Caio Omena 22/04/2024
O homem num capitalismo tardio e falta de identidade
Não há como negar que o filme Clube da Luta (1999) foi um grande marco, não só na história do cinema americano, como também na estruturação de histórias em personagens masculinos solitários em um mundo verossímil.
Não há como falar sobre o livro Clube da Luta sem falar sobre o filme Clube da Luta.
A estética em que David Fincher exibe toda essa contradição sistemática e filosófica num mundo pós-moderno consumista desgastado pelo capitalismo, essa forma ao qual ele apresenta primeiramente o protagonista e depois o mundo a sua volta, tudo isso é um reforça da obra original.
Chuck tem uma literatura um tanto quanto inspirada pelo grande Dostoiévski, uma espécie de pessimismo existencial e político, a maneira ao qual as mulheres são escritas é bastante similar, uma espécie de revolta contraditória que tenta buscar no próprio sistema capitalista uma solução para o problema que é criado por esse mesmo sistema produtivo, ao qual gera crises, crises econômicas, crises políticas e crises existenciais.
Uma economia onde tudo acaba se tornando mercadoria, e a ideia de consumo onde o gosto será construído, mas difundido como natural do ser humano.
Essa economia vai gerar ondas e tendências, ao qual ciclicamente vemos cópias e cópias, e mais cópias de cópias. Um mundo sem alma, apenas o consumo em si.
O consumo pelo consumo. A existência para o consumo.
O capitalismo não transforma pessoas em cidadãos, transforma pessoas em consumidores.
A crise política acaba sendo instaurada num ambiente onde há crise econômica, um povo que acaba sendo perdido, e no desespero surge uma esperança, e também alguém a ser culpado, a questão é que para o capitalismo sobreviver necessita que esse culpado não seja a classe burguesa, mas qualquer outro grupo, é assim que o capitalismo sobrevive as suas próprias crises.
O fascismo é nada mais do que o botão de emergência do capitalismo.
Um povo que não se organiza para acabar com o sistema pela raiz, acaba sendo utilizado por esse sistema.
E com isso a crise existencial, que acaba sendo o ponto mais discutido da obra desde o seu lançamento.
Como encontrar a si mesmo dentro de um sistema produtivo ao qual você é obrigado a trabalhar para se sustentar? É necessário pagar por necessidades básicas como água, alimento, energia, informação e moradia?
Como viver nesse contexto? Apenas explorando o outro.
E nisso o Narrador acaba explorando a si mesmo, pondo uma figura que se põe como alguém que não deve nada à ninguém. Acaba que esse ser se põe como um tal para explorar os seus próprios irmãos, eles são apenas um meio para ele. Acabar com bancos não fará o fim do capitalismo uma realidade, só trará mais crises.
E mais crises, e mais crises?