O Garrancho 23/02/2023
Guiado por Ariadne, Teseu não teme o labirinto do Minotauro.
Quem possui o hábito da leitura e não abre mão do livro em seu formato físico se vê não raro, ao longo do tempo, amealhando exemplares e mais exemplares suficientes para formar sua biblioteca particular – sonho de consumo de incontáveis leitores.
Manter conservado e funcional um acervo bibliográfico requer dedicação, tempo e dinheiro. Agora, imaginemos uma coleção com cerca de 35 mil livros! Coisa de bibliófilo – sem dúvida.
Alberto Manguel, como se diz, é desses.
No ano de 2015, devido a mais uma mudança em sua vida, o crítico e literato argentino, nascido em Buenos Aires, em 1948, se depara com este hercúleo desafio: encaixotar sua gigantesca biblioteca a fim de transportá-la para um novo lugar.
A leitura de “Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões”, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, desperta em nós, que amamos ler e também os livros como objetos, sentimentos diversos – da admiração à nostalgia.
É fato: ainda que nos esforcemos por décadas e mais décadas, nossos livros sofrerão, mais cedo ou mais tarde, os efeitos do tempo. Como nos lembra o autor, nem a mais fantástica biblioteca de que temos notícia – a de Alexandria – suportou o peso do passar dos séculos.
Manguel aqui compartilha conosco suas reflexões e memórias sobre sua trajetória como leitor, sem medo de ser criticado por quem veria uma biblioteca dessa monta mais como resultado de um descabido e até doentio acúmulo do que por amor às histórias ali fisicamente preservadas.
No melancólico encaixotar de seus livros, o literato, que inclusive foi amigo de Jorge Luis Borges, para o qual o paraíso seria uma espécie de biblioteca, demonstra uma segurança invejável a quem está prestes a enfrentar o labirinto do Minotauro; como Teseu, aparenta deter o fio de Ariadne para, quando oportuno for, vencer aquela temida provação.
Com a ajuda de diletos e prestativos amigos, Alberto Manguel consegue dispor e lacrar em caixas de papelão seus inúmeros volumes colecionados em sua existência, e isso de modo a levá-los do Loire, na França, para Nova Iorque, nos Estados Unidos. Tal experiência lhe serve de mote para propagar seu amor pela literatura e, de quebra, nos dá uma aula magistral sobre a arte de escrever histórias.
Por fim, agradeço imensamente à talentosa colega booktuber e minha amiga Isabela Libório, do canal Let it Bela, que me presenteou com esta obra, cujo texto me fez reafirmar ainda mais meu apreço pelos livros.
site: https://www.youtube.com/@OGarrancho