Senhora D. 07/01/2010Uma obra de caráter nacional e antropofágico é a rapsódia Macunaíma, de Mário de Andrade. Em Macunaíma sentimos o povo que habita as terras brasileiras. Originou-se do aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas populares e elementos do folclore nacional.
O protagonista – o herói sem nenhum caráter – é uma personagem amorfa que o prazer e o medo vão conduzindo pelos mais intrincados caminhos. Desde o nascimento, em plena floresta amazônica, até a chegada em São Paulo, Macunaíma passa por uma série de aventuras cômicas, lembrando muito bem o gênero picaresco. Na grande cidade, procura o talismã que Venceslau Pietro Pietra (o gigante Piamã) lhe havia furtado. Acompanhado de seus dois irmãos, Maanape e Jiguê, consegue o talismã depois de muito esforço. Volta, então, para a Amazônia, onde participa de novas aventuras e morre. Macunaíma, depois da morte, transforma-se na Constelação Ursa Maior.
O herói apresenta traços bem definidos ao longo do texto, como a preguiça, o deboche, a irreverência, a malandragem, a sensualidade, o individualismo e o sentimentalismo. Entretanto, o caráter do herói muda de um episódio para outro, o que justifica qualificá-lo de “herói sem nenhum caráter”. Vale notar que muitos dos defeitos e qualidades de Macunaíma são atribuídos ainda hoje como parte do caráter do brasileiro. Macunaíma é uma expedição pela cultura nacional, uma tentativa de colocar em discussão a identidade brasileira através de folclore e literatura.