Madame Bovary

Madame Bovary Gustave Flaubert




Resenhas - Madame Bovary


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Tábata Kotowiski 06/12/2010

Madame Bovary conta a história de Emma, uma moça criada no campo mas com sonhos burgueses. Inspirada pelo que lê nos livros, Emma quer uma vida melhor, cheia de mimos e coisas que só os ricos podem comprar. Pensando que poderá alcançar o que tanto quer, Emma casa com Charles Bovary, um médico também do interior. Charles ama Emma apaixonadamente mas por ignorância não dá valor as coisas que a Emma dá, não vê a beleza como Emma vê e é, na visão da própria, extremamente entediante. Tentando suprir essa falta que o sonho de uma vida melhor faz, Emma procura em outros homens o alicerce para os seus desejos. Resumindo: Emma é uma safadénha.

No início do livro, logo depois que Emma casa com Charles, que é quando sabemos da sua urgência pela aventura e pelo que é diferente, requintado e belo, fiquei com pena de Emma. Acho que ela é o reflexo de muitas mulheres, inclusive as modernas, que são presas ou pela família ou pelo marido ou pela sociedade e não podem vivenciar as suas paixões. Acontece que durante a leitura, a medida que Emma se torna mais difícil de ser agradada, apesar das tentativas constantes do marido e dos amantes, Emma se torna chata. Dá vontade de esganar Madame Bovary, aquela safada. E no final do livro, a gente quer é mais que o Senhor Bovary dê uma pé nas nádegas da Madame e mande ela pastar, porque ô criatura difícil de agradar, sô.

Gustave Flaubert escreveu Madame Bovary primorosamente e maravilhosamente bem. Já que o livro tem poucos diálogos, grande parte dos acontecimentos são totalmente narrados mas isso não o torna um livro entediante. Flaubert não abusa das descrições (não é um Eça de Queiroz, thanksgod) e a narrativa flui. Dá para ir imaginando tudinho dentro da cachola. Há livros que tem poucas descrições dos personagens e do cenário, daí fica difícil imaginar como o autor os imaginou quando os escreveu. Com Madame Bovary dá para imaginar cada expressão de Emma, cada atitude de Charles e todo o ambiente onde a história se desenrola. Eu ainda tenho na cabeça como é a casa do casal :) É muito bom!

Madame Bovary foi escrito em 1857 e foi considerado um escândalo na época. Imaginem! Sem falar no adultério de Emma, um ultraje para a época, o livro critica muito a igreja e a burguesia. Flaubert foi a julgamento diversas vezes pelo romance e em uma de suas defesas, Flaubert declarou Emma Bovary cest moi (eu sou Emma Bovary), falando assim da sua própria indignação com o clero, a sociedade e as coisas mundanas. Apesar das acusações, Flaubert nunca foi preso.

Quem tiver a oportunidade de ter o livro nas mãos, ou quem já tem na estante e nunca leu, eu digo, leiam. Leiam porque vocês vão adorar. Não liguem pra Emma, coitada. Ela é bem doida varrida, louca de pedra mas vale cem por cento da leitura, é claro.

:D

p.s. e update: escrevi essa resenha em 2010! Se tivesse que reescreve-la agora em 2017, seria algo muito diferente. Tenho uma visão feminista que simplesmente não existia há 10 anos, então nunca descreveria Emma como safada ou doida de pedra. E penso que teria muito mais pena dela do que tive na época.
Pensei em excluir a resenha mas ela mostra o que achei do livro na época, vale como arquivo histórico... hahahahaha Quem sabe uma releitura e uma nova resenha num futuro próximo?

site: randomicidades.wordpress.com/
Mayara Freitas 03/02/2011minha estante
huahauha...safadénha..essa foi engraçada..fiquei com vontade de ler o livro!!


Maíra Munaretto 03/03/2011minha estante
ótima resenha!


Alexandre 08/05/2011minha estante
Ótima resenha. O livro é isso tudo mesmo. Inclusive o que você disse sobre Emma é veridico, Safadinha mesmo! Houve momentos em que eu fiquei com muita raiva dela. Em outros com pena.
Se me permitem, gostaria de dizer que não gostei do final. Porém o que torna um final bom é que ele se pareça com a realidade ? não é mesmo? Nem conto de fadas, nem tragédia; algo satisfatório para o leitor.


Gustavo 11/11/2011minha estante
Adorei a sua resenha! Exceto sobre Emma. Eu gostava dela (risos). Principalmente qdo ela bate de frente com a Sra. Bovary mãe dizendo que ela é uma velha retógrada (risos...) - dizendo o português claro e atual -. Claro que Emma era do bafo. Deveria ser uma sargitáriana (risos). Mas faço de suas palavras as minhas para recomendação do livro.


Gi Marques 03/01/2012minha estante
Adorei sua resenha! Me deu uma super vontade de ler, hahahaha! Ainda mais pelo "Não é um Eça de Queirós", porque senhor Queirós que me perdoe, mas o senhor fala demais... rs
Ótima resenha!


Glaw 09/10/2012minha estante
adorei sua resenha...ja li esse livro e concordo completamente com vc...é um otimo livro e recomendo que leiam... é uma historia que prende a atenção e faz com que o leitor viaje por suas paginas....bom de mais.


Marina 09/03/2013minha estante
Eu tenho este livro, fiquei com vontade de ler mas não peguei porque não sabia se era realmente bom. Sua resenha me fez decidir. Parabéns e obrigada!


meniniinha 15/08/2013minha estante
Tata Kotowiski, eu AMMMEEEEEEEEEEIIIIIIIIIII a tua resenha!!!! Nossa!!Vc descredeu o teu ponto de vista, de modo que incite qualquer pesssoa ler a obra, Madame Bovary!!!Pela tua bela resenha deveras o livro merece ser lido!!!


Andye 22/09/2013minha estante
Sério? Eu tenho. Li. Mas pra mim foi massante. Gostei tanto da tua resenha que depois dos inúmeros que ainda tenho na lista pra esse ano, vou reler.


NATI 29/10/2013minha estante
Ótima resenha, concordo com a riqueza do livro, discordo quanto a Ema. Amei a personagem. Claro que quanto mais passa o tempo, mais difícil ela é de se agradar, mas de doida ela não tem nada. É tudo pura frustração por uma vida que ela nunca desejou. E no fim, ela se viu só. Muito triste :/


Érica 04/08/2014minha estante
Gostei muito da sua resenha. Defende o livro, apesar de. Gosto disso. Lembro que não gostei de Madame Bovary quando o li. Mas, confesso que, hoje, acredito que eu não possuía maturidade para apreender a obra. Então, pretendo relê-lo.


