O Cemitério dos Vivos

O Cemitério dos Vivos Lima Barreto




Resenhas - O Cemitério dos Vivos


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Adriano 07/11/2016

Autobiográfico, verossímil e possivelmente atual
Livro interessante, mas um pouco confuso. Me pareceu um rascunho que faltou ser revisado.
Autobiográfico, confessional e um pouco doloroso para quem o lê.
Em suas poucas páginas o autor narra o pavor de se estar a mercê de uma instituição na qual o ser humano é confinado e oprimido, bem como suas frustrações de homem, marido e pai.
O fato de ser obra inacabada não interfere nos relatos e sua linguagem, embora por vezes rebuscada não chega a ser Machadiana.
Foi meu primeiro contato com Lima Barreto e pretendo ler outras obras do autor.
Por ser domínio público vale a pena conferir.
Luh 01/09/2018minha estante
Não consegui terminar a leitura. Causou muita dor em mim esses relatos de um Lima Barreto frágil.
Leia Triste Fim de Policarpo Quaresma ou alguns de seus contos que você verá que excelente autor ele é.


Priscila 28/07/2019minha estante
Foi difícil para Franscisco de Assis Barbosa organizar os fragmentos deste livro e também do "Diário de Hospício". Pela desorganização e também pela caligrafia ruim do Lima que não ajudava. A obra é hibrida, além de um diário, também é um romance.




Marcus 30/07/2016

Retrato de um Brasil que pouco muda
A vida bateu forte em Lima Barreto. O autor nasceu em 13 de maio de 1881, ironicamente exatos sete anos antes da Lei Áurea, que, ao menos no papel, decretou o fim da escravidão. Em 15 de novembro de 1889, quando ele tinha oito anos e meio de idade, foi proclamada a República.

Nem uma mudança nem outra alteraram em nada a vida de pessoas como Lima Barreto, descendente de escravos. A monarquia acabou, mas não os privilégios da aristocracia, nem o preconceito contra negros e mulatos, que acompanhou toda breve vida do autor, que chegou a pensar em suicídio aos 15 anos de idade.

A perda prematura da mãe para a tuberculose e do pai para a loucura obrigaram Lima Barreto a abandonar a faculdade a fim de sustentar a família. As portas de fecham, as humilhações se sucedem, e o autor vai buscar conforto na boemia e no álcool.

Lima Barreto começa a trabalhar em redações de jornais, revistas, publicações acadêmicas e anarquistas. Sua principal e mais conhecida obra –Triste fim de Policarpo Quaresma – chegou ao mercado sob a forma de folhetins publicados no Jornal do Commercio.

Mas a vida desregrada acaba levando-o a sucessivas internações no Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro. É o "cemitério dos vivos" que dá titulo à obra, referência a uma localidade na China que teria sido reportada por um diplomata ocidental. Nela, portadores de hanseníase (lepra) eram deixados para sobreviver da maneira que pudessem.

O relato que Lima Barreto faz através do personagem-narrador Vicente Mascarenhas é dolorido. O ambiente de decadência física e mental mescla alcoólatras, epiléticos, doentes de fato e por “opção” – assassinos de esposas e companheiras que por conveniência se passam por “loucos”.

O autor faz o retrato triste de pessoas e situações, homens, mulheres e crianças, médicos e funcionários que vivem à margem do mundo dos "normais". Ele é mais um “louco”, mas está atento a registra tudo com sua prosa de vanguarda e contestadora para a época.

Lima Barreto morreu em casa em 1922, aos 41 anos, de um ataque do coração. Cemitério dos Vivos foi publicado em 1919 e está em domínio público. Ainda que fosse preciso pagar, a leitura desse romance pré-modenista é necessária para entender o Brasil. Sendo gratuita, é obrigatória.

site: blogbeatnik.blogspot.com
Adriano 07/11/2016minha estante
Ótima resenha !



Priscila 28/07/2019minha estante
Amigo, pode me dizer qual a referência do livro que faz a analogia do nome e desse lugar na China? Estou lendo o livro e também a biografia escrita pelo Franscisco de Assis, e ainda não encontrei essa informação. ? muito importante pra mim saber a fonte. Se puder me informar, agradeço de coração.




Clio0 06/03/2015

Esse é um livro doloroso. Não apenas referente ao estilo de escrita, vocabulário ou qualquer coisa assim, mas também ao fato de que Lima Barreto expõe algo que até hoje é tratado com a ponta do pé aqui no Brasil.

Não é preciso ser um ativista militante, muito menos alguém que se sente mal só de pensar em cruzar com alguém com doenças mentais (ou neurológicas, ou qualquer outro termo empregado). Nos afastamos do que consideramos doente, e nada nos assusta mais do que a doença emocional ou psicológica.

