Kei 24/11/2010
Um bom final, um desenrolar brevemente maçante
Jogo Perigoso (Gerald's Game, no original) me parece uma história bastante peculiar no que eu considero o 'jeito King' de escrever e contar. Por conta das circunstâncias extremamente peculiares que afligem a personagem principal, a história é EXTREMAMENTE psicológica, e se você não está preparado ou não gosta de leituras assim, vai achar a maior parte do livro chata e maçante. Provavelmente vai largar o livro antes do final, e é dessa peculiaridade que falo quando digo que foge do 'jeito King': não se costuma largar algo dele antes do final.
O livro conta a história de Jessie Burlingame, esposa de um gordo e proeminente advogado (já usei esse mesmo termo em outra resenha e me pergunto se o King tem essa visão dos advogados) que, como muitos homens, tem o péssimo hábito de realmente não querer ouvir o que sua mulher tem a dizer. Esse hábito desemboca em Jessie algemada a uma cama, parte de um 'divertido' jogo sexual e em um posterior ataque do coração que matou o advogado antes mesmo que o ato começasse.
Diante disso, Jessie Burlingame ficou algemada a uma cama, isolada do mundo em uma casa do campo, com a homérica tarefa de se livrar. A libertação de Jessie, porém, não diz respeito apenas as algemas que a prendem nos pilares da cama, mas mais que isso, diz respeito a eventos do passado, como o dia em que o sol apagou e mesmo outros, dos quais ela fugiu em toda a sua vida. Para essa tarefa ela vai ter a 'ajuda' (sim, ela foi ajudada, mas de um jeito bastante traumático, na minha opinião) de uma série de pessoas das quais também fugiu durante a vida. Uma amiga da faculdade, a psiquiatra e mesmo a própria figura infantil dela, Bobrinha.
O livro se desenrola basicamente ao redor da luta de Jessie contra as algemas físicas que a prendem a outros grilhões, psicológicos, que mudaram drasticamente (ou não) a vida dela. 80% do livro se passa em uma cama de casal, e isso é que faz dele tão único e de difícil leitura.
Apesar disso, os eventos do final do livro, uma vez que você chega lá, tornam tudo eletrizante, da sua própria forma singular e individual. Uma vez que você tenha explorado toda a mente e as memórias de Jessie, os eventos do final fazem com que você realmente precise devorar as últimas 30 ou 40 páginas do livro, e isso é extremamente gratificante.
Ainda assim, um livro de 234 páginas, no qual o desejo de devorar vem somente nas últimas 40 não pode receber uma nota mais alta do que a que dei. Seria extremamente injusto com outras leituras, tão mais incríveis do início ao fim.
Ainda assim, vale a pena. Jessie Burlingame é, sim, uma mulher de fibra e com uma compreensão incrível da natureza e da realidade dos seres humanos. Zelo pela sanidade dela, afinal.