Marcelo 22/11/2014minha estante
hum...safadénha


Tatiana 22/04/2015minha estante
então...fiquei curiosa...vou comprar o livro


Paula 06/05/2016minha estante
concordo com a parte da Emma, mas o livro (em minha opinião) é entendiante mesmo, achei uma perda de tempo, porque não achei nada demais, apesar da critica ser boa e da personagem personificar a vida de muitas mulheres (imaginei que eu também não gostaria de ter a vida dela)... enfim, não gostei mesmo, esperava mais


Ilton Paiva 05/03/2017minha estante
Excelente resenha.
"Safadenha" foi o máximo.


Erica.Cinara 19/06/2017minha estante
Hilária e leve resenha! Madame Bovary, infelizmente é muito atual ao retratar a cultura da artificialidade, das máscaras e da egolatria de uma sociedade adoecida.
Parabéns pela leveza da resenha!


Rosana.Pedroso 24/08/2017minha estante
O meu está na estante há anos. Fiquei com vontade de bater a poeira e ler logo!!!


Rafa 10/01/2018minha estante
Sou pro Emma e pro Flaubert... kkk... o legal é que a personagem marcou tanto que criou um termo para se designar aquela pessoa que vive alheia à realidade. O que Emma faz da sua vida sexual é problema dela, e no fim das contas, é o estado de insatisfação enorme que ela tem com relação à sua vida que incomoda tanto.


Zé - #lerateondepuder 14/07/2019minha estante
Sua resenha foi perfeita. Começou comentando sobre a trama, destacou o papel dos personagens, envolvendo o contexto histórico da época e ainda descreveu o significado do livro, principalmente para você. Vai, com certeza, me inspirar a escrever minhas resenhas. Parabéns!


Lenicio 01/03/2020minha estante
Começando a ler. O que me surpreende, até agora, é a técnica impecável de Flaubert. Uma prosa que mais parece poesia. Sinto que é um livro para degustar, pouco a pouco, para propiciar reflexão.


Daniel.Malaquias 29/05/2020minha estante
O que posso acrescentar a sua resenha é: Madame Bovary somos todos nós.


Raquel 02/09/2020minha estante
Adorei a resenha! Li esse livro há uns 15 anos e ainda me lembro das descrições bem realistas que me fascinaram. Por isso ainda é um dos meus preferidos, ainda tenho algumas cenas bem nítidas guardadas na memória.


Camila.Gama 10/02/2021minha estante
Que bela resenha! ??????


Isadora 06/03/2021minha estante
Nossa senhora eu estou perdendo a paciência pois estou achando que é descrição demaaaais!!! Kkkkk


Ulisses 25/03/2021minha estante
Adorei sua resenha!! Gustave Flaubert realmente enche de descrições o livro o que nos possibilita imaginar muito! Minha escola me obrigou a ler esse livro em 2019, eu não era muito fã de livros mas esse me fez gostar, foi o primeiro grande livro que li e me orgulho disso!!


Akila.Priscilla 20/04/2021minha estante
Adorei a sua resenha. Vou ler esse livro. O livro da sadênha Bovary


Paola 26/11/2021minha estante
Excelente reflexão e postura diante da mudança de percepção


Margô 14/12/2021minha estante
Gostei da tua resenha...sem muita lenga-lenga...rss. Li esta obra há anos atrás. Foi bom rever o conteúdo através do teu comentário!??


Aninha 10/02/2022minha estante
Pior livro...afeee péssimo


02/03/2022minha estante
Eu tô lendo agora. Tô achando a narrativa um pouco cansativa devido a falta de diálogo. Mas pretendo terminar para tirar as minhas próprias conclusões rsrs. Obrigada pela resenha, vai fazer com que eu não desista rsrs


Marcos 08/11/2022minha estante
Tem descrições que são sim, cansativas e chatas de se ler. Faz vc parar de ler e continuar outro dia. Acredito que sou umas das poucas pessoas a não gostar do livro.


Nati 22/02/2023minha estante
Queria saber uma boa tradução para o livro!


th;2 06/03/2023minha estante
Fiquei super decepcionada com alguns termos usados para descrever Madame Bovary, mas no final vi a retratação, e vi o ano em que fez a postagem. Pensei que fosse alguém muito jovem. Acho reducionista chamar a protagonista de safada por sair com vários, dentro do contexto, e olha que nem li ainda! Não vamos reduzir os personagens!


Marcos 21/04/2023minha estante
Nati a melhor tradução é a da Fúlvia Moretto.


Nati 23/04/2023minha estante
Obrigada Marcos ??


Marcos 05/05/2023minha estante
mas a da edição da penguin e companhia é excelente também. com a tradução do Mário laranjeira.


fabianapdsr 23/06/2023minha estante
Adorei a resenha me deu vontade de ler


Andrea.Karli 11/07/2023minha estante
Sim achei o livro bem legal e sentia muitas vezes ódio e pena da Emma. Enfim, o final me deixou bem triste pela protagonista, o Carlos enfim sofreu horrores de amor pela sua esposa e a narrativa é algo que me deixou vidrada! Ótima resenha do livro!


Marta163 03/01/2024minha estante
Ganhei este livro e a pessoa que me deu nem chegou a ler, disse que não se interessou. Lendo essa resenha, me deu mais vontade de ler. Obrigada!


Fefê 07/01/2024minha estante
Gostei de sua resenha Tábata, apesar de ingênua mas ,como disse, era sua visão da época. Estou iniciando a leitura deste clássico hoje e espero gostar tant quanto você gostou.

Obrigado pelo incentivo...


Sandra722 02/02/2024minha estante
Já quero ler


raquelpets 04/02/2024minha estante
Eu sempre senti tanta empatia em relação à Emma que fiquei chocada ao ler o início da tua resenha :)
Ao final, me deu aquele alívio quando tu reconheces que os sentimentos da personagem podem ser legítimos. Todos nós temos insatisfações e desejos, todos nós buscamos por algo, em alguma medida.


Ingrid1279 27/05/2024minha estante
Achei uma safada? Achei, mas desejei um final melhor pra ela. Os temas abordados são puxados de lhe dar. Principalmente o que aconteceu no final.


Marcio.Pinheiro 04/11/2024minha estante
Adorei sua resenha, achei muito completa e pontua muitos dos pontos chaves das aflições de Emma e da personalidade de Charles.
Ainda estou lendo, estou na metade do livro mas dá para perceber a mudança de Emma, realmente, ela parece uma "criança mimada" rs.
Pena que já sei o final da protagonista, gostaria que não fosse assim tão radical, também me compadeço com ela, graças à explicação de Flaubert de como sua personalidade foi moldada ao longo de sua vida.




