Larissa 17/02/2024
Da Transição literária: Uma mistura de romance e realismo
Machado de Assis, nasceu na ladeira Nova do Livramento, no Rio de Janeiro, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira. Pouco se sabe sobre sua infância e adolescência. Acredita-se que tenha ganhado contato com os clássicos e grandes obras literárias por intermédio de sua madrinha a Sra. Barroso. Escreveu para folhetins, conheceu e fez amizades com grandes escritores de sua época como José de Alencar. Foi casado com Carolina e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, que foi fundada em 1896. Em 1904, perdeu sua esposa Carolina o que o deixou em profunda melancolia até os quatro anos anteriores a seu falecimento. Em 29 de setembro de 1908, ele falece cercade de seus amigos, intelectuais e escritores da época.
Esse livro conta a história de uma família da elite do Rio de Janeiro, cujo patriarca falece e deixa uma herança reconhecendo como herdeiro não só seu filho legítimo chamado Estácio e sua tia-irma D. Ursula, mas também uma filha tida fora do casamento chamada Helena. Helena é vista inicialmente como uma interesseira, farsante e aventureira, mas que aos poucos acaba cativando toda a família com seu afeto, carisma, sua personalidade e inteligência. O romance tem uma problematização que tirará a paz dos personagens, que é vista como uma situacao na qual não há solução e um desfecho surpreendente, típica dos romances, com uma descarga sentimental.
"Aquele homem gastará muito mais tempo do que nós em caminhar. Mas não é isto uma simples questão de ponto de vista? A rigor, o tempo corre do mesmo modo, quer o esperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muita coisa no menor prazo; é fazer muita coisa aprazível ou útil. Para aquele preto o mais aprazível é, talvez esse mesmo caminhar a pé, que lhe alongara a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se é cativo. É uma hora de pura liberdade".
Nessa edição maravilhosa da antofagica, temos como textos complementares o de Maria Júlia Rego, a ilustradora da obra, que fala sobre sua motivação para criar a arte dessa edição. Maria utiliza a gravura como forma de rememorar o tempo histórico no qual Machado escreveu o livro, prestigiando uma de suas profissões, a de ajudante de tipógrafo que fora esquecida propositalmente na sociedade de elite na qual viveu.
O segundo texto é de Adriana da Costa Teles que é pós-doutora em literatura comparada pela USP, ela cita as influências Shakespeareanas nas obras de Machado, que utiliza especialmente das tragédias para criar intextextualidades que não são simples citações, mas que serve para criar um diálogo com situações nas quais seus próprios personagens vivem, criando uma recontextualizacao. Além da questão patriarcal, contraditória e moralista que envolve toda a trama.
O terceiro texto é de Rogério Fernandes dos Santos que é professor de teoria literária e literaturas de língua portuguesa na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) e doutor em Letras pela USP, com tese sobre o romance machadiano. Além de falar sobre as questões do patriarcado e do conservadorismo que é da época em que o romance está inserido, ele também mostra como a questão dos livros que pertencem aos personagens fala sobre a questão social e da personalidade de cada um, um texto muito interessante.
A edição da FTD de 2013, também é muito boa. Além de esclarecer essa questão de ser um romance de transição com nuances românticos e realistas, possui varia imagens do autor, do primeiro livro impresso, do jornal O globo no qual a obra foi publicada nos folhetins de capítulo em capítulo. Vale ressaltar que naquela época a obra só se tornava um livro impresso se fizesse sucesso nos folhetins, diferente de hoje em dia. Narra um pouco da história do romantismo no Brasil e a biografia do autor.
Eu gostei da experiência de leitura, que foi muito rica não só pelos textos complementares mas também pela vídeo aula disponibilizada pela antofagica que é muito rica, aumentando muito o nosso repertório de aprendizagem. Essa não é minha obra favorita do Machado, mas mesmo sendo catalogada como pertencente a geração do romantismo, a obra na verdade é um misto, pois também em seus primeiros romances o autor já colocava em seus textos um pé do que viria a ser sua segunda fase, que seria o realismo. Então existe uma crítica aos padrões da época sim, porém de forma mais sutil, que requer atenção do leitor. Ao notar esses detalhes acabei apreciando mais a leitura. Recomendo muito esse livro, a edição também pois os textos de apoio são maravilhosos e enriquecedores.
Nota: três estrelas e meia.