Gabriel 25/10/2024
Fahrenheit 451
Fahrenheit 451 é um livro distópico escrito por Ray Bradbury em 1953. A história se passa em uma sociedade futurista estadunidense com foco em Guy Montag, um bombeiro apático cuja o objetivo é queimar livros para evitar estimular o pensamento crítico das pessoas, visto que a população se tornou completamente contrária a qualquer produção de caráter intelectual, passando a maior do tempo com entretenimento fútil e sem valor. A sua vida muda completamente quando ele conhece uma menina singular chamada Clarisse, que diferente da maior parte das pessoas ao seu redor, reflete e questiona toda a realidade na qual está inserida, induzindo Montag a pensar no mundo à sua volta. Quando Clarisse desaparece, Montag em um ato de subversão, passa a esconder livros em sua casa, fazendo sua vida tomar um caminho insólito.
A obra de Ray Bradbury, escrita há 71 anos, consegue dialogar muito bem com o nosso presente, em especial quando fala de uma sociedade hedonista e cada vez mais repulsiva com qualquer atividade intelectual/letrada, usando seu tempo com conteúdo de qualidade duvidosa. Podemos enxergar isso na cultura pobre e vulgar em filmes, séries, músicas, jogos eletrônicos, TV, etc. Tudo é feito em buscar de um prazer momentâneo, de uma satisfação passageira, não damos mais valor ao que de fato é importante, ao que merece a nossa atenção e o nosso debate.
Um ponto curioso é que no livro essa situação se instaura por causa das próprias pessoas, da falta de interesse do público em obras intelectuais em detrimento de um sentimento de alegria efêmero e insípido e por causa da pressão de diversos grupos minoritários por representatividade em detrimento da qualidade da obra e da liberdade de expressão do próprio autor, o que é reforçado pelo Bradbury em um dos extras do livro. O que tem um fundo de verdade, visto que a maior parte das obras hoje em dia tem um viés ideológico muito forte, fazendo com que a qualidade do texto em si fique em segundo plano, tendo como consequência a censura de diversos livros, seja por contradizer a moral religiosa, principalmente a cristã, ou por trechos que possam servir de afronta a vários grupos étnicos, de gênero e sexualidade ou pessoas de baixa renda. A representatividade é obviamente importante, mas a imposição dessa abordagem em obras literárias em forma de manifesto político, como se o autor fosse obrigado a falar sobre, é um grande ponto de discordância. É um tema bem espinhoso.
Já queimamos livros antes, como na Alemanha nazista em 1933, onde foram queimados mais de 20 mil livros de bibliotecas públicas, durante a inquisição espanhola no século XV, nos EUA durante a guerra fria, na ditadura de Pinochet no Chile, os exemplos são muitos. A destruição da arte é uma violência contra a humanidade e considerando o andamento da nossa sociedade, talvez o futuro de Fahrenheit 451 não esteja tão longe assim.
Bonita edição da Biblioteca Azul/Globo Livros, sendo essa publicação contendo dois extras do próprio autor, desenvolvendo os temas abordados no livro. Meu primeiro contato com a literatura de Ray Bradbury e foi uma ótima experiência, pretendo ler mais livros do autor. Apesar de ser uma obra sombria, Fahrenheit 451 tem um desfecho esperançoso.
“Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido?”
“Nos tempos antes de Cristo, havia uma ave estúpida chamada Fênix que, a cada cem anos, construía uma pira e se consumia em chamas. Deve ter sido prima-irmã do homem. Mas, toda vez que se queimava, ressurgia das cinzas e novamente renascia. E parece que estivemos fazendo e refazendo inúmeras vezes a mesma coisa, só que com uma vantagem que a Fênix nunca teve. Nós sabemos a estupidez que acabamos de cometer. Conhecemos todas as coisas estúpidas que estivemos fazendo nos últimos mil anos. Desde que não nos esqueçamos disso, que sempre tenhamos algo para lembrar disso, algum dia deixaremos de construir as malditas piras funerárias e de saltar dentro delas. A cada geração, escolhemos mais algumas pessoas que se lembrem disso.”
“Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando. Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por alguma coisa real?”