Gabriel Oliveira 05/11/2022Um Guimarães Rosa breveOs contos curtos de Guimarães Rosa reunidos nessa obra são chamados de estórias, palavra que deriva da língua inglesa para denominar os contos e relatos breves, geralmente de tradição oral, folclórica.
Para quem já leu Grande Sertão Veredas ou Sagarana, não há muito de novidade nessa obra aqui. Na verdade, acho que esse livro é bem menos conhecido justamente por conta de um padrão que se repete nos contos, e que parece mostrar a intenção não tão explícita do autor: é uma obra mais experimental.
O prefácio de Paulo Rônai é extenso e bastante analítico, e ilumina muita coisa do que irá vir. Ali o famoso tradutor húngaro já deixa claro que vamos encontrar contos que, além de sua linguagem completamente inventiva, possuem um enredo que não privilegia o clímax, que termina em apaziguamento e resignação. Isso pode ser um defeito para os acostumados com plot-twists, mas não tira o mérito da obra.
O maior defeito, para mim, de Primeiras Estórias, é um certo ar de laboratório que os contos possuem aqui. Tenho a sensação de que Rosa estava escrevendo e guardando todos esses textos como espécies de rascunhos, onde uma obra seria carregada num certo elemento (por exemplo, linguagem pedante) enquanto outra seria carregada pelo humor; outra, seria mais puxada para o drama existencial.
É essa a sensação que dá quando você coloca lado a lado obras como Famigerado e A terceira margem do rio. São obras super desiguais. Aliás, tirando o segundo conto citado, o livro perde quase toda a sua potência.