MatheusPetris 10/04/2022

O epitalâmio é, na verdade, uma marcha fúnebre. Ou seja, A Necrópsia, seria um outro possível título para Madame Bovary. Um profundo drama burguês. Drama naquela definição de Victor Hugo, contemporâneo de Flaubert, que tendo afirmado que o drama é uma tragédia sob uma comédia, pressagiou a derrocada de Emma. Ouso sintetizar sua estrutura: uma espiral que suga Emma para dentro dela. Por essa estrutura, investiga-se uma vida em espiral de sofrimento, na qual a felicidade existe apenas em prol da ruína. Se a esperança surge, é apenas para se desvanecer. O tédio, acrescido do sofrimento (que vai e volta), é uma constante.

Flaubert alcançou seu objetivo: a despersonalização. Se afastou de seu livro em prol de um estilo sóbrio. Algo já identificado por Baudelaire pouco tempo depois de sua publicação… Não por menos, Flaubert respondeu o ensaio do poeta, afirmando que o mesmo invadiu sua mente. É claro, para nós, filhos do século XX e XXI, é muito “fácil” perceber isso quando temos em mãos as correspondências de Flaubert. É tudo sobre o estilo. Se pretende escrever, conceba um estilo antes de sequer tocar na pena, foi o que nos disse o maior prosador do século XIX. Através dele, Gustave zombou de sua própria classe. No meio dela, debochou como quis. O mais excêntrico, petulante e arrogante personagem, Homais, é o único com um final ascendente… Um perfeito representante da classe burguesa.

E não pensem que se trata de uma militância ou de objetivos (diretamente) políticos, é, única e exclusivamente, um exercício estético. Sua completa e total harmonia, lapidam cada pequeno detalhe de forma precisa e em benefício da narrativa. Eis o verdadeiro significado de unidade. Se cada capítulo tem uma força própria, uma construção visando um objetivo muito bem delineado e claro, é pela possibilidade de se concatenar cada fragmento. Cada frase — aquela que busca o caráter inviolável de um verso —, cada parágrafo, cada capítulo, cada parte, aproximam a prosa do ofício de um poeta. Flaubert, arrisco dizer, é o poeta da prosa.

Não me alongarei mais. Pretendo, em uma futura releitura, escrever um ensaio sério sobre o romance com a devida atenção e detalhamento que ele merece. Por hora, ficarei com esses comentários gerais (e genéricos num certo sentido) e atesto: pode não ser meu romance favorito, mas com certeza é o melhor que já li.
comentários(0)comente



Vania.Cristina 18/08/2024

Todos nós somos Madame Bovary
Esse é um daqueles livros que possui inúmeras formas de se comunicar com o leitor, e é bem mais complexo do que pode parecer num primeiro momento. Sua escrita é fluida mas exigiu do autor um projeto intenso e árduo.

Para ajudar na compreensão dos contextos, fiz a leitura nessa edição da Martin Claret, com o apoio das notas do tradutor, Herculano Villas-Boas e li o prefácio de Adalberto Luis Vicente. No youtube, assisti, antes mesmo de ler o livro, a primeira video-aula que a editora Antofágica disponibilizou. Depois de terminada a leitura, assisti a segunda video-aula e li os textos de apoio da edição da Antofágica, de Vivian Villanova, Maria Rita Kehl, Claudia Amigo Pino e Norma Telles.

E tudo isso valeu muito à pena.

A história começa com o casamento do jovem médico viúvo, Charles Bovary, com a bela Emma, que rapidamente lhe rouba o protagonismo.

Emma era uma leitora voraz do que era chamado, na época, de livros para moças: histórias cheias de aventuras, paixões desenfreadas, casamentos e finais felizes. Quando se casa, Emma se frustra porque a realidade não é como nos livros. E a única saída que encontra é o adultério.

A premissa é super simples e a riqueza do livro está no estilo do autor e na forma como ele nos leva a nos envolver com a personagem, e nas inúmeras reflexões que podem ser feitas a partir daí.

O contexto é o da revolução industrial e o de ascensão da burguesia. Com o surgimento da classe média, surge também um novo tipo de família e uma nova condição para a mulher. Os casamentos deixam de ser por conveniência e passam a ser "por amor", e também uma exigência social.

À mulher cabe ser companheira, recatada e do lar, administrando os empregados mas sendo submissa ao marido e um ornamento da casa. Vejam bem, isso não existia antes do século XVIII. A mulher aristocrata e a do povo tinham maior liberdade quanto a sua sexualidade. Esse isolamento doméstico começa a ser imposto às mulheres conforme foi sendo construída a sociedade burguesa. Controlar a sexualidade da mulher passou a ser, então, uma questão pública, para que fossem preservadas as linhagens e as heranças do patriarcado.

O curioso é que essas mesmas mulheres se tornaram as leitoras mais assíduas, mesmo sem nunca terem frequentado a escola. Aqui temos uma das questões ambíguas da obra: Emma Bovary lê, e isso a empodera. No entanto, ao mesmo tempo, o que ela lê são histórias românticas, ilusórias, fantasiosas que a instigam a querer o que não pode alcançar.

Com nossos olhos contemporâneos é possível ver, na obra de Flaubert, crítica social quanto a questões de desigualdade de gênero. Mas em muitos momentos parece que o autor só tentava fazer ironia sobre o pensamento romântico, já que Emma é sempre exageradamente ingênua, em alguns momentos dissimulada, em outros cruel.

Ora torcemos por ela, ora queremos que ela pare de tanta besteira. Ora a entendemos , ora a achamos muito fria e tola. É difícil amar Madame Bovary mas é super fácil se identificar com ela. Ela é absurdamente humana, real e intensa. Suas paixões são sinceras, sua entrega é completa.

Sabe como Flaubert fez isso? Trabalhando minuciosamente o estilo literário, de forma obsessiva e inovadora. Ficou anos revisando o texto, eliminando palavras repetidas, aprimorando a conexão entre as frases. Ele não queria descrever, queria mostrar. Dessa forma, criou cenas totalmente imagéticas. A ponto do cinema surgir já bebendo em Flaubert. Quer começar a aprender a escrever roteiro? Leia Madame Bovary.

Flaubert se esforça para eliminar o narrador em terceira pessoa, com isso inova quando usa o discurso indireto livre. Não acompanhamos apenas os pensamentos de Emma, ouvimos através dos ouvidos dela, sentimos através de sua pele, acompanhamos sua respiração, o sangue em suas veias... Estamos no corpo dela nos momentos de prazer. O desejo dela move o romance e nos move.