Francamente, esse não é um livro para se ler esperando similaridade a crueza de O Cortiço ou ao universo semionírico de Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago. O Cemitério dos Vivos ocupa um lugar a parte e merece ser lido por si só.
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marcuss 19/03/2014

A marca da escrita
É preciso levar em consideração que é possível uma real ligação entre a biografia e a produção literária para compreender O cemitério dos vivos de Lima Barreto.
É preciso entender que o escritor esteve no hospício e na sua incapacidade de trabalhar devido a um impossível movimento de escrita num ambiente conturbado, ele fez a obra em pequenos fragmentos, demonstrados na primeira e segunda parte da obra (como se fosse possível cavar a obra dada e encontrar ali seu esqueleto). Fragmentos de pensamentos, de narrativa, de descrição e indiscrição diante do fato de que um homem por um motivo qualquer precisa estar privado ou precisa ser privado da convivência em sociedade.
Mas o que é o mais importante é o movimento que se realiza para a terceira parte do livro, O cemitério dos vivos propriamente dito, em que todo o fragmento se torna literatura e não notas (como se um não pudesse ser o outro, no movimento moderno (sic) de hibridismo que se estabelecia ou deixou-se estabelecer).
Ler esta edição da maneira em que se encontra, mesmo com todos os problemas de revisão ou edição, é como desvendar o escritor por trás da obra, é como se ele piscasse nos dizendo: eu estou aqui e no ímpeto da minha necessidade de escrever ficção e não autobiografia, eu risco meu nome e mudo a experiência vivida em experiência com-aparência-de-vivida. Uma "xoxota estética" como diria Silviano Santiago em Histórias Mal Contadas.
Não importa o que se passa de verdade entre as partes da obra, o que permanece é essa inaudível verdade com relação à vida e a memória:
"[...] A nossa vida é breve, a experiência só vem depois de um certo número de anos vividos, só os depósitos de reminiscências, de relíquias, as narrações caseiras dos pais, dos velhos parentes, dos antigos criados e agregados é que têm o poder de nos encher a alma do passado, de ligar-nos aos que foram e de nos fazer compreender certas peculiaridades do lugar do nosso nascimento. Todos os desastres da minha vida fizeram que nunca eu pudesse manter uma inabalável, minha, a única propriedade que eu admitia, com as lembranças dos meus antecedentes, com relíquias dos meus amigos, para que tudo isso passasse por sua vez aos meus descendentes, papéis, livros, louças, retratos, quadros, a fim de que eles sentissem bem que tinham raízes fortes no tempo e no espaço e não eram só eles a viver um instante, mas o elo de uma cadeia infinita, precedida de outras cadeias de números infinitos de elos."
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Luis 24/11/2012

Manifesto Antimanicomial
A bela edição da Planeta, parte integrante da coleção Biblioteca Invisível (2004), traz a público mais um título de um escritor seminal, tal como Van Gogh, ignorado e desprezado em vida, incensado e estudado nessas nove décadas desde o seu passamento.
Impossível não se emocionar com o drama crônico da vida do carioca Afonso Henriques de Lima Barreto. Nascido pobre, filho de um tipografo e de uma dona de casa, Lima Barreto perdeu a mãe quando tinha menos de 2 anos de idade, e , aos 20, teve que abandonar a Escola Politécnica, onde cursava Engenharia, para ser arrimo de família, pois o pai enlouquecera quase de súbito. Não seria a primeira vez que a doença mental cruzaria o seu caminho.
Enfrentando o forte preconceito social e racial da época, o mulato Lima iniciou o seu longo caso de amor com o jornalismo e literatura, fazendo colaborações regulares com pequenas publicações e já abrindo caminho para a veia modernista que banharia a sua produção na ficção.
Infelizmente, os percalços de uma vida sofrida e em constantes apuros financeiros, além da pouca repercussão de seu trabalho junto à intelectualidade de então, empurraram Lima para um lento processo de auto destruição, embalado pelo vício cruel do alcoolismo. “Cemitério dos Vivos” é o volume que reúne as memórias do escritor de um período compreendido entre o final de 1919 e o começo de 1920, em que ele, já bastante deteriorado pela doença, esteve internado no antigo Hospício Nacional, atual Instituto Pinel, após uma crise que o faz vagar em delírio pelas ruas do Engenho de Dentro, bairro em que morava, justamente na noite de natal. Mais triste impossível.
Poucos relatos teriam a contundência da fria observação de Lima sobre a perda gradual de humanidade sofrida pelos doentes mentais naquelas primeiras décadas do século passado. Ironicamente, a vida lhe fazia caminhar em espiral pela tragédia. Primeiro, sendo espectador privilegiado da loucura do pai, mais tarde, observando e registrando lucidamente a sua agonia, na mesma direção apontada pela sina hereditária.
Embora imerso em seu drama, Lima Barreto não fecha os olhos aos companheiros de infortúnio, descrevendo em detalhes as manias, os devaneios, as inquietações dos genérica e pejorativamente tratados como “malucos”. O livro é complementado pelas notas esparsas reunidas originalmente pelo autor com o intuito de romancear aquela experiência, tentativa que ficou inacabada.
Na verdade, a força avassaladora do relato, e que poderia tranquilamente ser um manifesto contra a luta antimanicomial , prescindia desse exercício, em mais um triste de exemplo de que a realidade, na maioria das vezes, é mais assustadora que a ficção.
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