A mão esquerda da escuridão

A mão esquerda da escuridão Ursula K. Le Guin...




Resenhas - A Mão Esquerda da Escuridão


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Bookster Pedro Pacifico 25/09/2020

“A mão esquerda da escuridão”, de Usrula Le Guin - Nota 8/10
A premissa desse livro é muito interessante, sobretudo quando consideramos as temáticas por ele abordadas e a época em que foi lançado, em 1969. A história é construída a partir de uma missão diplomática, em que um ser humano, Genly Ai, é enviado para Gethen, um planeta extremamente distante da Terra, para tentar convencer os governantes a integrar uma comunidade interestelar. E, para a surpresa de Genly Ai, os indivíduos de Gethen não possuem gênero, são andrógenos.

Cada indivíduo nasce com um gênero neutro e, em cada período sexual, se desenvolverá para o que biologicamente entendemos como homem e mulher. Considerada como uma das principais referências no gênero da ficção científica, Le Guin desperta discussões muito interessantes sobre os papéis e as relações de gênero. Por meio do choque cultural vivenciado pelo protagonista, percebemos como muitas das características que associamos ao homem e à mulher estão ligadas tãoo somente a construções sociais.

A todo momento, Genly Ai acaba fazendo um paralelo com a nossa forma de sociedade, em que a mulher e o homem desempenham funções diferentes (imagine considerando a época em que foi publicado). Em Gethen, qualquer um pode gerar um filho e, quando não estão em sua fase sexual, vivem sem um instinto carnal influenciando suas decisões e atitudes.

Durante a leitura, também vamos encontrando reflexões sobre a sexualidade, relações de amizade e interesses políticos. A autora ainda se vale de uma escrita muito rica em sua obra. O foco não está apenas nos acontecimentos, mas também na forma como os cenários e sentimentos são descritos.

Mas confesso que o livro demora um pouco para engatar, até mesmo pela quantidade de nomes e termos associados ao novo planeta. Da mesma forma, algumas passagens podem ter um ritmo mais lento, com divagações e pouca ação. Por isso, não comece o livro esperando uma leitura repleta de aventura, mas tente aproveitá-lo levando em conta as temáticas nele trazidas e o seu caráter inovador e questionador para a época em que foi publicado.

site: http://instagram.com/book.ster
caiocezarm 10/11/2020minha estante
É exatamente isso! Um livro que demora a engatar (parece até um estudo antropológico no começo), mas quando você pega o ritmo é maravilhoso e te faz refletir sobre todas essas questões. Destaque para as páginas da aventura deles pela neve. Pura beleza!




Vania.Cristina 05/06/2024

Ficção científica e aventura que discute questões de gênero
Que boa surpresa! Eu não esperava uma história tão influenciada por Tolkien e Frank Herbert. Aqui também é criado todo um novo mundo, com povos, línguas e culturas próprias.

Antes de mais nada, aviso que vale muito a pena ler o texto de apresentação dessa edição, escrito pela própria autora. Nele, Ursula Le Guinn faz uma análise dos seus erros e acertos com a criação da obra, e acaba discorrendo muito sobre o fazer artístico e o papel do escritor. Achei um texto certeiro e importante para quem lê ou escreve ficção.

Na história propriamente dita, o protagonista e narrador é Genly Ai, um viajante espacial terráqueo, em missão no planeta Gethen. Ele está exercendo o trabalho de um "primeiro móvel", ou seja, foi enviado sozinho para estabelecer o primeiro diálogo e, a partir daí, convidar as nações de Gethen a participarem de uma federação de planetas chamada Ekumen, da qual a Terra faz parte. O propósito é diplomático e comercial, pretende-se um intercâmbio de produtos, tecnologias e conhecimentos.

O planeta Gethen é conhecido pelo Ekumen como Inverno, porque vive em plena era glacial. E esse é o cenário inóspito que acaba por influenciar a vida e o destino dos personagens.

Parte do livro é narrada por Genly Ai, parte é formada por "documentos" e "lendas locais", que representam diferentes vozes em diferentes tempos. A narrativa intercala capítulos que trazem essas vozes ancestrais e distantes com outros que apresentam a história contada por Genly, mais linear. Achei uma construção interessante, porque não causou, para mim pelo menos, uma quebra significativa de ritmo. Muito pelo contrário, esses capítulos especiais trazem ganchos para a história que se desenvolve a seguir, ajudando assim a construir bases sólidas para o mundo criado. Fui me envolvendo de forma crescente e intensa com a narrativa e os personagens.