E quando nada a satisfaz, estamos ao lado dela com una sensação enorme de vazio. Se ela é ingênua, irritante, imprudente, antipática, dissimulada, cruel... nós também somos. Não é a toa que Flaubert disse no tribunal, quando respondia a um processo por atentado à moral e à religião: "Madame Bovary sou eu"

Emma Bovary tem "traços masculinos" como a imprudência e a ousadia, e contesta, como afirma Claudia Pino, "um dos alicerces do mundo burguês: a pretensa felicidade do casamento."

Mas não espere que Flaubert seja piedoso com Emma, ele não é. Da mesma forma não é generoso com o leitor. Afinal, ele estava inaugurando um novo gênero literário, o realismo, e se recusou a idealizar personagens e história. Trata-se de uma tragédia, mas uma totalmente diferente da grega ou do drama shakespereano. A tragédia aqui está no isolamento social imposto à mulher, na repressão sexual explosiva (e Freud ainda não tinha publicado nada), no vazio da existência, e, acima de tudo, na hipocrisia da nova classe social burguesa, com seus mecanismos de poder voltados à acumulação de riquezas e à exploração humana.

Fiquem atentos a detalhes na obra. O uso dos espelhos, os movimentos corporais de Emma, a dança, os nomes de personagens... E sim, tem ironia, muita ironia. Mas Flaubert consegue fazer a tragédia superar a ironia. E isso cria intensidade.
Elton.Oliveira 18/08/2024minha estante
Caramba !!????????...

Vc se dedicou mesmo em entender toda a obra ! Tenho vontade de ler , ela está em uma das minhas listas .... Mas agora fiquei com medo de tantos detalhes importantes .... ???... Parabéns pela ótima e esclarecedora resenha Vânia , foi ótima! ??????


Vania.Cristina 18/08/2024minha estante
Ah!... Não tenha medo não, Elton! Só se joga. Não precisa seguir o caminho que eu segui, só expus para mostrar minha experiência, mas me diverti aprendendo. Foi sem sofrimento. Só se jogue e tenha a sua experiência do seu jeito. Não é uma obra difícil, só não é boba, e foi isso que eu quis passar na resenha. E obrigada pelo retorno positivo, fiquei feliz. Mas vou ficar mais ainda se você ler o livro. ?


Elton.Oliveira 18/08/2024minha estante
Lerei Vânia.... Eu, como um leitor cheio de manias ... Tenho algumas listas !! ???

Essa está na dos 100 clássicos que todos deveríamos ler antes de morrer!!! ???... É fúnebre , mas assim que tomei conhecimento, encarei o desafio!


Ellen Seokjin 19/08/2024minha estante
Foi um dos primeiros clássicos que li. Não conhecia o contexto, nem as circunstâncias em que foi escrito, mas gostei da história e dos personagens. Ainda quero ler mais do Flaubert.


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Correto, Ellen. Acho que eu forcei a barra na resenha, ficou parecendo que só dá para gostar do livro conhecendo o contexto. Realmente não é isso. Também quero ler mais do Flaubert.


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Vou fazer algumas adequações no texto da resenha para ver se passa menos essa sensação de que "tem que ser assim ou ser assado".


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Pronto! Acho que ficou bem melhor, mas leva um tempinho para as alterações aparecerem aqui.


Jeff_Rodrigo 20/08/2024minha estante
Que incrível, Vânia! Não imaginava o tamanho da complexidade e da profundidade dessa obra, ainda que muitos conhecidos tenham me sugerido ler ela.
Esse contexto, essas nuances e estilo de escrita devem mexer muito com o leitor, mesmo ele não tendo a a ideia exata da dimensão do problema.
Espero ler ela em breve e descobrir os sentimentos que posso tirar dela.
Obrigado pela maravilhosa resenha!


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Obrigada, Jeff! Fico feliz que gostou da resenha. ? Espero que tenha uma excelente experiência com o livro.


debora-leao 20/08/2024minha estante
Você foi uma das primeiras que fez esse livro parecer verdadeiramente interessante. Ele já estava na minha lista, mas eu ficava protelando pq sempre achava que seria algo que eu leria só pela importância histórica mesmo, e não por prazer. Mas a maneira que você conectou o livro com um contexto geral, histórico, artístico... Me fez perceber que ele pode ser bem mais do que imaginei de primeira. Foi uma das melhores resenhas que já li. Obrigada e parabéns!!!


Tainateixeira92 20/08/2024minha estante
Amei a resenha Vania, o título faz muito sentido!!


isabelhias 20/08/2024minha estante
Ótima resenha! Acabei de terminar A educação sentimental. Gosto muito de Flaubert


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Obrigada Debora!!! Fiquei muito feliz que você gostou da resenha. ? E leia Madame Bovary sim. Você vai perceber que Flaubert influenciou vários autores, dentre eles Machado, Julia Lopes de Almeida etc etc


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Obrigada, Tainá!! Fico feliz!! ? Tive dúvidas quanto a escolher esse título, por isso fico contente também em saber que ele fez sentido pra voce.


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Obrigada Isabela! ? Vou colocar A Educação Sentimental na minnha lista, quero conhecer mais do autor.


ivy! 20/08/2024minha estante
Minha amiga, que resenha de primeira qualidade!!!! ??????????


Vania.Cristina 20/08/2024minha estante
Muito obrigada, Ivy!!! Que bom que gostou! ?


Otávio 21/08/2024minha estante
Estou lendo ele no momento, confesso que a personalidade da Emma me irrita, é muito impulsiva e muito autocentrada nos próprios sentimentos, mas algo que eu sempre gosto de pensar é como essas mulheres se casavam jovens ( e como todo jovem são tolas ) e que nem mesmo ela poderia obter conselhos de alguém que a compreende ela pois ela não poderia falar com ninguém como ela se sentia realmente. O Sr. Bovary até agora me parece um homem bom mas que enxerga a esposa da forma que a cabeça sem imaginação dele inventou e não faz ideia do que ela passa. É difícil gostar dela mas dá para entender como ela se torna desta forma. Ela não tem a possibilidade de ser sincera a não ser em seus momentos de crise


Vania.Cristina 21/08/2024minha estante
Sim Otávio. Eu às vezes queria abraçar Emma, às vezes queria lhe dar uns tabefes. Mas também não consegui gostar totalmente do Charles. Ele também é ingênuo demais e muito centrado nele mesmo. A questão acho que é olhar para ambos como se fossem peças de uma engrenagem social. Tenha uma excelente leitura!


