Ennio 13/07/2021
?Então, o que é que vai ser, hein?
Não lembro ao certo quando sluchei (1) algo sobre Laranja Mecânica. Entretanto, recordo bem que por ser uma distopia* foi fator preponderante para colocá-lo em minha lista de leitura. Não que soubesse o significado, apenas achei o slovo (2) horrorshow (3) [risos].
O primeiro capítulo foi um malenk (4) difícil por ter de cara o contato com o dialeto nadsat (linguagem de adolescentes rebeldes, para se dizer o mínimo). Ele não veio de forma integral, mas através de palavras misturadas ao idioma local (no caso da edição citada, o Português, óbvio). Passado este primeiro momento, a leitura foi progredindo; o nadsat, automaticamente absorvido ? tanto pela repetição dos mesmos slovos e a percepção do seu significado, quanto pela presença do glossário, que só notei quando já havia explorado grande parte da obra.
Embora o dialeto seja um dos pontos altos, um diferenciador, pondo o livro na categoria ?originalidade?, privilégio para poucos, a elaboração do enredo foi, sem dúvida, o ponto crucial para o sucesso de A clockwork orange. Escrito em primeira pessoa, dividido em três partes, conta a raskaz (5) de Alex, narrador-protagonista, no auge dos seus 16 anos. Ele, junto dos seus druguis (6), Georgie, Pete e Tosko saíam pelas ruas para uma ?diversão atípica?, porém retrato de parte do panorama caótico de um pós-guerra nem tão distante: dratas(7) urbanas, bitvas (8) com shaikas(9) inimigas, vinte-contra-um (10), krastas (11). Todavia, a raskaz não se resume a estas transgressões. Elas servem como ponto de partida para um dos temas subentendidos: até que ponto se pode ir para reversão de características individuais e até onde essa iniciativa pode mudar um ser? [Método Ludovico, tutupom?!].
Tudo o que foi dito explica por que fiquei fascinado pelo destacado trabalho de Anthony Burgess. Porém, a caracterização e construção da persona de Alex fizeram com que eu mergulhasse por completo: sarki (12), frio, desprovido de sentimentos ?nobres?, com objetividade e racionalidade quase inverossímeis (para um romântico) e extremamente sensorial!!! Ele tinha percepções, sobretudo, auditivas e olfativas únicas, possibilitando ao leitor ?sentir?cheiros (utilizava muito para descrever seus desafetos) e ouvir sons desde os mais simples até o mais sofisticado (fazendo uso constante de onomatopeias).
Se gostei? Se vale a pena? Preciso dizer?
Ps: 1. Ouvir/escutar; 2. Palavra; 3. Legal; 4. Pouco; 5. História; 6. Amigos; 7. Brigas; 8. Lutas; 9. Gangues; 10. Estupro coletivo; 11. Roubo; 12. Sarcástico.
* Distopia: lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação; antiutopia.