Vini 05/09/2023
Profundo, triste e muito real
Nem sei exatamente o que escrever sobre Helena, eu que estava acostumado a ler um capítulo por dia e muitas vezes com esforço, li os últimos capítulos em um golpe só, de tão preso as últimas revelações da narrativa. Definitivamente, é um livro bem folhetinesco, como alerta Machado de Assis em sua introdução, bem parecido com uma novela.. com uma construção longa e bem cotidiana, que tinha os seus maiores pontos altos na psicologia aprofundada e as descrições interessantíssimas de costumes e jeitos das pessoas e da própria época.. nos últimos capítulos, toda a história minuciosamente construída, ganha um sentido chocante.. em ambas as partes da narrativa, Machado não poupa doses fortes de realidade, tanto as comuns a sua época e a época do livro, como as convenções antiquadas e os grandes problemas da humanidade tal como a escravidão e a grande desigualdade, quanto as ambições humanas, que não mudaram nada apesar do passar de séculos e com o advento de novas ideias e conhecimentos. A última parte desnuda o livro como uma grande crítica e talvez um doloroso protesto, de como a desigualdade entre as pessoas, classes e bens, permanece apesar de riquezas, heranças e reconhecimento, sendo que as mais profundas desigualdades habitam no próprio espírito e destino.. um retrato triste e talvez um protesto frente aos problemas persistentes na nossas sociedades. Helena, moça inteligente, graciosa e espirituosa, despojada de grande herança e riqueza, seria ela mesmo assim, capaz e possível, de ser digna do sagrado nome da família?