O segundo protagonista é Estraven, homem forte do governo da nação Karhide, onde começa a história. Vemos alguns acontecimentos pela sua perspectiva, principalmente através de um diario que ele escreve.

Uma das grandes questões trazidas pela obra é que o planeta Inverno é formado também por humanos, mas que apresentam uma sexualidade totalmente diferente da encontrada nos humanos dos outros planetas. Os habitantes de Gethen são andróginos, assexuados na maior parte do tempo, e vivem um período da sua vida fértil que lembra o cio instintivo dos nossos animais, e que na cultura getheniana é chamado de kemmer.

Durante o kemmer, os indivíduos passam por grandes mudanças hormonais. Seus órgãos sexuais, que antes ficavam ocultos, latentes, tornam-se ativos. Alguns gethenianos vão desenvolver aparência e papéis femininos e outros masculinos, e assim seguem durante todo o período de reprodução. E não acontece sempre do mesmo jeito, determinado indivíduo pode ser pai de uma criança e mãe de outra.

Essa grande sacada da autora permite que ela traga para discussão questões de gênero e de divisão de papéis na sociedade. O livro foi publicado em 1969, influenciado pelo pensamento feminista de Simone de Beauvoir e de outras intelectuais.

Mas a autora recebeu uma importante crítica que eu preciso citar aqui (é uma resposta a essa crítica que ela traz no texto de apresentação): As mulheres de certa forma foram apagadas da história. Úrsula descreve seus personagens gethenianos como homens delicados, que às vezes exercem papéis que na nossa sociedade seriam femininos. Mas não descreve um mundo com mulheres. Talvez o problema tivesse sido solucionado com o uso de pronomes neutros, mas isso já é difícil hoje, imaginem na época em que o livro foi publicado.

De qualquer forma, a polêmica não diminui a originalidade de sua abordagem. Além do mais, a obra tem personagens consistentes e fascinantes, além de muitas outras camadas.

Trata de política, poder, ancestralidade, religião, fé, diversidade, solidão, humanidade... Amor... Sim, há momentos que deixam o coração quentinho, mas não esperem nada hot, é de outro tipo de amor que a autora está falando.

No livro há também momentos intensos de crueldade, opressão e tortura. Outros de encontros e conexões íntimas. Jornadas por paisagens hostis sob um clima assustador. Cenários extremos, belos e perigosos. Manifestações artísticas, religiosas e culturais. Naves espaciais, telepatia e saltos temporais.

Ou seja, há reflexões sociológicas relevantes ainda hoje, mas também vários ingredientes de uma boa ficção científica, de uma incrível história de aventura num mundo fantástico. Como não poderia deixar de ser, tornou-se um favorito para mim.
Cleber 05/06/2024minha estante
Adorei a resenha! Um clássico da ficção científica


Vania.Cristina 06/06/2024minha estante
Obrigada Cleber! ?


Max 06/06/2024minha estante
A frustração, Vania, é que o tema escolhido pela autora deveria ter uma continuação, fica aquele gostinho de quero mais!?


Ana Sá 06/06/2024minha estante
Vania, eu li um livro da Ursula, "Floresta é o nome do mundo", e tinha ficado satisfeita... Gostei, mas não amei. Porém sua resenha me deu vontade de tentar este classicão... Quando eu quiser uma ficção científica, vou reconsiderá-lo!


Vania.Cristina 06/06/2024minha estante
Max, concordo. Fiquei com vontade de mais desse mundo e dos personagens..


Vania.Cristina 06/06/2024minha estante
Ana, eu gostei muito desse. Fico feliz que minha resenha tenha despertado o seu interesse. Se tiver oportunidade, leia sim. Grande chance de você gostar.




Pam 13/03/2022

Uma ficção científica com toques de biologia inesquecíveis.
Várias vezes lendo histórias de fantasia ou ficção científica eu sinto que os autores falham em explorar a biologia local, ainda mais considerando criaturas de outros mundos ou universos que poderiam evoluir de forma diferente da nossa. A Mão Esquerda da Escuridão ENTREGA TUDO! A gente entra num mundo totalmente diferente que foge dos nossos padrões binários, abre a mente de qualquer um.

