Adriana Scarpin 05/01/2014Bíblia feministaPor onde eu começo? Falando que finalmente achei uma bíblia pra chamar de minha? Como essas edições estão divididas em dois livros, esse que acabei de ler equivale ao Antigo Testamento, rá!
O Livro é dividido em três partes:
Parte 1 – Destino: Dividido em três capítulos, no primeiro fala-se sobre as bases biológicas das diferenças entre homens e mulheres e o quanto essas diferenças são ínfimas para justificarem um tratamento social diferenciado. No segundo é específico para destruir a teoria psicanalítica como uma teoria válida aos estudos de gênero e já evidencia uma simpatia de Beauvoir por Alfred Adler e um certo desprezo por Sigmund Freud, mesmo porque Adler era um dos raros feministas das primeiras décadas da psicologia. No Terceiro capítulo, Beauvoir aborda o feminismo do ponto de vista do Materialismo Histórico e tudo que é incompatível com ele, muito embora Marx e especialmente Engels vissem na mulher um sujeito tão oprimido quanto qualquer operário.
Parte 2 – História: Dividido em 5 capítulos que falam do tratamento da mulher através da história e filosofia, ficamos sabendo de indivíduos que foram realmente sexistas e até misóginos como Aristóteles, Hegel, Rousseau, Comte, Proudhon, Napoleão, Hitler e Pitágoras, aqui passa-se a falar da Mulher sendo sempre considerada O Outro e não um Sujeito. Ao passo que se cita alguns pensadores que foram homens feministas como Diderot, Voltaire, Engels, John Stuart Mill, Lincoln, Lênin e Stendhal.
Parte 3 – Os Mitos: Dividido em três capítulos, no primeiro Beauvoir se dispõe a falar dos arquétipos femininos que se concretizaram em função dos homens, desde arquétipos religiosos até puramente mitológicos que foram apropriados pelos homens para serem usados na opressão feminina. No segundo capítulo são analisados 5 autores e como o feminino é tratado em suas respectivas obras, o primeiro é Motherlant (que eu não conhecia e pelo que Beauvoir falou nem tenho pretensão de conhecer) que se enquadra como misógino, o segundo é D.H. Lawrence que é enquadrado como falocêntrico, o terceiro é o Paul Claudel (o irmão de Camille) que se enquadra como sexista bíblico, o quarto é o Breton se enquadrando como preservador da mulher enquanto Outro e finalmente, o quinto é Stendhal que usava sua literatura para descrever mulheres completas e plenas como Sujeito independentes do Homem. No terceito capítulo Beauvoir usa para colocar Motherlant, Lawrence, Claudel e Breton num mesmo balaio, o de não conseguirem se abster de colocar a mulher como um ser colocado no mundo para ser uma extensão dos homens, ao passo que Stendhal dá autonomia à mulher.
Enfim, eu tagueei esse livro com o pouco usado fucking masterpiece, porque simplesmente é uma obra prima e a Simone de Beauvoir é um gênio, sabendo dosar a teoria de Merleau-Ponty, Heidegger e, óbvio, Sartre para o deleite da causa feminista.
“Reconhecer um ser humano na mulher não é empobrecer a experiência do homem: esta nada perderia de sua diversidade, de sua riqueza, de sua intensidade, se se assumisse em sua intersubjetividade; recusar os mitos não é destruir toda relação dramática entre os sexos, não é negar as significações que se revelam autenticamente ao homem através da realidade feminina; não é suprimir a poesia, o amor, a aventura, a felicidade,o sonho: é somente pedir que as condutas, os sentimentos, as paixões assentem na verdade”. - Simone de Beauvoir