Brenda @caminhanteliterario 16/10/2023A ligação que eu tenho com essa história é de infancia. Eu só tinha 2 VHSs e um deles era esse, eu vi e revi esse filme um milhão de vezes, sei falas inteiras e todas a músicas, então é óbvio que eu precisava ler o livro. Devo admitir que o tamanho dá um assustada e o estilo de escrita não é dos mais fáceis. Victor Hugo tem a habilidade de discorrer páginas e páginas sobre um único acontecimento ou sentimento que não é pra qualquer um. Além disso, há inúmeras citações a artistas, lugares, profissões e momentos históricos da França do século XV que a versão comentada se torna quase imprescindível. Então não é uma história exatamente fluida e fácil de ler.
Mas fora isso foi uma experiência incrível, porque de uma maneira geral a Disney fez um ótimo trabalho e é uma adaptação que contém os elementos mais importantes da trama. Eu amei ver o festival dos tolos, Esmeralda dando agua a um Quasímodo acorrentado, Quasímodo a salvando da forca, a obsessão de Frollo, frollo oferecendo salvar esmeralda em troca de seu salvamento, o pátio dos milagres, a cabrinha djali, e a invasão a notre dame com chumbo derretido saindo das bocas das gárgulas. Até mesmo o chefe dos ladrões é aproveitado no personagem de Lopan. Ou a morte da mãe de Quasímodo representada na morte da mãe de Esmeralda. Eu ficava lembrando das cenas do filme e recitava sozinha as falas conforme iam acontecendo, vibrava demais. A maneira como autor escreve é tão emocional e bonita que quando ele descreve o amor de Quasímido pela catedral de forma que ele se torna sua alma, e que a morte dele é a morte da catedral me faz quase acreditar que o personagem existiu.
Por outro lado, diversos outros enredos ficaram de fora do filme, e isso trouxe uma expectativa maior com a história. O que me chamou mais atenção é que o livro não é focado no Quasímodo, acho que o peso dos acontecimentos são bem distribúidos ao longo da narrativa, mas é Esmeralda o fio condutor de tudo. Basicamente todo mundo é apaixonado pela mona. Mas enquanto a cigana do filme é fodona com vários discursos de luta de classe, essa daqui é uma menina inocente e frágil, a merce do destino. Ela se encanta por Febo, que no filme corresponde a esse amor, mas aqui é um safado que só quis um pente rala e ta cagando pra ela enquando a garota tá obssecada. E nesse livro a merda toda acontece quando Frollo esfaqueia Febo num encontro com Esmeralda e é ela que é acusada, claro que somam-se a isso bruxaria e tudo e tals.
Temos ainda adição do poeta Gringoire que se torna o esposo de papel de Esmeralda, bem como a história da mãe de esmeralda da qual foi sequestrada da infância. Ambas são adições muuito boas a história que trazem mais mistério e dinamismo a trama. Eu adoro que a Gringeire termina o livro apaixonado na cabra. Já a mãe de Esmeralda é apresentada como mais uma história aleatória na trama, mas que ao final se concecta de uma forma muito legal. Outro personagem que não conhecida é o irmão mais novo de Frollo, mas esse não me trouxe muito interesse e passou um livro todo como um arruaceiro gastão. A morte dele não deixa de ser impactante, quebrado ao meio pela catedral.
Fora isso existe uma complexidade de cenas que acontecem entra um ponto principal e outro que dão toda uma profundidade ao enredo e Victor hugo faz questão de trabalhar cada uma com detalhes.
E obvimente que a maior diferença está no final, só a disney pra pegar uma história trágica e pesada dessa pra fazer um filme. È uma romance gótico, que termina com esmeralda enforcada, Frollo morto por quasímodo e este morto abraçado ao corpo da cigana. Eu morri de rir que Febo terminou casado, o que o autor deixa claro que também é um final trágico.
Gostei muito de ver o modo com o Victor Hugo trabalho destino e livre arbítrio. Claude Frollo vê o destino como uma teia na qual os indivíduos ficam presos, com o resultado já determinado. Mas o destino também se torna uma desculpa para Claude negar a responsabilidade pelos seus atos. Ele lembra a Esmeralda mais de uma vez que o destino os uniu, então ela poderia muito bem se submeter a ele - apesar do fato de ele a aterrorizar e torturar. Ao mesmo tempo que ele se ver como a mosca, por cair nos encantos da cigana, ele é a aranha ao criar toda uma trama pra tê-la pra si. Também percebemos a força do destino na história como um todo, é tentando salvar esmeralda que o caos se instala em Paris e ela acaba morta.