A gente acompanha, resumidamente, o Ai, um humano que precisa convencer que o planeta Inverno entre para uma aliança galáctica. A questão é que Inverno mesmo tendo habitantes humanóides, eles têm uma biologia, e, consequentemente, cultura, totalmente diferentes dos nossos. Os conceitos de gênero basicamente não existem, porque todos tem gênero fluido biologicamente e são bissexuais (acredito que eu estou usando os termos corretamente, caso tenha algum errado eu posso corrigir depois). Todos podem engravidar (gerar filhos), ou engravidar alguém, por exemplo. Devido a isso, preconceitos de sexualidade e gênero não existem, porque todos são iguais nisso. É uma sociedade igualitária - claro que existem preconceitos, mas eles se localizam em outros escopos. É fenomenal descobrir tudo isso pelos olhos do Ai, que sente um estranhamento, e aos poucos a gente vai se acostumando igual a ele.

Além de toda essa inovação, ainda tem todo o lado político e das culturas locais sendo explorados. De quebra ainda lá pela metade indo pro final uma amizade bem legal e surpreendente é desenvolvida. O livro além de entregar um mundo super inovador, continua entregando histórias e estratégias interessantes, e relacionamentos bonitos de ler.

Vi muita gente falando que esse livro era difícil e isso quase me impediu de lê-lo, mas consegui entender tranquilamente. Algumas vezes precisei reler alguns conceitos pra entender bem, mas não foi nada que deixou a leitura lenta ou frustrante. Muito pelo contrário: é tanta coisa legal sendo apresentada que eu lia tudo de novo com o maior prazer, sedenta pelo entendimento. Pessoas que gostam de coisas diferentonas, que são LGBTQIA+ e/ou de biológicas vão se deliciar com esse livro kkk É um refresco.
Ana Sá 13/03/2022minha estante
Me motivou mais ainda! Vou tentar ler este ano! Adorei a resenha


Tatiane Alves 13/03/2022minha estante
Ahhh eu amo esse livro!!!


Pam 14/03/2022minha estante
ana, que bom que você gostou! leia mesmo, é uma experiência muito diferente e boa.


Pam 14/03/2022minha estante
tatiane, esse é pra levar pra vida, né? daqueles livros q vc nunca leu nada igual


Lorraine.Gomes 14/03/2022minha estante
Uau, pela forma q vc fala, me deu vontade de ler agora kkkkkk


Pam 14/03/2022minha estante
Lorraine, fico feliz de ver q vc se interessou! é um livro muito bomm, leia sim kkk se vc gosta desse estilo e quer algo diferente, vc vai gostar




Raphael Maia 15/04/2009

Um mundo frio e sem sexos
Desculpem o machismo mas só uma mulher poderia ter pensado nisso, Comecei a ler esse livro da maneira mais aleatória possivel.
Estava no meu horário de almoço caminhando por um sebo, quando dei com uma capa diferente dessa, era um desenho muito rustico, o que me atraiu no livro foi a junção de três fatos:
1º A arte quase rustica da capa ( Que nada tem haver com a atmosféra blasé da sociedade mostrada no livro ).
2º O titulo que só ganha significado nos ultimos momentos da história.
3º O fato de ser um livro de ficção cientifica escrito por uma mulher e premiado( machista outra vez, perdão ).

O Livro se mostrou totalmente diferente da imagem inicial que eu tinha dele, mesmo assim, jamais deixou de ser interessante, consegui me sentir um alienigena em meio a sociedade totalmente original, foi uma das mais intensas experiencias de imersão que ja tivee com um livro.

Se procura dinamismo e aventura, existem titulos melhores, mas se procura singularidade, esse é o livro.
Rafaele 28/09/2016minha estante
Adorei a crítica e os pedidos de desculpas Hahahaha O importante é a desconstrução!


Nil 16/02/2017minha estante
Gostei da resenha, gosto de ficção científica, vou colocar nos meus desejados. Obrigada por compartilhar sua opinião.


Bru 16/08/2017minha estante
Valeu pela crítica, fiquei interessada, vou ler o livro!

Concordo que o importante é a desconstrução mas numa próxima crítica só não faça esses comentários infelizes.

Ser machista e pedir desculpas não rola, apenas não seja.


Junior 22/02/2019minha estante
gente, mas não vi nada de machismo nos comentários dele.




David 06/06/2023

Essa é uma obra consagrada da ficção científica que aborda temas atemporais que continuam relevantes e desafiadores para os bichinhos mais espertos da Terra (nós). Publicado no final dos anos 60, o livro mergulha em questões como política, linguagem e o estranhamento cultural vivenciado pelo protagonista diante de uma sociedade que não se baseia em papéis fixos de homens ou mulheres.

Ursula nos faz confrontar nossas percepções e preconceitos ao apresentar um planeta (Gethen) que desafia as normas estabelecidas que conhecemos e mostra que existem outras possibilidades de existir e se relacionar. Reflexões sobre diplomacia, xenofobia e a importância da comunicação permeiam a história, abrindo caminhos para pensarmos sobre a natureza humana e nossa relação com o desconhecido.

Recomendo escrever um mini glossário no primeiro capítulo para ajudar a se familiarizar com alguns nomes estranhos que são importantes para entender a trama. Passado por isso logo no início, a leitura é fluida e tranquila, e temos um belo arco de crescimento dos protagonistas ao longo dessa narrativa de um outro mundo, povoado por humanos, onde nós somos os alienígenas.
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amandaox 16/06/2022

Olha, nunca pensei que fosse conseguir terminar esse livro, mas veio aí. Eu não quero falar mal do livro, então vou apenas dizer que não é meu tipo de história e tá tudo bem. Apesar disso, teve uma hora ali no final que até me emocionou.
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Mari Pereira 21/04/2021

Fico feliz por ter lido esse grande clássico da ficção científica, mas confesso que esperava muito mais.
Sempre pensei que eu gostasse de ficção científica, mas acho que gosto moderadamente, porque essa coisa de alienígenas, naves espaciais e planetas imaginários não é muito pra mim não. Gosto mais das distopias, um pouco mais tangíveis e próximas à realidade.
Outro aspecto que não me convenceu foi venderem a obra como um grande livro feminista. Está certo que ela faz um exercício imaginativo de pensar uma sociedade não demarcada por sexo, mas, para mim, as reflexões são muito superficiais e vejo mais um reforço de esteriótipos, a partir da visão do personagem principal, do que uma crítica feminista disruptiva. E olha que o livro foi lançado no auge da segunda onda feminista, então material para sustentar argumentos mais sólidos era o que não faltava. Nesse sentido, acredito que Octavia Butler e Margaret Atwood, ambas com obras lançadas na mesma época de "A mão esquerda...", apresentam uma crítica social muito mais potente.
Depois de superar toda a confusão inicial do livro, com as dezenas de termos e expressões inventadas, resta uma bonita história de amizade, confiança e lealdade. Acredito que esse é o aspecto mais positivo do livro.
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Max 12/09/2023

A luz...
Ao se dar conta de que esta obra de Sci-Fi foi escrita há mais de 50 anos, e sobrevivendo ao tempo, mostra sua atemporalidade.
A questão fundamental está sobre seres alienígenas que ao mesmo tempo são masculinos e femininos se alternando conforme um ciclo lunar próprio. A estranheza e dificuldade que o personagem humano da história tem de enfrentar acerca dessa característica no convívio com eles/elas, nos leva talvez a pensar que tirando nosso aparelho reprodutor o fato é que deveríamos ser, sim, masculinos e femininos naquilo que de maravilhoso há nessa diferença imposta pela força cultural de nossa civilização. 
Desta vez fiquei triste ao terminar e descobrir que não é uma trilogia, merecia uma continuação...
Interessante!
Praga.Enzo 03/08/2024minha estante
Comecei a ler hoje. Acabei lendo a introdução da Ursula antes de começa a leitura do livro, mas não tem problema pq já sabia do plot. Só pela introdução a mulher já me ganhou.




bluemoon 02/02/2022

Incrível
Um dos melhores livros de ficção que já li. No começo é difícil de entender, mas acho que é essa a intenção levando em consideração que estamos conhecendo outro planeta.
Rafael Kerr 02/02/2022minha estante
Oi. Tudo bem? Talvez você já tenha me visto por aqui. Desculpe o incomodo. Me chamo Rafael Kerr e sou escritor.  Se puder me ajudar a divulgar meu primeiro Livro. Ficção Medieval A Lenda de Sáuria  - O oráculo.  Ja está aqui Skoob. No Instagram @lenda.de.sauria. se gostar do tema e puder me ajudar obrigado.




