venusy 24/01/2024
Não é sobre o velho, não é sobre o mar
Conheço muito pouco da biografia do Ernest Hemingway, mas como todo mundo que sabe como ele morreu, posso presumir que teve uma vida difícil. Não é atoa que esse livro consegue espelhar tão bem o emocional humano e trazer tantas reflexões sobre nossa índole.
Quando criança, eu costumava jogar joguinhos de celular, especialmente os que tinham desafios ou tinham como objetivo alcançar algum nível, eu na maioria das vezes não conseguia descansar até cumprir o que me propunha a fazer, passava horas e horas jogando, mas não conseguia parar. Um dia quero poder aplicar toda essa persistência e perseverança que tinha em coisas tão fúteis em coisas realmente importantes pra mim. Nesse livro, o que mais impressiona na personalidade do velhinho que temos como protagonista são essas duas qualidades, e são elas que nos fazem desejar ser um pouquinho do que ele foi durante todo o livro.
Santiago tem muito a nos ensinar sobre garra, persistência, perseverança, fé, esforço e determinação. Mesmo tão velhinho, se encontrando em uma situação decadente e miserável, e menosprezado pelos outros pescadores e pessoas que moravam na mesma vila que ele, nunca deixou de acreditar que era possível voltar a pescar um grande peixe. Santiago, depois de 84 dias sem pescar nada de valor expressivo, finalmente se viu diante de um ?peixão?, um espadarte, e ele não desistiu daquele momento em diante de conseguir o peixe.
O interessante desde o primeiro momento em que Santiago e o peixe, que viria a se tornar seu amigo e irmão, se conhecem, é que em nenhum momento o velho enxerga aquilo como uma competição entre ele e o peixe, o mar ou mesmo a natureza. Para santiago aquilo não se trata de mostrar que é superior ao mar ou provar seu valor para os outros pescadores, mas sim para si mesmo. Em nenhum momento ele pensa no que irão pensar dele quando chegar em terra e mostrar o peixe que capturou, porque para ele a batalha sempre foi entre a parte dele que desacreditava em si mesmo e aquela fagulha dentro dele que dizia que podia vencer. Nem preciso dizer que essa já é uma baita lição.
No entanto, o que impressiona mesmo são as últimas páginas do livro, o confronto com os tubarões. Quando a única coisa que sobra do espadarte é a carcaça e Santiago diz que o barco está mais leve, me peguei pensando: quantas vezes na vida não gastamos nosso sangue e nosso suor tentando alcançar algo e quando finalmente conseguimos, estamos desgastados e com um baita peso a ser carregado? E quantas vezes não nos deparamos com um problema que parece destruir tudo o que construímos, mas na verdade está nos tirando aquele peso? Não significa que foi em vão ter lutado com tanto afinco, porque é a prova de que podemos ir tão longe quanto quisermos se tivermos persistência, mas que nem sempre precisamos voltar à terra firme com um peso nas costas só pra provar nosso valor.
E na verdade essa é a maior lição desse livro porque, afinal, nenhum daqueles pescadores teve noção da batalha de santiago no mar, eles viram a carcaça do espadarte, mas não todo o sofrimento físico e psicológico, não viram os 6 tubarões que ele enfrentou. As pessoas podem enxergar nossos resultados, sejam eles bons ou ruins, mas o mais importante, o progresso e a caminhada, só nós podemos compreender verdadeiramente.