Mille Terra 20/10/2023
"Mais importante que nascer, é ressuscitar."
Narrado em terceira pessoa mas pela visão de Virgínia, Ciranda de Pedra relata a vida cotidiana de uma menina de pais separados, que mora com a mãe e o Tio Daniel (amante da mãe), enquanto as duas irmãs mais velhas moram com o pai numa bela casa.
Em determinado período a mãe adoece e Virgínia acaba indo morar com o pai e suas irmãs, onde esperava ser bem recebida mas é inserida num ambiente caótico onde é excluída pelos demais e passa o tempo todo buscando aceitação e o sentimento de pertencimento.
Dividido em duas partes, logo conhecemos uma virgina jovem que volta para casa após alguns anos no convento e que esperava encontrar as pessoas diferentes, mas o que encontra é todos iguais e de volta a busca pelo pertencimento e a nova busca pela liberdade e vivência.
Durante a leitura fiquei me perguntando como ainda não tinha tido contato com a escrita da Lygia, tamanha a perfeição da narrativa. Frases que facilmente poderiam ter sido tiradas de poesias e inseridas num texto de vida cotidiana. É um livro corajoso, aborda temas ainda tabus hoje como suicídio e homossexualidade.
Outra coisa que me deixou impactada foi como a Lygia fez a história se desenrolar fácil e com muitas reviravoltas.
Os personagens são como se fossem reais, que nem disse Carlos Drummond de Andrade: "Criando realmente pessoas vivas e não simples personagens, compôs um livro perturbador, que nos prende e nos assusta, que nos faz sofrer e ao mesmo tempo não oferece o remédio compensador da própria arte, pois a força da criação resolve num plano mágico os conflitos que ela mesma suscita."
Livro impactante e encantador. Lerei mais vezes com certeza.
"Ah Conrado, ao menos isto eu quero, já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente."