Natália 13/11/2024Muito boa leituraEste livro me tirou de uma imensa ressaca literária.
Uma ficção científica real e palpável. Achei interessante o que foi escrito na contracapa: ?ficção cientifica é uma ótima maneira de fingir que você está falando do futuro quando, na realidade, esta atacando o passado recente e o presente.?
Uma vez li num bordado: ?o que vai para acontecer já está acontecendo?, e isso me remete também a esse fluxo de passado-presente-futuro pois, quando se diz estar atacando o passado e o presente, também se diz do futuro por-vir.
Este livro foi escrito em 1953, se não me engano. Em 2012, Bradbury (o autor) morreu. Li em 2024, ele não deixa de ser atual.
Numa das passagens, se retrata a sensação do personagem principal de que o céu poderia cair sobre a cidade e transformá-la em pó de giz. Me lembrei do Davi Kopenawa, liderança indígena, que nos convoca em seu livro ?A queda do céu? a refletir e agir perante esse desabamento sobre nossas cabeças.
O mundo está sendo avisado há muito tempo, e os livros podem nos ajudar a sustentar o céu.
Além disso, o livro nos mostra que o que nós procuramos não está restrito aos livros, está na vida, nos encontros, na natureza.
Mas com o tempo, muitas vezes isso se perde, e os livros são uma forma de nos lembrar.
Também fiz referencia à cultura do cancelamento atual. Os bombeiros ocupam o lugar de juízes e carrascos oficiais.
Na ditadura, é assim que acontece: o governo cumpre esse papel.
Mas o que vem acontecendo é que as próprias pessoas se colocam nesse lugar, o senso de coletivo vai se extinguindo e as relações perdendo a cor. Acredito que hoje a internet fomente bastante isso.
A trajetória do personagem principal é muito bonita pela possibilidade de mudança, mutabilidade do homem.
Uma menina, doce menina que aparece em seu caminho o ajuda a reconstruí-lo para uma direção diferente do que ele seguia a vida inteira. Montag já não era o mesmo, e não conseguia mais voltar a sê-lo.
Por fim, deixo duas citações dentre outras tantas que gostei:
?E quanto mais inalava a terra, mais se enchia dos seus detalhes.?
?Os que não constroem, precisam queimar?.
E junto delas, registro também o momento em que o personagem percebe que o fogo, além de tirar, pode dar. Tudo depende do uso que fazemos dele.