Larissa.Cifarelli 26/07/2020

Maravilhoso
Livro que nos permite uma critica sobre questão de gênero, autora conseguiu misturar o tema e sua importância em uma ficção maravilhosa, em uma época que não era um assunto tão explorado.
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Laura Brand 27/10/2020

Nostalgia Cinza
Um clássico é um livro que ainda não terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. Essa máxima de Ítalo Calvino poderia ter sido pensada para o livro A Mão Esquerda da Escuridão. Um clássico da literatura nerd, escrito por uma mulher nos anos 60 e considerado um dos livros mais importantes da década. Saiba mais sobre esse clássico da ficção científica na resenha de A Mão Esquerda da Escuridão!

A Mão Esquerda da Escuridão é um livro diferente de tudo o que já li, tanto dentro da ficção científica quanto na literatura em geral. A androginia é abordada de forma bem interessante e extremamente criativa, deixando o leitor curioso ao longo de todo o texto. Além da própria narrativa ser bem prazerosa, gostei bastante as reflexões levantadas pela autora por meio do olhar dos personagens. Uma delas, a respeito da própria androginia, ficou comigo ao longo de toda a leitura: “eles não são neutros. São potencialidades”.

É interessante citar uma fala de Neil Gaiman, já no prefácio, porque situa bastante o leitor e mostra o que esperar do livro: “Li A mão esquerda da escuridão aos 11 ou 12 anos, e isso mudou o modo como eu olhava o mundo. Até então eu tinha certeza de que havia garotas e garotos, homens e mulheres, e eles satisfaziam os papéis que lhes foram atribuídos, porque era simplesmente o modo como as coisas são: as diferenças entre os sexos eram reais e imutáveis. Depois de ler este livro, papéis sexuais, suposições de gênero, o modo como nos relacionamos uma com os outros como homem ou mulher - todas essas coisas pareceram subitamente arbitrárias.”

Dentro da universalidade de A Mão Esquerda da Escuridão podemos observar a divisão política e a polaridade de culturas e pensamentos, a tentativa de se encaixar em uma sociedade que se torna hostil por meio da diferença entre os povos, os conflitos e dramas familiares, e a busca por conexões e laços, independente do lugar. A Mão Esquerda da Escuridão também é a história de um estrangeiro tentando se adaptar a um mundo culturalmente e biologicamente diferente, dividido em dois governos e com uma tensão palpável e latente, um panorama extremamente atual.

O livro aborda de forma interessante como nos relacionaríamos com os outros sem a barreira de gênero imposta por uma sociedade binária. Um mundo sem rótulos, mas que mantém algumas das estruturas inerentes à condição humana e/ou de indivíduos pensados de forma semelhante aos humanos.

Além disso, é interessante observar como, mesmo em um mundo onde a ideia de masculino e feminino cai por terra, ainda existem conflitos familiares, disputas de poder e desavenças, mas como isso tudo pode acontecer sem a influência da visão binária de gênero. A partir daí, os conflitos surgem mais como uma questão relacionada à diversidade de comportamentos e pensamentos, o que sinto particularmente como um refresco em meio a tantas histórias pautadas por visões binárias e estereótipos nocivos às discussões do século XXI. Como é mencionado no livro: "julga-se ou respeita-se uma pessoa apenas como ser humano. É uma experiência espantosa".

A sensação de movimento é constante ao longo de toda a leitura. Isso porque a narrativa se passa em vários lugares, estamos constantemente nos movendo com os personagens, migrando de um lugar para o outro e viajando pelo tempo de acordo com flashbacks e flashforwards que a autora escolhe nos presentear para podermos viver a história com os personagens.

Mesmo tendo em mãos uma narrativa inteligente e completa, as histórias paralelas foram o que mais me interessou no livro. A jornada de Ali e Estraven, os dois narradores principais, é bem interessante, principalmente quando acontecem os diálogos a respeito das diferenças entre os indivíduos na Terra e em Gethen, ainda mais em relação à gêneros. Mas me sentia mais envolvida quando, entre esses capítulos, podia ter acesso a contos, mitos e histórias desse povo e desse mundo tão ímpar. Fiquei curiosa para entender mais sobre a mitologia desse planeta e suas ancestralidades.

