Janaine.Mioduski 28/09/2020Um mergulho na alma humanaQuando o primeiro encontro com um escritor se dá em um livro fabuloso, dificilmente você irá deixar de ir atrás de mais. Os Irmãos Karamázov, primeiro livro do Dostoiévski que li, é muito mais do que o retrato de uma época, do que um vislumbre do coração e da mente dos personagens, é um mergulho na alma humana. É impossível não se identificar com um ou outro personagem, não carregar suas aflições, não refletir suas dúvidas, não entender os seus momentos de angústia. Não é, de modo algum, um livro pelo qual saímos incólumes.
Cada um dos personagens é retratado em um nível de detalhamento que facilmente os imaginamos como pessoas de carne e osso, colocamo-nos em seu lugar sem perceber. Criaturas complexas, que carregam os vícios e virtudes de toda a humanidade.
"Acima de tudo, evite toda mentira, principalmente a mentira a si mesma. Observe a sua mentira, examine-a a cada instante. Evite também a repugnância aos outros e a si mesma: o que lhe parece mal, aí dentro, é purificado pelo simples fato de percebê-lo. Evite também o medo, que é apenas a consequência da mentira. Nunca tema seu próprio temor na busca do amor; não tema demais nem mesmo as suas más ações".
"E o que resulta desse direito à multiplicação das necessidades? Entre os ricos, a solidão e o suicídio espiritual; entre os pobres, a inveja e o assassinato, pois lhes conferiram direitos, mas ainda não lhes indicaram os meios de satisfazer as suas necessidades. Garantem que o mundo, abreviando as distâncias, transmitindo o pensamento através do ar, vai se unir cada vez mais, que a fraternidade reinará. Ai! Não acreditem nessa união dos homens".
"O destino dos répteis é devorarem-se uns aos outros".
"Os homens levam toda essa comédia muito a sério, apesar de toda a sua inteligência indiscutível. É aí que mora o drama humano. Ah, bem, eles sofrem, com certeza, mas... em compensação, eles vivem, vivem realmente, não fantasticamente, pois é o sofrimento que é a vida. Sem o sofrimento, que prazer haveria na vida? Tudo se transformaria em uma eterna missa de ação de graças: isso seria muito piedoso, mas muito chato".