Rub.88 09/02/2019"Romancetes"A mudança do clima em determinados períodos do ano transfigurando a paisagem e afetando o temperamento e sentimentos das pessoas que passam por esse ciclo natural. A primavera é o inicio, ou reinicio esperançoso depois de um período difícil. O verão é sinônimo de alegria, uma fase de experimentação e êxtase. No outono a melancolia, cansaço e tédio parecem não ter fim. E o inverno com seu natural retraimento a espaços fechados, traz a introspecção que faz pensar e reavaliar a vida que vive.
Equinócios e solstícios da civilização e da mente humana.
Stephen King lançou originalmente Quatro Estações em 1982. A quatro estórias, em separado, não apareceram em nenhum outro tipo de publicação. Era pratica comum que contos surgissem em revistas de literatura de vários gêneros por essa época. Mas o mestre que escreveu cada estória em períodos diferentes, no inicio da sua carreira, tinha algumas duvidas. Uma era que elas não tratavam do tema de terror, pelos menos não as três primeira, a qual ficou rotulado como gênio do gênero. Outra questão é que as estórias são maiores que contos, mas não eram romances. Ficavam no meio termo. Um limbo literário.
A primeira se chama Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank. A segunda, Aluno Inteligente. A terceira O Corpo. E a ultima O Método Respiratório. Não despertou nenhum sinal de alerta na cabeça, não é verdade? Bem, algumas dessas estórias tiveram uma versão cinematográfica. Acho que se eu falar, na ordem, Um Sonho de Liberdade, O Aprendiz e Conta Comigo o reconhecimento será imediato para alguns.
O homem preso por um crime que não cometeu vive dignamente a sua pena, criando amigos, não deixando abater-se pelo infortúnio, colaborando a contragosto com as peripécias ficais do diretor da prisão, enquanto executa um plano de fuga que demorou vinte anos para ser concluído.
Jovem esperto, estudioso e bonito. Exemplo de garoto que chega a ser idolatrado pelos próprios pais reconhece num velhinho beberrão um criminoso nazista. Mas em vez de denuncia-los as autoridades competentes, visita o ancião diariamente e o extorque, não por dinheiro, e sim para que conte detalhes dos campos de concentração.
Quatro meninos sem ter muito que fazer durante as férias escolares ficam sabendo que existe um cadáver na floresta mais ou menos perto da onde moram. Decidem por uma aventura, para ver o morto. Nisso vem à descoberta que a infância é um período bom e ruim ao mesmo tempo.
Advogado de meia idade de grande firma, sem muita expectativa de promoção é convidado a uma reunião amistosa num lugar que ele denomina como um clube de elite muito restrito. Porem lá as estórias contadas são de um tipo diferente das que sempre são lembradas nas conversas de corredor e nas festas formais. E o ambiente parece exigir que essas estórias só pertençam a esse lugar. Sinistro.
Só o ultimo conto, que tem o tamanho certo para chama-lo assim, ainda não virou filme. Ainda, pois já tem conversas para uma produção em 2020.
Os outros são clássicos do cinema. Talvez o menos conhecido seja Aluno Inteligente/O Aprendiz. Mas é um grande filme. O nazista é nada mais nada menos que Sir Ian McKellen, antes da fama mundial com X-men e O Senhor dos Anéis, e o jovem esperto era Brad Renfro que infelizmente morreu cedo.
Essa coisa de ler o livro depois de assistir ao filme tem uma grande desvantagem. E não são as mudanças de ordem dos eventos, de diálogos, de ritmo e tema central das estórias. São os personagens. O modo como agem e as feições que tem.
Toda a descrição da aparecia deles são inúteis. Eu descartava qualquer detalhe que King escrevia para caracterizar o personagem e substituía pelo o rosto do ator que o interpretou na tela grande. Red, de Um Sonho de Liberdade sendo ruivo e de origem irlandesa? Nada disso; ele é o Morgan Freeman!
Todas as estórias são sobre o tempo. São narradas totalmente ou em parte como memorias. O passado relembrando para ser celebrado ou amaldiçoado. É como acompanha a descoloração das folhas da arvore da vida. O verde quase transparente que vai escurecendo, ficando marrom, ressecar e cair. Se a planta não morrer, outras folha viram...