Tarciano 18/11/2024
Impressões...
Minha primeira impressão é a de não entender como passei tantos anos dentro da universidade e somente agora tive condições de ler esse clássico na íntegra.
Com isso, gostaria de começar destacando o impacto que foi a colonização no espírito e na formação do indivíduo africano, especialmente no contexto do intelecto e da subjetividade. Pois, a ideia de uma sociedade baseada na autonomia e no individualismo, tão defendida pela burguesia colonialista, mas até hoje por muitos, é questionada nas primeiras páginas a partir da vivência do colonizado na luta de libertação (p.65). O intelectual colonizado, ao confrontar-se com a realidade do povo e suas lutas, vê desmoronar os ideais que antes sustentava, como o egoísmo e a falsa superioridade do pensamento individualista.
Como professor de filosofia, digo que é fundamental refletirmos sobre essa crítica, que revela a falsidade das construções ideológicas que priorizam o indivíduo isolado em detrimento da coletividade.
Em sua análise, Fanon nos convida a perceber como a verdadeira libertação só pode ser alcançada pela superação da falsa consciência cultivada pela dominação colonial europeia, cujos ideais ainda persistem no imaginário das sociedades colonizadas, inclusive a nossa brasileira.
Ressalto que a luta pela emancipação do povo colonizado, longe de se limitar à independência política, exige uma transformação profunda das estruturas mentais e sociais que continuam a reproduzir a opressão. Vejo isso quando
Fanon aponta que, após a libertação nacional, o povo é chamado a enfrentar novas formas de opressão: a miséria, o analfabetismo e o subdesenvolvimento. A luta continua, e o povo se depara com a constatação de que a vida é um combate interminável (p. 111).
O intelectual colonizado, ao escrever para o seu povo, deve usar o passado não para alimentar nostalgia ou perpetuar uma identidade derrotada, mas para abrir as portas do futuro, convidando à ação e à construção de um novo caminho. A responsabilidade do homem de cultura colonizada não é apenas diante da cultura nacional, mas uma responsabilidade global, no sentido de entender a sua nação como parte de um coletivo maior, da nação global (p.267).
Por isso, convido a todos(as) para leitura de Franz Fanon, cujas obras nos desafiam a compreender as complexas relações entre colonização, cultura e liberdade. Ele propõe uma visão radicalmente transformadora, que exige o questionamento das ideologias dominantes e a construção de uma nova consciência, capaz de enfrentar os desafios da modernidade e da globalização, a qual inventou o negro.
Para além do já dito em todos os sites e comentários, penso que a leitura de Fanon é um passo importante para aqueles que buscam compreender a luta pela emancipação, não apenas política, mas também cultural e espiritual.