Marta 08/08/2024
“Você se acostuma com sua voz e fala com ela porque não há outra alternativa.”
Esse livro foi presente de um dos meus filhos e adorei a edição da DarkSide e claro a leitura do livro. Esse livro foi originalmente publicado em 1963 e continua a fazer sucesso, inclusive esteve por anos esgotado no Brasil. Também foi adaptado para o cinema duas vezes. Nessa edição o prefacio foi escrito por Stephen King e já vou recomendar se não quiser spoiler não o leia antes do livro. A história é bem interessante, o autor colocou só dois personagens: o sequestrador e a sequestrada. A primeira parte do livro traz Frederick Clegg um homem solitário, que coleciona borboletas. Obcecado por Miranda Gray, jovem que ele acompanha e observa de longe, ele encontra a oportunidade de tê-la em sua vida quando ganha na loteria e passa a planejar o sequestro da moça. A narrativa em primeira pessoa, primeiro dada por Clegg, depois por Miranda, não apenas demonstra as diferentes perspectivas de um e de outro, mas permite tanto ao leitor penetrar no mais íntimo de cada protagonista quanto permite à Miranda um mínimo de libertação, já que ela, dessa forma, tem direito à própria voz. O autor explora a tensão dada pelo embate psicológico dos protagonistas: eles são sequestrador e vítima; homem e mulher, o que é relevante especialmente pelas muitas declarações machistas de Clegg e pelo fato de Miranda enfrentá-lo. Por fim, há também a tensão gerada no leitor em relação aos sentimentos criados pelas personagens em um jogo antagônico de encantamento e repulsa, é até possível se afeiçoar a Clegg em certo grau, mesmo o odiando, fazendo com que compartilhemos com Miranda certa Síndrome de Estocolmo. Eu particularmente gostei mais da primeira parte do livro, mas isso não quer dizer que não gostei da segunda. É uma leitura tensa e em alguns momentos angustiante, mas vale cada página lida.