Leti.Zanini 22/08/2024minha estante
Vânia, me obrigaste a pular uns quantos da lista para logo chegar nesse. Hahaha
Excelentes diálogos com a leitura e, caso ainda não faça, acredito que seria incrível conduzindo um grupo de leitura. Adoro teu envolvimento e curiosidade quando da elaboração da resenha. Grata pelo compartilhar.


Vania.Cristina 23/08/2024minha estante
Obrigada Leti!!! ?? Nunca pensei seriamente em conduzir um grupo de leitura... Quem sabe... Obrigada pela força e pela confiança. E que você tenha uma excelente leitura!


thainacreditavel 25/08/2024minha estante
Vania sua resenha foi tão incrível quanto o livro! Adorei




Michela Wakami 16/07/2021

Emma Bovary, dificilmente você irá amá-la.
Um livro bastante reflexivo, com uma personagem, muito egocêntrica.
Uma espécie de Dom quixote, que de tanto ler romances, passou a viver um mundo fantasioso, que apesar de ser um mundo que ela cobiçava, não a satisfazia.
Você provavelmente irá odiá-la.
Ponto negativo na leitura é o fato do escritor ser prolixo, fazendo a leitura ser arrastada e consequentemente cansativa.
Tangerina 16/07/2021minha estante
Hahahaha espero não me tornar um Madame Bovary um dia


Michela Wakami 16/07/2021minha estante
Kkkkkkkkk? medooooo.
O tanto que a gente lê, espero que não caiamos em tentação.???


Iwatanii 03/04/2024minha estante
Amei a resenha, amiga. Não gostei dela! Kkkkkkkk


Michela Wakami 04/04/2024minha estante
Obrigada, amiga! Ela é intragável! ????




Larissagris 30/12/2023

MADAME BOVARY (GUSTAVE FLAUBERT)
Pois, calmamente, um dia depois do outro, uma primavera atrás de um inverno, um outono em cima de um verão, a coisa foi-se passando, pouco a pouco, gota a gota; tudo sumiu, tudo fugiu, tudo desceu, como se diz porque no fundo sempre resta alguma coisa, assim... um peso aqui, no peito! Mas, visto que é a sorte que nos espera, a gente não deve desanimar e, porque outros morram, querer morrer também. (Pág. 27)

E, na estrada principal, que estendia sem fim a sua extensa fita de pó, nos caminhos estreitos onde as árvores se entrelaçavam formando caramanchão, com o sol nas costas e o ar da manhã nas narinas, o coração transbordando dos prazeres da noite, o espírito tranquilo, a carne satisfeita, ia ele ruminando a sua felicidade, como quem fica ainda mastigando, depois do jantar, o gosto das trufas que está digerindo. (Pág. 39)

Entretanto, agora, possuía, para toda a vida, aquela mulher bonita, a quem adorava. Para ele o mundo não ia além da sedosa circunferência das suas saias; achava que não a amava o suficiente e sentia saudades dela. (Pág. 39)

Antes de se casar, julgara sentir amor; mas, como a ventura resultante desse amor não aparecia, com certeza se enganara, pensava ela. E procurava saber qual era, afinal, o significado certo, nesta vida, das palavras "felicidade", "paixão" e "embriaguez", que nos livros pareciam tão belas. (Pág. 40)

Acaso não necessita o amor, como certas plantas, de terreno preparado, temperatura especial? (Pág. 63)

- Eu tenho uma religião, a minha religião, e mesmo até mais do que todos eles, com as suas momices e charlatanices. Eu creio em Deus! Creio no Ente Supremo, num Criador, qualquer que seja, pouco importa, que nos pôs neste mundo para desempenharmos os nossos deveres de cidadão e de pais de família; mas do que não preciso é ir a uma igreja beijar salvas de prata, engordar com a minha algibeira uma súcia de farsantes que vivem muito melhor do que nós! (Pág. 80)

Realmente, não há melhor coisa do que passar a noite ao pé da lareira, com um livro, enquanto o vento bate nas vidraças e a luz brilha. [...] É que não se pensa em nada [...] e as horas passam. Sem se sair do lugar, passeia-se por países imaginários, e o pensamento, enlaçando-se com a ficção, demora-se em detalhes, segue o contorno das aventuras. A gente roça pelas personagens e até parece que se palpita sob os seus trajes. (Pág. 85)

[...] as obras que não nos abalam o coração afastam-se, segundo me parece, da verdadeira finalidade da arte. (Pág. 86)

Um homem, ao menos, é livre; pode percorrer as paixões e os países, saltar obstáculos e gozar dos prazeres mais raros. Uma mulher anda continuamente rodeada de empecilhos. Inerte e ao mesmo tempo flexível, tem contra si as fraquezas da carne e as dependências da lei. A sua vontade, como o véu de um chapéu preso pelo cordão, flutua a todos os ventos; e há sempre algum desejo que arrasta e alguma conveniência que detém. (Pág. 90)

Não teriam eles outra coisa a dizer? Os seus olhos, no entanto, transbordavam de palavras mais sérias; e, ao passo que se esforçavam por achar frases banais, sentiam-se ambos invadidos pelo mesmo encantamento; era como que um murmúrio da alma, profundo, contínuo, que dominava o das vozes. Surpreendidos e admirados por aquela nova suavidade, não pensavam em descrever a sensação ou descobrir-lhe a causa. As felicidades futuras, como as praias dos trópicos, projetam, na imensidade que as precede, as suas molezas nativas, brisas perfumadas; e nós nos entorpecemos na sua languidez, sem mesmo nos importarmos com o horizonte que não avistamos ainda. (Pág. 96)

O amor, no seu entender, devia surgir de repente, com ruídos e fulgurações, tempestades dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. (Pág. 101)

A própria doçura do marido lhe causava revolta. A mediocridade doméstica arrojava-a a fantasias custosas, a ternura matrimonial a desejos adúlteros. Teria querido que Charles a espancasse para poder com mais justiça detestá-lo, vingar-se dele. Às vezes, espantava-se das conjeturas cruéis que lhe ocorriam; e era preciso continuar a sorrir, ouvir repetir que ela era feliz, simular que o era, deixá-lo crer! (Pág. 109)

A senhora não sabe então que há almas constantemente atormentadas? Precisam alternadamente de sonho e de ação, das paixões mais puras e dos gozos mais intensos, balançando-se assim a toda espécie de fantasias, de loucuras. (Pág. 139)

