spoiler visualizarVal 01/01/2017
É doce morrer no mar
"...Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia."
Tendo como trilha sonora as canções tristes dos marinheiros e pescadores do cais de Salvador, Jorge Amado conseguiu criar um cenário mais que realista para sua trágica história de amor - "Mar Morto" se passa num ambiente semelhante aos ambientes dos poemas clássicos da antiguidade, aos quais Amado certamente conhecia, pois era leitor contumaz.
Assim como Ulisses, o marinheiro Gumercindo ou o mais conhecido Guma, enfrenta os perigos que o mar oferece sem abandonar o seu destino. Só que o seu destino é diferente do herói grego, Guma não queria voltar para casa como Ulisses, mas trabalhar duro para um dia morrer sob o desígnio dos deuses; ou melhor, da deusa das Terras do Sem Fim: Iemanjá.
Aiocá é apenas um dos seus cinco nomes. Além de Princesa de Aiocá e de Iemanjá, também a chamam de Janaína, de Inaê, ou simplesmente Maria, também. Essa rainha dos mares poderosa e ciumenta exige que seus filhos venham ao encontro dela no fundo do mar. E aí já viu, né? Não adianta rezar, implorar - ela vai descarregar sua fúria nas águas quando bem entender para, enfim, recolher suas oferendas na forma de corpos dos marítimos.
Desta feita, ficam em terra as mães e as esposas, como Lívia, mulher de Guma. Ela que passa os dias aflita porque sabe que seu homem mais dia ou menos dia vai morrer no mar, e ela nada pode fazer para impedir. Porque todos os moradores da beira do cais sabem e nem fazem nada para mudar porque:
"É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar..." Dorival Caymmi