Um dos pontos altos do livro é, sem dúvidas, o mundo polarizado de Gethen. A Mão Esquerda da Escuridão é um belíssimo passeio por paisagens inóspitas, digno de um excelente cli-fi. O cenário ganha muito espaço na historia e é basicamente o que conduz a narrativa. Sempre me interesso bastante por livros que conseguem trazer a atmosfera para perto do leitor e A Mão Esquerda da Escuridão foi uma surpresa muito agradável nesse sentido.

A não ser por alguns diálogos que tratam de forma estereotipada o que representa o feminino e o masculino (algo comum principalmente se pensarmos no contexto em que a história foi escrita e dentro do segmento literário no qual ela está inserido), o livro continua extremamente atual e é difícil lembrar que foi escrito há mais de 50 anos.

A Mão Esquerda da Escuridão é um marco da ficção científica e é, além disso, uma referência para a discussão de gênero dentro da literatura moderna. O livro tem como elemento mais marcante e como diferencial a androginia, mas ela não é o foco do livro. Assim como todo clássico, A Mão Esquerda da Escuridão traz universalidades que fazem com que todo leitor, não importa a época ou o lugar, se identifique de alguma forma.


site: https://www.nostalgiacinza.com.br/2020/10/resenha-mao-esquerda-da-escuridao.html
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Wagner47 07/03/2023

Qual a primeira coisa que perguntamos sobre o recém-nascido?
Ao discutir política, conspirações, gêneros e lealdade, Ursula é brilhante.
Porém é justamente no usual que ela peca.

Genly Ai, terráqueo, está em Karhide, nação do planeta Gethen/Inverno. Sua missão é fazer com que os os karhideanos se juntem ao Ekumen, uma "associação" planetária. Para ajudá-lo nessa missão, Estraven (primeiro ministro do rei Argaven) marcará uma audiência.
Mas há um grande problema nisso tudo: Estraven é acusado de traição e banido de Karhide. O quanto isso implicará em Genly?

A autora soube criar um planeta brilhante: com própria cultura, vocabulário, sistema de horas e datas único e até mesmo a questão de relacionamentos sexuais (o que para mim é o melhor contexto do livro).

Genly, apesar de não estar banido, resolve partir para Orgoreyn, nação vizinha e rival de Karhide que disputam por Domínios. A partir daí a autora sabe movimentar a trama muito bem.

Os habitantes de Inverno são andróginos em uns 80% do tempo. Há muito esforço em diferenciar quem é homem e mulher apenas pela aparência, dois termos que para eles não existem. As caracteriscas do gênero só são evidenciadas quando estão no kemmer, processo o qual órgãos se desenvolverão. Tal processo ocorre de forma aleatória e não pode ser controlado por meios naturais. Após o fim do ciclo, sendo sexual ou gestacional, voltam ao seu normal.

Estabelecido isso, Ursula levanta uma discussão incrivelmente importante: onde está o papel do homem e da mulher na sociedade? Karhide não tem discriminação e vive em paz até em seus momentos de medo. O quanto isso é influenciado no comportamento da humanidade?
É uma abordagem incrivelmente sagaz, mas que tem um grave defeito no livro: é incrivelmente curta.

Pouco após a metade do livro, Estraven e Genly partem em uma jornada no Gelo: percorrerão quase 1500 quilômetros. O que seria um momento perfeito para construir uma melhor relação da dupla, torna-se uma descrição interminável da ambientação que é a mesma em todo o trajeto: neve. Quanto mais se lia, mais passava a impressão que estavam no mesmo lugar. Obviamente são abertas brechas e um respiro para o leitor quando um é sincero com o outro e falam a respeito de gênero, mas são pouquíssimos momentos assim. Quando penso que vai, voltamos à neve.

O livro também traz capítulos a respeito de histórias, lendas e relatos em Gethen que são maravilhosos. O único ponto contra que tenho é o posicionamento, pois em alguns deles há explicações de certos termos. Parece uma coisa boa, mas a partir do momento que o leitor é bombardeado de um vocabulário novo, talvez algum tenha passado batido nessas explicações (no caso, esses capítulos poderiam vir um pouco antes).