- Mas por acaso consegue a gente achar a felicidade? [...]
- Há lá um dia em que topamos com ela, [...] um dia, assim de repente, quando já desesperávamos de encontrá-la. Abrem-se então os horizontes, e é como se uma voz bradasse: "Ei-la!" Sente-se a necessidade de fazer-se a essa pessoa confidência da própria vida, de se lhe oferecer tudo, de tudo sacrificar por ela. Não a explicamos, adivinhamo-la. Entrevemo-la em nossos sonhos. [...] Enfim, aí está o tesouro que tanto procurávamos, aí, diante de nós, brilhando, resplendente. Mas duvidamos ainda, não nos atrevemos a acreditar, fazendo-nos ofuscados, como se viéssemos das trevas para a luz. (Pág. 139)

- Ora, lá vêm os deveres! - disse Rodolphe. - Estou farto dessa palavra! Um bando de velhos papalvos, de colete de flanela, e beatas de aquecedor nos pés e rosário nas mãos, cantando eternamente ao nosso ouvido: o dever! o dever! Ora! O dever é sentir o que é grande, querer o que é belo, e não aceitar todas as convenções da sociedade, com as ignomínias que ela nos impõe. (Pág. 140)

- Não! Por que bradar contra as paixões? Não são a única coisa bela que há sobre a terra, a origem do heroísmo, do entusiasmo, da poesia, da música, das artes, de tudo, enfim? (Pág. 140)

- [...] A senhora está na minha alma como uma madona sobre um pedestal: num lugar alto, sólido e imaculado. Mas eu preciso da senhora para viver; preciso dos seus olhos, de sua voz, de seu pensamento. Seja minha amiga, minha irmã, meu anjo! (Pág. 155)

Nunca a Sra. Bovary fora tão bela como então; tinha essa inexprimível beleza que resulta da alegria, do estusiasmo, do êxito, e que nada mais é que a harmonia do temperamento com as circunstâncias. (Pág. 185)

Também Emma quisera, fugindo à vida, voar num abraço. (Pág. 211)

Ah! Se ainda na frescura de sua beleza, antes das poluições do casamento e da desilusão do adultério, tivesse podido entregar sua vida a algum grande e sólido coração, num misto de virtude, ternura, voluptuosidade e dever, nunca teria chegado ao que chegara. Essa ventura, porém, era uma mentira, sem dúvida, imaginada para o desespero de todo desejo. Conhecia já a pequenez das paixões, exageradas pela arte. (Pág. 213)

O aprumo depende do meio em que estamos: não falamos na sobreloja da mesma forma que no quarto andar, e a mulher rica parece ter em torno dela, protegendo-lhe a virtude, todas as suas notas de banco, à maneira de couraça, no forro do espartilho. (Pág. 221)

Não nos devemos acostumar a prazeres impossíveis, tendo à nossa volta mil exigências... (Pág. 222)

- Haverá coisa mais lamentável que arrastar, como eu, uma existência inútil? Se nossas dores pudessem servir a alguém, consolar-nos-íamos com o pensamento do sacrifício! (Pág. 223)

Não era a primeira vez que viam árvores, céu azul e relva, que ouviam a água corrente e a brisa ramalhando a folhagem; mas nunca decerto tinham admirado tudo isso, como se anteriormente a natureza não existisse, ou como se não tivesse começado a ser bela senão depois de eles terem saciado os seus desejos. (Pág. 243)

- Não te mexas! Não fales! Olha para mim! Dos teus olhos sai alguma coisa de muito doce que me faz um bem imenso! (Pág. 252)

Mas o denegrirmos os que amamos sempre nos desliga deles um pouco. Não é bom tocar nos ídolos; o dourado pode sair nas nossas mãos. (Pág. 267)

Apesar disso, não era feliz, nunca o fora. De onde vinha, pois, aquela insuficiência da vida, aquele apodrecimento instantâneo das coisas em que se apoiava? ... Mas se existia, fosse onde fosse, um belo e forte, uma natureza valorosa, cheia ao mesmo tempo de exaltação e de requinte, um coração de poeta com forma de anjo, lira como cordas de bronze, desferindo para o céu epitalâmios elegíacos, por que acaso não o encontraria ela? Que impossibilidade! Nada, afinal, valia a pena procurar-se; tudo mentia! Cada sorriso ocultava um bocejo de enfado, cada alegria uma maldição, todo prazer o seu desgosto, e os melhores de todos os beijos não deixavam nos lábios senão uma irrealizável ânsia de voluptuosidades mais intensas. (Pág. 269)

Mas é que um infinito de paixões pode caber num minuto, como uma multidão num pequeno espaço. (Pág. 269)
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Paula1735 19/07/2021

O romance dos romances
Um livro com muitas palavras difíceis e antiquadas, que acabou ocasionando lentidão na minha leitura. De qualquer forma, dá muita vontade de saber se a protagonista vai conseguir o que ela quer...
Romance trágico e realista, que deixa um gosto acre na boca.
bernardo_smm 19/07/2021minha estante
Tive uma aula de "literamor" onde o professor tratou dessa obra, me interessei bastante pelo enredo da mesma. Gostaria de saber se compensa a leitura.


Luana.Khetley 20/07/2021minha estante
minha conclusão final foi que a Madame Bovary passou pelo que passou, viveu o que viveu pq naquela época as mulheres não eram livres. Ela seria mais feliz nos dias atuais e as suas ações teriam sido diferentes.


Paula1735 20/07/2021minha estante
Bernardo, eu achei a leitura meio lenta, mas o final compensou muito! Não é nem um pouco esses romances clichês que estamos acostumados kkkk é um livro curto, acho que vale a pena vc conferir pra dar seu veredito.


Paula1735 20/07/2021minha estante
Luana, vc acha? Eu achei uma personagem muito complexa, dá pano pra manga analisar tudo o que se passou naquela cabeça! Não sei se vc conhece, mas cunharam um termo na psicologia baseado na Ema: o bovarismo. Se trata mais ou menos de uma idealização surreal de conceitos como amor e felicidade, e por conta disso, inalcançáveis para o sujeito em questão... Ao meu ver, a Ema se entediava com a realidade, sempre aquém do que ela achava que merecia viver. Por isso não sei se nos dias atuais ela viveria feliz ou arrumaria outra desculpa para sua insatisfação.


bernardo_smm 20/07/2021minha estante
Muito obrigado, vou adicioná-lo à minha lista de leitura.




Marcos.Paulo 31/05/2022

É bom, mas nem tanto
A trama é até legal, porém o grande excesso de descriçoes de lugares, objetos, entre outras coisas muitas vezes desnecessárias, nada acrescentam e acabaram por deixar monótona a minha experiência, porém, ainda assim é um bom clássico, com boas reflexões.
ana beatriz 31/05/2022minha estante
guerreiro dar 5 estrelas viu .... eu achei um porre


Tatá 04/07/2023minha estante
Exatamente... por pouco eu desisto. Fui até o fim por questão de honra hahahaha
Maçante! O começo faz a gente pensar que vai ser legal, mas do meio pro fim fica super enfadonha.




