Oz 06/12/2017
“Vou começar essa resenha como começa a primeira parte do livro.” disse o resenhista.
“Tudo bem.” disse o leitor.
“Mas talvez não seja muito agradável.” disse o resenhista.
“A gente tenta.” disse o leitor.
O teclado se aproximou do dedo e depois palavras apareceram na tela. EU DISSE QUE ERA UM BOM LIVRO, DISSE O ESCRITOR. OUVI PENSAMENTOS DE UM LOUCO. COLOQUEI UM PONTO FINAL NA FRASE. FIQUEI OLHANDO PARA A TELA E O COMPUTADOR TINHA CHEIRO DE BOLO QUEIMADO. Parei de escrever.
“Será que vai ficar mais fácil de entender?” disse o leitor.
“Talvez. Mas o começo é assim mesmo, um acúmulo de atos e descrições de sentidos, o que se passa na cabeça do tal do doido do Benjamin Compson” disse o resenhista.
“Interessante!” disse o leitor.
Então eu cheguei na segunda parte e decidi clarear um pouco as coisas (não muito) porque agora eu escrevo igual à mente atordoada de Quentin Compson. As coisas começam a fazer um pouco mais de sentido aqui, embora, agora, eu apresente a você, leitor, um fluxo de consciência desse jovem, cuja chance de ir estudar em Harvard poderia marcar uma reviravolta no destino não muito promissor dos personagens desse romance. Apesar da grande oportunidade, Quentin não consegue se livrar da marca da ruína de toda sua família ESSE É UM LIVRO EM QUE OS 3 PRIMEIROS CAPÍTULOS APRESENTAM A VOZ DE UM DOS IRMÃOS COMPSON – BENJAMIN, QUENTIN E JASON – SENDO QUE O NÍVEL DE CLAREZA NA FORMA DOS CAPÍTULOS VAI AUMENTANDO PROGRESSIVAMENTE E, AOS POUCOS, VAMOS ENTENDENDO O QUE ACONTECEU NA VIDA DESSES PERSONAGENS, vivendo perturbado pela perda da honra de sua irmã, Candance (Caddy). Percebi que o próprio Quentin nutre um certo tipo de amor incestuoso em relação à irmã, sendo mais um dos motivos que o leva
a tomar certa decisão
fatal.
Como uma nuvem que se dissipa no horizonte, finalmente entro na terceira parte do livro, onde mergulhamos na cabeça de Jason Compson. É só a partir daqui que a voz do narrador ganha “racionalidade” e linearidade para os acontecimentos que vão sendo narrados. “Ufa! É uma espécie de alívio!”, você, leitor, deve estar pensando, certo? Pois deixe de ser mesquinho e intelectualmente vagaroso, pois eu não tenho paciência com esse tipo de gente. Com certeza, eu não deveria perder meu tempo para escrever uma resenha tola que mastigue pedaço por pedaço um livro complexo a ser resumido em um ou dois parágrafos, como se fosse um invólucro de uma história banal. Pois Jason pensa assim e, do alto de seu preconceito, rancor e avareza, vai narrando seu ódio por todos ao seu redor. Como filho caçula, não recebeu nenhuma oportunidade de ascender na vida, ao contrário de Caddy, que casou com um banqueiro, e de Quentin, cujos estudos em Harvard foram financiados pelos pais. Mas ele haveria de se aproveitar dos outros, como você, leitor preguiçoso, poderá vir a descobrir se, por um acaso da vida, conseguir chegar até essa altura do livro.
Enfim, estamos na parte final do livro (ou pré-final, pois ainda há uma espécie de apêndice, resumindo a vida dos personagens) e da resenha. Antes de mais nada, peço desculpas pela boçalidade do início deste texto, pela confusão que veio logo a seguir e, finalmente, pelos insultos do parágrafo anterior. Tudo não passou de uma brincadeira para tentar mostrar o que você irá encontrar quando iniciar a leitura dessa obra de Faulkner. Agora, do alto da minha lucidez de resenhista imparcial e respeitoso, como um frio narrador em terceira pessoa, posso concluir essa rápida análise maluca de “O Som e a Fúria” com uma recomendação não menos do que empolgada para que você leia essa obra única. Não se engane quanto à dificuldade da forma, pois vale a pena transpor esse obstáculo (se é que pode ser chamado assim) e imergir em uma história da decadência de uma família sulista tradicional dos Estados Unidos, com nuances brilhantes das mentes de personagens fortes e únicos.
Apêndice da resenha:
E quanto aos demais personagens, os negros, empregados da família Compson? Eles não deveriam ser mencionados nesta resenha?
Sim. “Eles resistiram”.
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