Fabio Shiva 11/12/2020
Lord Edgware Morre
Li pela primeira vez essa história em inglês, em um pocket book com o título original de “Lord Edgware Dies”, que trazia na capa a cena bem explícita de um homem de costas, com um objeto perfurante espetado em sua nuca, bem na altura do bulbo raquidiano. Foi curioso lembrar dessa capa agora, ao ler “Treze à Mesa” em português (e com uma capa bem menos gráfica). Isso me fez tomar consciência do quanto considero a leitura de Agatha Christie como um inofensivo passatempo intelectual, mas como no fundo essa “brincadeira de detetive” é sempre inspirada em assassinatos cruéis e, às vezes, bastante sangrentos.
Reflexões à parte, me diverti muito, como sempre me divirto ao ler e reler os livros de Agatha. Tive a impressão de detectar uma pontinha solta na trama, que ficou sem explicação. Talvez a justificativa para esse suposto lapso esteja nesse diálogo bem-humorado entre Poirot e seu fiel escudeiro Hastings:
“– O que é que tem duas patas, penas e late como cachorro?
– Uma galinha, claro – respondi sem emoção. – Essa eu já sabia desde que era criança.
– Você está muito bem informado, Hastings. Até demais. Deveria ter dito: ‘Não sei’. E aí eu diria: ‘Uma galinha’. Você, então, retrucaria: ‘Mas galinha não late como cachorro’. E eu responderia: ‘Ah, eu incluí isso para dificultar’.”
E se o crítico rabugento, tal como Hastings, afirma que isso é uma trapaça, Poirot já tem a resposta na ponta da língua:
“– Você não está respeitando as regras do jogo.
– Eu não respeito regra alguma. Você sabe disso. E assassinato não é um jogo. É uma coisa séria. A propósito, você deveria parar de usar essa frase, ‘respeitar as regras do jogo’. Não se fala mais assim.”
Agatha está bastante inspirada nesse livro, presenteando o leitor com ótimas passagens recheadas de ironia:
“O motivo do crime, do ponto de vista filosófico, seria o bem maior de um maior número de pessoas, e, como isso é difícil de julgar, poucos filósofos são assassinos.”
“Sir Montagu era o tipo de homem cuja inteligência consistia em escutar as próprias opiniões com o máximo de atenção.”
E até mesmo com essa verdadeira pérola de sabedoria, que recebo, recolho e guardo, com gratidão:
“Nenhum ser humano deve aprender com outro. Cada indivíduo deve desenvolver suas próprias faculdades ao máximo, não tentar copiar as alheias.”
E viva Agatha Christie!
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