Victoria (Vic) 08/08/2020

Eu simplesmente adorei o livro. O começo foi um pouco chato, mas depois ficou muito envolvente e interessante. O final me surpreendeu muito!
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Luiz Souza 16/08/2023

Dividas e muitas mentiras
O livro que demorou cinco anos para ser escrito , Gustave Flaubert teve que ter muita inspiração pra terminar este livro.
Também foi considerado na época uma afronta ao moral e bons costumes visto que na ocasião não se retratava mulher indo atrás de homens como no caso de Emma pois elas eram submissas.

O livro vai contar a história de Emma uma jovem do campo que vivia lendo romances de revistas e jornais e parece que ela queria sentir todas as aventuras que as mocinhas tinham dos livros ela idealizava o amor romântico e colocava num patamar alto até porque é uma raridade achar casais tão perfeitos como nos livros nem se iluda nisso.

Charles era um agente de saúde e se casou com Emma.
Ele era um homem não muito atrativo aos olhos de Emma ela imaginava outra configuração vindo desse matrimônio já estava ficando entediada.

Aí chegou o grande dia do baile , fica muito feliz na festa depois conhece Leon ele some, depois de um tempo ela conhece Rodolphe ele vai embora também.

Emma não teve muita sorte com os amantes ainda além disso tudo soma se Lheureux um comerciante em que ela comprava de tudo ficou lhe ameaçando para pagar as dúvidas de tanta coisa que ela comprou.

O fim dela foi trágico como todos sabem.
A história critica a sociedade burguesa da época e também a idealização do amor.
Uma história bem escrita e bem densa.

Ótima leitura
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Thales 21/05/2021

É incrível como um livro pode ser tão bom e tão chato
Desculpa gente, mas "Madame Bovary" é um livro de white people problems. Flaubert era um burguês branco encostado escrevendo sobre os GRAVÍSSIMOS problemas de burgueses brancos encostados. O marido de Emma não era um herói de romance e por isso ela vive um pentágono amoroso. Avá, viu.

Eu tive zero conexão com a história. Na metade da parte três eu já tava desesperado pra ela acabar. E isso nada tem a ver com a escrita de Flaubert ou com o livro ser difícil, muito pelo contrário. O francês foi um dos romancistas mais perfeitos que a literatura já teve - não atoa demorou cinco aninhos revisando o livro - e a tradução é excelente, além das notas e tal. Eu consigo reconhecer a extrema relevância do autor e da obra e ao mesmo tempo admitir que minha experiência foi irregular - estudar o contexto em que "Madame Bovary" existiu e sua influência na literatura foi bem mais divertido que a leitura em si. Por isso não teve como dar cinco estrilas.

Tudo isso posto: né, Flaubert é um dos autores incontornáveis da literatura ocidental. Desde o processo de escrita do romance - longo, com muita revisão, experimentações - ao retrato fiel - e feio - que faz da sociedade da época, passando pela cirúrgica escolha de tema, ambientação e fio condutor; tudo isso representou um ponto de inflexão como poucos. "Madame Bovary" simplesmente colocou a intelectualidade da época de quatro.

Flaubert talvez tenha alcançado as duas maiores honras de um literato: setores influentes da sociedade urgiram pela censura de sua obra e um conceito foi criado a partir dela. Da mesma forma que podemos dizer que algo é "dantesco" ou "quixotesco" podemos chamar alguém de "bovarista" - é só tacar no google que vai tá lá a conceituação.
Maria22510 21/05/2021minha estante
Ainda n consegui terminar esse livro


Bia 04/07/2021minha estante
você tem essa edição antiga da l&pm? Queria saber de alguém que leu nessa edição como é, se há erros ou algo assim, não entendi direito o que aconteceu para que a editora trocasse a tradução, tinha visto algo sobre ser uma cópia adulterada


Thales 15/07/2021minha estante
Bia, só vi seu comentário hoje. Minha edição é da Penguin. Não conheço direito a edição da L&PM, mas sei que ela é de bolso, tem páginas brancas e não tem orelhas. Eu nunca peguei um errinho de revisão num livro deles; talvez tenha em Madame Bovary, mas acho difícil, e se tiver vai ser um errinho mínimo. Sobre cópia adulterada, muito difícil algo assim acontecer em uma dessa duas editoras. Talvez fosse assim com a edição da Martin Claret - essa sim parece ter erros de revisão.




Rodrigo1001 13/05/2024

Anseios universais (Sem Spoilers)
Título: Madame Bovary
Título original: Madame Bovary
Autor: Gustave Flaubert
Editora: Abril Cultural
Número de páginas: 260

Tendo sido completamente estudado, analisado, decomposto, esmiuçado e esquadrinhado desde 1857, ano do seu lançamento, não me parece razoável introduzir Madame Bovary a quem quer que seja. A obra, a propósito, faz parte de uma seletíssima lista de livros que dispensa introduções.

Você pode não tê-lo lido, mas certamente já ouviu falar sobre ele.

Madame Bovary é daquelas obras de reconhecimento universal, um dos maiores livros já escritos e uma obra fundamental da literatura mundial. Com relevância permanente, ampla recepção e um apelo que atravessa barreiras linguísticas e culturais, o livro simplesmente ressoa ao longo dos séculos e nenhuma lista de calibre deixa-o de fora quando se trata de grandes clássicos da literatura.

Livro essencial, caráter atemporal.

Com esse cartão de visitas e dentro desse contexto, como mero leitor, creio que a maior contribuição que eu posso dar seja a mais espartana de todas: divagar sobre as impressões que o livro me causou.

Assim, começo essa resenha com um alerta: se você tem predileção por finais felizes, simplesmente pule este livro e passe para o próximo da lista. Não vou estragar nada pra você (alguns outros críticos já fizeram isso inadvertidamente, de qualquer maneira), mas você também deve saber que o enredo e os personagens principais deste romance são de natureza essencialmente trágica.

E põe trágico nisso!

Duas almas incompatíveis, uma terna e acolhedora e outra de natureza indômita, deturpada da realidade, decidem compartilhar a vida. Daí decorre o que só poderia decorrer nesses casos, com todas as mazelas que uma vida incompatível encerra em si.

Emma Bovary é a personagem principal e seus anseios por romance, emoções, dinheiro e status são universais. Ainda assim, o custo desses anseios é altíssimo!

