abordagem dos temas são históricos e polêmicos quando se fala em afeto, educação, relações humanas e, mais ainda, abuso sexual. Na minha opinião, os assuntos foram bem inseridos na obra que denotou uma realidade nos acontecimentos e não permitiu brechas para contestações sobre como mudamos nossas atitudes e pensamentos conforme atravessamos determinadas situações de conflitos. Ah, gostei de Penny inserir as aulas básicas do curso de escrita. Foi uma leitura perturbadora perceber a posição de vulnerabilidade das mulheres em casos de abuso sexual, ao mesmo tempo, profundo e chocante se deparar com a dimensão do quanto ainda é preciso ser feito para reverter esse problema social e cultural. Como leitora, sofri várias emoções que transbordaram sentimentos inúmeros, trazendo reflexões e questionamentos sobre o quanto podemos aprender e extrair todos os gatilhos que essa obra tem de mensagem para um novo aprendizado.
Uma ressalva, não gostei do desfecho das duas amigas foi surreal e prematuro.
?O que eu mais aprendi nas últimas semanas, é que, no fundo, a gente nunca conhece uma pessoa de verdade. É impossível.?
E esse é o maior motivo pelo qual recomendo a obra.