Carol 17/11/2010
Difícil e genial de ler!
O livro me assustou muito no início: Virgínia falava, pensava e agia como louca. Nada do que ela falava fazia sentido. Depois percebi que eu também pensava e agia daquele modo: como se muitas vezes estivesse em meio a um devaneio. É algo que a gente decide fazer, a gente distorce o mundo de uma maneira que só faz sentido na nossa cabeça. E eu estava na cabeça de Virgínia tentando entender a distorção que ela criou.
Virgínia carregou muito sofrimento desde a infância, e me doía a necessidade que ela tinha de machucar aos outros. Eu já sabia que ela acabaria se machucando, mas o que mais me incomodava era ela ter demorado tanto a perceber que todas aquelas pessoas eram tanto ou mais infelizes que ela. Bruna não conseguia ser amada por ninguém, nem mesmo pelo Deus ao qual tanto se apegou. Otávia - da qual gosto muito - parecia não sentir o mundo ao seu redor, fiquei com a impressão de que ela não tinha ânimo nem para buscar algo que realmente amasse. Afonso, sempre precisando atacar para não se sentir atacado. Natércio foi um dos que mais me interessou: eu não entendia se ele gostava de alguém ou o que ele queria. Para mim, a única coisa que ainda dava à Virgínia um sopro de vida era seu amor por Conrado. Ela não percebeu que tinha mais sorte do que todos os outros: ela amava alguém, sofria por esse alguém, tinha sofrido também por uma mãe. Todos os outros não tiveram a oportunidade de sentir tanto quanto ela. A vida dela era considerada imperfeita, então ela tinha algo por que lutar - fosse amor ou vingança, qualquer coisa que melhorasse sua vida. Já nas vidas "perfeitas" dos outros, não haveria muito o que fazer - não deveriam ser eles felizes? Não possuíam eles tudo? Que direito tinham à infelicidade?
Virgínia podia reclamar e lutar. Tinha direito de desejar mais, de sair de onde estava. Pena que com todo esse potencial, tudo o que desejava era entrar numa roda que se mostrou tão feia de perto.
Gostei muito do livro, apesar de ele ser um pouco difícil de ler por toda a amargura e desesperança que há nas falas dos personagens.