Fui levado pela mão de Emma em uma verdadeira montanha russa de emoções, um pot-pourri de impulsos íntimos, tensão inflamada e idealização do amor. A viagem resultou em pura fascinação não só pela personagem em si, mas também pela precisão da escrita do autor, seu detalhamento vívido e detalhista dos ambientes e dos sentimentos, sempre em busca da palavra perfeita, e com a adoção de uma narrativa objetiva e distanciada, evitando julgamentos morais explícitos sobre seus personagens.

Acusado pelo governo francês de ter escrito uma obra execrável, seu autor Gustave Flaubert foi levado a julgamento por ofensa à moral pública e à religião. Quando perguntado quem era Madame Bovary, já que, na época, pensavam tratar-se de uma pessoa real, proferiu a célebre frase perante o juiz: "Madame Bovary, c'est moi" (Madame Bovary sou eu!)

Nessa declaração, no longínquo ano de 1857, Flaubert está falando por todos nós. Esse lado sombrio e desagradável de nossos personagens é o que Emma exibe descaradamente. É fácil se identificar com os anseios básicos dela, seus modos egoístas e autoindulgentes, afinal, todos nos perguntamos "e se" e "o que poderia ter sido" da nossa vida caso tivéssemos tomados decisões diferentes. Não o fizemos porque não sucumbimos, porque temos autocontrole. E, dentro dessa realidade, ter em mãos um livro cuja personagem não possui freios enche qualquer um de curiosidade e espanto.

Enfim, tenho certeza de que a história ficará sempre comigo, foi uma experiência formidável! O livro foi eloquente, romântico, cômico e comovente. Emma pode ser a sua mãe, sua irmã, sua melhor amiga, sua vizinha e sua inimiga mais odiada - mas, esteja certo, ela habita ao seu redor.

Leia sem pestanejar.

Leva 5 de 5 estrelas.

Passagem interessante:

"Porque lábios libertinos ou venais lhe haviam murmurado frases (de amor) parecidas, quase não acreditava na pureza das que ouvia agora, achava que se devia fazer desconto nas expressões exageradas que escondiam aflições medíocres, como se a plenitude da alma não se extravasasse, ás vezes, nas mais vazias metáforas, pois que ninguém pode jamais dar medida exata às próprias necessidades, concepções ou dores, e já que a palavra humana é como um caldeirão fendido em que batemos melodias para fazer dançar os ursos, quando antes quereríamos enternecer as estrelas" (pg. 142)
Lennon.Durval 14/05/2024minha estante
excelente resenha! estou com ele aqui, e é o próximo na minha lista de leitura ?


Rodrigo1001 14/05/2024minha estante
Que legal! Espero que vc goste tanto quanto eu!


edu basílio 24/05/2024minha estante
wow ! ??? mais uma resenha que mereceria figurar como posfácio no livro. meu exemplar está aqui, e após seus comentários talvez 'o chamado' chegue para mim mais cedo...


Rodrigo1001 25/05/2024minha estante
Você é a gentileza personificada, Edu! ? Levei muito tempo pra ler esse livro, ele carecía de um momento certo, de um impulso. Por fim, fiquei feliz. A personagem principal suscitou muitos insights em mim. Odiei e amei Emma Bovary com a mesma intensidade. E o vocabulário de tempos remotos.... ah, que delicia! Essa edição antiga da Abril ganhou meu coração! Super abraço!


Cida Luz 25/07/2024minha estante
Excelente resenha Rodrigo, li a muito tempo esse livro e fiquei com vontade de reler! Parabéns pelo conteúdo




Lennon.Durval 22/05/2024

Me senti gratificado ao finalizar a leitura. Tão bom!

?Aquela miséria duraria para sempre? Não conseguiria sair daquilo? Ela valia, afinal, tanto quanto todos aqueles que viviam felizes!?

A escrita do Gustave em sua imersão com os pensamentos e sentimentos da personagem, me encantou. Emma, uma mulher frente a seu tempo, com desejos e vontades, sempre em busca de algo que nunca lhe preenche, que personagem complexa!

Recomendo muito essa leitura a todos!
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pietrarebeca 05/09/2023

Achei extremamente entediante :(

O livro não me prendeu nem um segundo, parecia que estava em ressaca literária depois de ler poucos capítulos.
Freezerburn 05/09/2023minha estante
Vish, que pena




Joao.Alessandre 16/06/2023

?Emma Bovary c'est moi?
Madame de Bovary é um daqueles clássicos aclamados cuja leitura não decepciona. Flui fácil, rápido. Nos identificamos com vários personagens ou encontramos traços de similaridades destes em pessoas próximas. O dedicado Flaubert gestou essa obra prima em 5 anos onde claramente nota-se o cuidado no enfrentamento de questões basilares para a sociedade da época. Emma Bovary não é apenas a personagem central desse romance... é antes de tudo a representante primeira do descontentamento feminino. Sua iniciativa de romper com as convenções e entregar-se a seus sentimentos impactou definitivamente na lógica de um patriarcado que relegava a figura feminina a um apêndice dos mandos do XY dominador.
Emma sofreu e fez sofrer. Imperfeita, sonhadora e inconsequente em diversos momentos. Padecia certamente de um transtorno psiquiátrico não diagnosticado e não tratado que permeou toda a narrativa.
Leitura mobilizadora, viva, dilacerante que provoca e gruda nos pensamentos. Impossível sair o mesmo ao término - saímos melhores!
NothingIsHere 16/06/2023minha estante
Sua resenha me animou. Lerei essa obra esse ano com certeza!


Joao.Alessandre 16/06/2023minha estante
Legal Stelliane! Depois quero ver suas impressões.


aartemesalva-nat 17/06/2023minha estante
Parabéns pela resenha, João. Pela sua descrição, a personagem Emma, em parte, me lembrou a personagem Anna Kariênina (Tolstói). Inclusive, recomendo esse clássico russo, caso tu não tenhas lido. :)


Joao.Alessandre 17/06/2023minha estante
Obrigado Natália. Li Anna Kariênina numa tradução antiga há muito tempo. Gostaria de reler os russos na edições da coleção leste da 34 (inclusive Guerra e Paz que vc tá lendo agora)... tantos livros imprescindíveis?.




Sambook 12/04/2021

Uma ótima experiência!!
Demorei a ler e achei que o problema era o livro, mas não, era eu mesma que estava de ressaca haha
Um livro lindo, cheio de camadas a ser descoberto. Com certeza será uma amada releitura em um futuro próximo. Emma tinha um amor pela leitura, mas na minha opinião ela lia muito e acabou lendo errado. Queria colocar em prática o que lia, queria VIVER aqueles romances apaixonantes e acabou apenas se frustrando com amantes que não correspondiam suas expectativas. Enfim, Emma quem decidiu o seu próprio destino!
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