leo 13/01/2023
"De Profundis"
Lispector, habilidosa em tocar vielas profundas de nossas almas que escondemos até de nossos próprios corpos, guarda todo mistério que manteve em vida em cada de suas obras, inacreditável que tenha escrito esta ainda menina, estudante, aos 23 anos, cursando direito. Inacreditável.
Joana, a "víbora", exibe parte de todos nós em sua astúcia e impulsividade, age por agir, faz por fazer e diz por dizer. Que mal há nisso?
A obra em seu todo gira ao redor da vida da própria, aquela que desde menina pensa de um jeito tão particular, de um jeito tão poeta, tão artista. Ao receber uma passagem a se adentrar em toda introspecção da protagonista, tão desejada a ser revelada por àqueles que a conhecem, nos deparamos com a visão que Joana apresenta, e a figura sensível e diminuta que lhe habita, a maneira em que ela passa cada instante na busca de responder a questão "O que acontece depois que se é feliz?" e tantas outras que lhe surgem, de maneira que se torna impossível não vir a se questionar juntamente, Joana é nossa figura interior em uma só, Joana que por tanto pareceu "maluca" em seus pensamentos tão profundos é um reflexo de meu próprio eu em seu questionamento por muito vazio, de tantas questões, a vida e a morte, o amor e o ódio, o luto, a fé, a traição, a solidão, a perda, e o adiante de todas elas, o que vem depois? Aí está, o ponto de partida da felicidade.
Joana atrelada a solidão, órfã de pais nova, rejeitada pela tia pelo roubo, pela sua capacidade observadora que manteve em toda a vida, por sua personalidade inevitavelmente e mais oposta a arrogância porém de absurda superioridade em qualquer relação, [SPOILER] traída pelo marido, que engravidou a amante, encontrou também um novo amor, que a deixou, e assim, indo adiante de sua busca desde o início, morrendo, prestes a renascer novos horizontes dos quais deixa em aberto ao leitor onde, quando e com quem
Mas algo é certo, Joana nunca deixara e nem deixará de lado seus pensamentos sobre tudo aquilo ao seu redor.
Escrita magnífica, me encantou da primeira a última palavra, me fez decidir que cada obra de Clarice merece a passagem calma de meu olhar. História tocante, que adentra nossa alma em áreas das quais escondemos de nós mesmos.
Profundo. Intenso. Verdadeiro.
A melhor relação que já tive em toda literatura.