Outro tema importante é a visão da sociedade de que a beleza exterior reflete a alma do indivíduo. Muitos dos personagens e cenários do romance não são o que parecem à primeira vista. Quasimodo é retratado como terrivelmente desfigurado, causando medo e repulsa na maioria dos que olham para ele. Mas sua aparência esconde uma alma gentil, compassiva e protetora que é incompreendida pelo mundo. Sua brutalidade é nada mais do que reflexo do tratamento que teve na vida. Claude Frollo é o estimado arquidiácono da Catedral de Notre-Dame , por isso ninguém suspeita dos horrores de que ele é capaz – assassinato, tentativa de sequestro e estupro e manipulação. Febo é outro personagem cuja aparência não reflete a realidade - Esmeralda se apaixona por ele porque ele é um oficial que a resgata, mas ela não consegue ver que ele é manipulador e superficial e não a ama de volta. O tema se estende também aos relacionamentos, principalmente entre Esmeralda e a mãe. A reclusa inicialmente despreza Esmeralda porque ela é cigana, mas elas acabam descobrindo que são mãe e filha, e seu reencontro é agridoce.
Mas o maior fator que se destaca pra mim é o amor de Victor Hugo pela Paris do século XV e pela arquitetura. São três ou quatro cápitulos ao logo do livro de pura descrição que foram chatos pra cacete de ler, mas que me trazem uma pespectiva nova sobre o mundo.
Primeiro que é muito interessante algumas informações hsitóricas que o autor traz sobre o surgimento de Paris, que me fizeram abrir o google maps e olhar o mapa. Uma delas foram as duas muralhas que já circundaram a cidade e que da pra notar perfeitamente no mapa atual da cidade. Outra foi a divisão da cidade entre A cité, a Universidade e a Cidade.
No entanto a discussão dele sobre a imprensa ter derrotado a arquitetura alugou um triplex na minha cabeça. Basicamente no meio daquele bando de descrição de contruções ele alega que arquitetura era a arte mais importante, porque era majestosa e durável. A idéia que o artista imprimia na sua obra era trasmistida pro público através das construções muito mais fácilmente que música, escrita ou dramaturgia. Era a forma mais fácil de expressão da civilização, visto que era mais acessível ao maior úmero de pessoas e permanecia por muito tempo. Além disso ele diz que as outras artes acabavam sempre estao ligadas a arquitetura atravez das igrejas, sejam a música, a dramaturgia ou a literatura. Mas além disso, que a arquitetura, por levar anos, as vezes mais de um seculo para serem finalizadas, acabavam sendo recortes de vários movimetos artísticos e portanto uma representação da sociedade, mudando junto com ela.
Consigo perceber que Victor hugo não gosta muito da modernidade,e pra eles as obras deveriam permanecer imutáveis, o que era impossível. Ele relaciona isso ao tempo, as guerras, mas pricipalmente a estupidez humana que tem a necessidade de atualizar tudo. È legal ver que essa idéia se mantem até hoje, quando a arquitetura deixa tudo com cara de consultório médico ou loja da Havan e não valoriza as construções das décadas passadas. Tudo é porcelanato e branco.
Mas acima de tudo, ele afirma que foi a imprensa que matou a arquitetura, a logo prazo claro. A máquina de Gutenberg tornou a distribuição do conhecimento muito mais fácil e portanto suplanta a arquitetura como arte mais importante. È interessante ver que o mundo passou por essa transição na distribuição do conhecimento pro mundo, e agora vivemos uma nova transição. A internet suplanta a imprensa e cria toda uma nova forma discutir idéias. Estamos vivendo essa mudnaça e é por isso que é tudo tão turbulento, ainda estamos aprendendo a conviver com essa avalanche de informação. O efeito da imprensa a época deve ter sido o mesmo. Ressalto aqui o momento que ele alega que Lutero deve agradecer a Guternberg ou a reforma protestante não teria tido a relevância que teve.
Também é interessante ver o contexto social da época, o quanto a justiça ainda era um embriãozinho da instituição que seria hj. O promotor ser surdo é uma boa representação de que o povo nunca sequeer teve chance de defesa, seja Quasímodo, Esmeralda ou o prisioneiro da bastilha. Chama a atenção o quanto desigualdade social era forte e o quanto a igreja dominava tudo, os costumes, a cultura, a justiça. Basicamente se misturava com o poder político de forma que uma coisa quase não existia sem a outra. È curioso ver que qualquer mínima coisa fora dos corformes era do diabo e merecia a forca.
Outra coisa que é intrigante é a demonstração da maneira como a população é instável e muda rápido de opinião, torcendo e pedindo a cabeça dos personagens se um momento pro outro. Quasímodo é aclamado como rei dos tolos e no dia seguinte açoitado e apedrejado em praça pública. Já quando salva Esmeralda da forca é novamente reverenciado pela multidão. Esmeralda sofre do mesmo, todos gostam de suas apresentações, mas logo em seguida vibram com seu possível enforcamento, pra logo em seguida aplaudirem quando é salva. Acho que esse comportgamento se mantém até hoje, os cancelamentos da internet acontecem e são esquecidos com uma velocidade impressionante. Tentar agradar ao público ou acreditar na sua admiração é uma armadilha.
Essa leitura foi um mix de sentimentos, eu vibrei, me emocionei, me entediei, fiquei reflexiva, quis proteger quasímodo do mundo e fique impactada como final. Não tem como não se apaixonar por um livro que te leva a tantos lugares. Se eu já amava o filme, agora amo ainda mais essa história.