Ursula é bem descritiva e não tem pressa. Em grande parte não é um defeito, pois ajuda a deixar essa cultura ainda mais rica. O final também tem muitos pontos positivos. Pode dar a impressão de decepção, mas a autora sempre deixou claro do que poderia acontecer.
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lucaschristyan. 01/09/2021

Mão esquerda
A premissa do livro é muito interessante, uma abordagem totalmente diferente do que estamos acostumados quando falamos de biologia humana, extremamente atual e visionário à época em que foi publicado.

A história possui vários pontos altos com grandes reviravoltas que nos deixam totalmente aflitos, principalmente considerando a estranheza daquele mundo que o personagem principal está inserido.

Apesar de uma boa ideia, a execução da ideia deixa alguns pontos incômodos. Como por exemplo o fato da autora só jogar diversas terminologias daquele planeta sem explicar previamente, os nomes dos personagens (que pelo menos eu achei complicados de internalizar) e muitas páginas de explicações que não contribuem grandemente para a trama principal.
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Marcos.Leste 23/09/2022

Interessante...
A leitura no início pode parecer um pouco monótona....porém quando começamos a entender ao processo do romance.....entramos em um mundo emocionante onde se consegue fazer várias reflexões importantes para os dias atuais...onde se explora as relações entre gênero, sexualidade e sociedade....
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Leticia Lofiego 15/01/2021

?O inesperado é o que torna a vida possível?
A mão esquerda da escuridão é meu primeiro contato com a escrita de Ursula, e eu não poderia ter ficado mais feliz por ter conhecido essa autora que já se tornou tão especial pra mim.

Esse livro narra a jornada de Genly Ai, que sai de seu planeta de origem (Terra) e vai para o planeta Inverno (ou Gethen, nome pelo qual seus nativos o chamam) em busca de estabelecer relações e convencer as nações daquele lugar a se integrarem a Ekumen, uma organização interplanetária a qual faz parte. Ao chegar em Inverno ele se depara com uma sociedade bem diferente do que conhece, e é nessa falta de compreensão acerca dos habitantes dali que Ursula coloca diversas discussões sensacionais e muito poderosas.

O protagonista logo no início já nos faz pensar em diversas problemáticas muito complexas. Genly esquanto estrangeiro reflete pensamentos que muitas vezes são preconceituosos e dizem pouco sobre o que de fato está tendo contato. E a verdade é que esse é um comportamento comum quando se existe a necessidade de encarar diferenças. Reproduzimos nosso olhar de estranheza sobre aquilo que desconhecemos ou não somos familiarizados, podendo gerar preconceito e desavença, e a autora reflete muito sobre esses pensamentos que são intrínsecos a nossa sociedade.

A história é bem interpretativa, e a própria introdução da autora denota isso. Os eventos narrados podem não passar de um plano de fundo para as críticas e apontamentos que Ursula faz acerca dos mais diversos temas. A maneira como ela integra diversas discussões, e principalmente pensar que essas discussões estavam sendo formentadas em 1969 me deixa muito surpresa. Falamos sobre papéis de gênero, sexualidade, monogamia, dualismo, posições de poder e dominação, corrupção, mortalidade e efemeridade, oposição, verdade, fanatismo e até mesmo pronome neutro!

Ursula faz um bom trabalho em relacionar a nossa realidade e seu universo fantástico, e apesar de em alguns momentos o livro parecer cansativo ou trazer a sensação de que a história não está indo pra lugar nenhum, esses detalhes não tiram o brilho da experiência maravilhosa que é conhecer essa história.

O final do livro é uma das coisas mais bonitas que eu já li! O livro inteiro é muito lindo, a escrita dela é sensacional, mas aprecio muito o cuidado que ela tem em retratar algumas situações e resoluções finais, como ela se preocupa em colocar as coisas em perspectiva e de maneira a pensar no outro sempre.

Essa ficção especulativa, por mais fantástica que seja, não beira o absurdo. Isso porque ao mesmo tempo que está há planetas de distância, não se distancia nem um pouco de retratar os nossos comportamentos e relações enquanto sociedade. Ursula escreve: ?A ficção científica não prevê; descreve? e eu não poderia concordar menos!
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