A Sonata a Kreutzer

A Sonata a Kreutzer Leon Tolstói




Resenhas - A Sonata a Kreutzer


156 encontrados | exibindo 151 a 156
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 11


Felipe 24/04/2013

A sonata ao ciúme
A exemplo de Memórias Do Subsolo, Tolstói construiu um personagem alucinado que vai desfiando sua virulência raivosa em um monólogo inquietante. A sociedade inteira ganha um tabefe dos mais repulsivos na cara. Tolstói acusa os homens de mistificarem o sexo feminino e reduzi-lo a mero objeto de desejo, para isso ele usa todo o arsenal intelectual das artes plásticas para provar sua teoria. Existe aqui uma moral avassaladora sobre o conflito dos sexos, o personagem criado por Tolstói é um homem ensandecido por uma culpa que o degradou e engendrou em sua mentalidade uma concepção radical sobre a convivência entre homens e mulheres, concepção essa que nos deixa de sobrecenho franzido, mas que não evita de inocular em nossas ideias sérias desconfianças sobre a famigerada diferença entre os habitantes de Marte e Vênus.

Depois de quase cinquenta páginas de um monólogo enlouquecido somos introduzidos na história de fato, história contada por um narrador que merece sérias desconfianças. Henry James já nos ensinou que não devemos confiar inteiramente nos narradores e a literatura em si é uma grande maneira pedagógica de ensinar os seres humanos a desconfiarem dos discursos prontos e acabados, isso desde Hamlet. A história do homem enlouquecido pelo ciúme evoca Otelo, Dom Casmurro e as digressões infinitas de Proust sobre o tema – é um desfile louco que nos faz entrar na pele do personagem e, como fez Proust com Swann e Odette, faz o ciúme ser um sentimento do próprio leitor. Existe aqui uma novela bem acabada, com momentos brilhantes e com passagens de um virtuosismo técnico impressionante. É Tolstói, e o seu nome, como uma marca digna de prestígio, não é apenas uma etiqueta, é a comprovação de um talento gigantesco.

PS: A música é quase um personagem, explorada até os limites do psicológico.
comentários(0)comente



Manfredo 14/08/2012

Um dos melhores livros que li. Tolstoi exprime do que se trata em essência , o relacionamento homem e mulher. Da pra começar a pensar nos porquês das dificuldades de um casamento. Excelente.
comentários(0)comente



Jpg 27/07/2011

Não saber amar

Mais do que um caso de adultério. Mais do que uma visão feminista sobre o relacionamento entre homem e mulher. Mais do que um discurso de ódio contra o amor. Mais do que uma crítica ao comportamento de uma sociedade. Todos esses assuntos estão em pauta no livro, e são tratados de forma direta, objetiva. Mas o comportamento carregado de ódio e repulsão de Pózdnichev intriga qualquer leitor, do seu primeiro travessão ao ultimo ponto final - quando não vai além. E esse além é quando se pergunta se o livro realmente terminou nesse ponto final; se o que Tolstói - incrivelmente, o mesmo que escreveu "A Felicidade Conjugal" com tanta sensibilidade - se foi só isso mesmo o que ele quis dizer. Eu sei que não, esse não é mais um livro contra o casamento, contra o amor idealizado, contra mulheres que sofrem violência em relacionamentos. Esse livro é um lamento, um desabafo sobre uma deficiência fatal: a de não saber amar.
BIU VII 04/02/2012minha estante
Mas acima de tudo Tolstói escreveu a verdade. Quando não se sabe amar impera a hipocriscia e isto Tolstói escreveu com maestria. Bela resenha.


Priscilla 04/02/2019minha estante
Também vejo que é um desabafo sobre a deficiência fatal de não saber se expressar num relacionamento amoroso, não conseguir expressar desejos, frustrações, vontades, medos, sonhos, e com isso criar uma ligação afetiva entre o casal.




Lima Neto 08/06/2011

mesmo já tendo lido tanto, tanta coisa de Tolstoi, nunca li nada tão impactante quanto "A Sonata a Kreutzer". nessa história, Tolstoi eleva ao máximo algumas das principais características da literatura russa, como o "drama" e o "pessimismo".
"A Sonata a Kreutzer" é um livro que pode ser considerado como uma antítese de "A Felicidade Conjugal". neste, o autor nos surpreende com sua delicadeza, com todas as felicidades decorrentes de um relacionamento, enquanto no outro, Tolstoi, narrando a história num diálogo, num desabafo de um personagem, nos choca com o pessimismo e dramas pelos quais passamos ao nos entregar a um amor.
e como se não bastasse, o livro nos surpreende também por sua narrativa, em forma deum diálogo entre personagens, num desabafo.
comentários(0)comente



Lee 28/01/2010

Trans siberiano.
Um romance tenso, embalado em uma viagem de trem, cuja a narrativa acompanha em ritimo e intensidade uma suave viagem de trem, com direito aos seus solavancos e paradas.
Dois narradores desconhecidos dão perspectivas diferentes sobre temas tão constantes na obra de Tolstói, a traição e o amor. Um senhor conta seu relato, seu entendimento, sobre as influências e educação que o formaram e o levaram a cometer o crime que cometeu e do outro lado, um distinto senhor com convicções típicas do homem médio russo, que infelizmente (para ele e felizmente para os leitores da obra) foi pego para cristo pelo primeiro, debateu e ouviu a história do primeiro, que se mistura com o segundo que debate com o primeiro e assim cria-se o ritimo de uma narrativa engenhosa em seu fluxo simples em suas cores e profunda em seus questionamentos.
comentários(0)comente



André Sekkel 17/07/2009

A Sonata a Kreutzer

O talento de Tolstói é indiscutível, porém seu apego à moral cristã ortodoxa pode ser questionada. O escritor russo procura construir sempre personagens contraditórias, como a famosa Anna Kariênina, mas acaba sempre por ceder à moral de sua religião ortodoxa. Neste livro, A Sonata a Kreutzer, não é diferente. O assunto também não é dos mais originais: o casamento e os sentimentos de amor, ódio e ciúme vivenciados pelos conjujes.
Dando voz a Pózdnichev, Tolstói acaba se confessando perante ao público. Talvez, no século XIX, dizer as coisas como esse personagem pode ser algo novo, até revolucionário, por descortinar uma situação por todos escondida - a submissão da mulher num mundo dominado pelos homens. A questão é pertinente até hoje: os salários inferiores no mercado de trabalho, as menores oportunidades, a repressão social ainda existente etc. E é justamente isso que aparece no início do livro, o descortinamento dessa situação desprivilegiada da mulher. Pózdnichev traduz o pensamento feminino com relação aos homens da seguinte forma: "'Ah, vocês querem que nós sejamos apenas objeto de sensualidade, está bem, nós, justamente na qualidade de objeto de sensualidade, havemos de escravizar vocês' - dizem as mulheres" (p.34). E essa escravidão se resume ao mundo no qual vivemos: produz-se, mas só para as mulheres. Roupas, sapatos, jóias, música, literatura, teatro, tudo isso é feito pelos homens para as mulheres. Jogadas ao mais baixo nível social, o de simples objeto sexual, as mulheres usam o que elas têm, ou seja, o corpo, a sexualidade e a sensualidade, para escravizar os homens dessa meneira.
Portanto, se o mundo tem essas futilidades, a culpa é da mulher. "Veja o que freia em toda parte o movimento da humanidade para frente. As mulheres" (p.48). Eis o pensamento de Tolstói, traduzido por Pózdnichev. Mas por que isso? Ora, quem é culpado da queda do Paraíso? É a mulher, Eva que comeu o fruto proibido. Hoje isso pode parecer um absurdo, mas era pensamento corrente, como podemos constatar a partir dos escritos de um dos maiores escritos russos, numa sociedade como a da Rússia no século XIX. Por outro lado, Tolstói coloca em cena também uma hipocrisia: os homens, desde cedo, eram incentivados a tratar e ver a mulher simplesmente como um objeto sexual. A educação dos homens da alta sociedade russa acontecia nos bordéis, com as prostitutas. Pózdnichev até se pergunta: "Por que se proíbe o jogo de azar e não se proíbem as mulheres em trajes de prostituta, que despertam a sensualidade? Elas são mil vezes mais perigosas!" (p.36). Ainda assim, o perigo está nas mulheres.
Depois dessa reflexão sobre o espço dos dois sexos na sociedade e da explicitação da mulher como o grande mal, Pózdnichev, que está sentado num vagão de trem acompanhado de um desconhecido, seu interlocutor, começa a contar a sua história. O início é justamente os ensinamentos nos bordéis, que fazem os homens a verem as mulheres sempre desse mesmo jeito, mesmo quando disfarçadas de esposas. Para ele não existe o amor. Aliás, existe somente o amor carnal, mas este não é monogâmico. Um homem não é capaz de olhar para uma bela mulher sem a desejá-la, e isso já é um adultério segundo os versos de Matheus: "Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração (Matheus 5, 28)" (epígrafe do livro). Não é por acaso que esta é a epígrafe de A Sonata a Kreutzer. Em resumo: É impossível viver num casamento honesto, pelo menos para aqueles que não seguem as regras de deus. Para os que seguem e vêm no casamento um mistério da religião do qual precisam fazer parte, não há problemas de traíção, adultério etc. Mas no século XIX a religião não tem mais o mesmo peso que tinha no século XVI, a crítica iluminista já havia sido feita, o Estado já se secularizara e os modos de prevenção contra a gravidez já existiam. Uma mulher, esse ser inferior, libidinoso, sensual, não precisava mais ficar encarcerada em seu papel da mulher cristã, que cuida dos filhos. Não, no século XIX ter filhos já era encarado como um fardo, um sofrimento que podia ser evitado. Disso surge o ciúme do marido. E Pózdnichev não foi diferente. Teve cinco filhos com sua mulher, com quem não tinha assuntos para conversar, mas depois ela ficou fraca e foi aconselhada pelos médicos a usar um método de prevenção. A partir disso é que o ciúme do marido se apodera por completo dele. A mulher, ser insaciável, pode traí-lo com qualquer um que frequente sua casa. Esse sentimento o tortura. Como acabar com isso? A resolução é o desfecho do livro.
História de uma tragédia familiar, em parte ultrapassada, mas em parte ainda presente nos nossos dias. Talvez o melhor exemplo que podemos tirar de Tolstói, nesse livro, seja a coragem de desmascarar a situação da sociedade com relação às relações pessoais entre homens e mulheres, maridos e esposas, namorados e namoradas.
Lima Neto 07/03/2011minha estante
belíssima resenha não só do livro em si, mas também de Tolstoi.


Thiago 08/01/2013minha estante
Excelente resenha!




156 encontrados | exibindo 151 a 156
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 11


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR