Leticia Teofilo 16/04/2023
Me chame de Moby Dick
Me chame de Ismael, é como começamos essa incrível e longa jornada de caça a baleia Moby Dick.
Herman Melville, autor estadunidense, escreve Moby Dick em 1849, leva um ano e meio para escrever a obra, e sua publicação é feita em 1851. Não foi bem recebido na época, sendo valorizado somente no século seguinte, a partir da segunda década do século XX, quando autores e pesquisadores resgataram a obra, colocando-o como cânone da literatura norte américa. Melville, foi marujo de navios baleeiros e é a partir desse fato, que ele tem inspiração e a experiência para escrever Moby Dick. Outro fator que o inspirou foi a trágica história no navio Essex, contada no livro "No coração do mar" de Nathaniel Philbrick, (recomendo a leitura do livro somente após o término de Moby Dick, por conter spoilers da obra).
A escrita de Melville é linda e de fácil compreensão.
O livro é narrador por Ismael, um jovem que deseja ingressar no mundo de caça às baleias. O acompanhamos em sua primeira viagem baleeira, no Navio Pequod, chefiado pelo capitão Ahab, que teve sua perna arrancada pela grande baleia branca. O capitão é obcecado por um reencontro, para sua vingança a baleia Moby Dick, estando disposto a sacrificar a sua vida e a de sua tripulação nessa jornada.
"E o mais impressionante na história dos fanatismos não é o incomensurável autoengano do próprio fanático, mas o seu incomensurável poder de enganar e atormentar tantos outros." (Página 401)
Ismael é quem escreve o livro, como um testemunho da viagem. A partir do ingresso no Pequod ele "sai de cena" e apenas descreve os acontecimentos como um narrador oculto. Assim como a baleia, o livro é gigante, são 135 capítulos, como o próprio narrador diz: "Do tronco, multiplicam-se os galhos; deles, multiplicam-se as ramificações menores. Do mesmo modo, quando o assunto é fértil, multiplicam-se os capítulos." (Página 372)
Em meio aos acontecimentos, o narrador faz pausas na história para escrever ensaios sobre diversos assuntos referentes à caça às baleias, o que para alguns leitores possa parecer tedioso. Mas nada está ali atoa, tudo tem um propósito e a escrita do Melville deixa qualquer capítulo interessante.
O autor escreve algumas partes num formato de peças e referências a Shakespeare, principalmente Hamlet, Macbeth e Rei Lear, possui também muitos paralelos bíblicos, referências ao antigo testamento, além de referências de mitologia.
Queria destacar o capítulo 81, "O pequod encontra o Virgem" (na edição da Antofágica, sei que em outras edições a tradução ficou diferente). É o meu capitulo favorito, senti um mix de emoções, me diverti e me emocionei com as cenas descritas, muito por conta dos capítulos anteriores sobre os olhos das baleias e as ilustrações dessa edição. Então nada no livro está ali por um acaso, cada ensaio do Ismael tem um propósito.
O Melville sempre encerra os capítulos de uma forma impactante, o que me fez buscar sempre a conclusão.
Por fim, na minha opinião, a leitura desse livro precisa ser lenta, para poder apreciar cada capítulo da forma correta. É preciso ter paciência e tempo para se dedicar a ela. Que dessa forma a leitura será muito mais proveitosa!
Espero tê-lo encorajado a enfrentar a temida Moby Dick, por que a longa jornada vale a pena! Já planejo a releitura.