Karina 18/02/2013Resenha: TilAo escrever Til, o autor procurou mostrar como era a vida no interior de São Paulo durante o século XIX, indicando as diferenças sociais, os costumes e o vocabulário. Os curtos capítulos mostram a vida de Berta, uma moça graciosa e esperta de 15 anos, e as paixões existentes entre ela, Miguel, Linda e Afonso.
O livro é dividido em duas partes, cada uma com 31 capítulos, portanto 62 no total. Com 222 páginas, o exemplar possui também questões de vestibular para auxiliar no estudo. O foco narrativo é em terceira pessoa, uma vez que o narrador conta a história sem se envolver, usando metáforas e comparações para melhor entendimento do leitor; e é onisciente, pois ele sabe os pensamentos e sentimentos das personagens.
Berta (ou Inhá) é uma adolescente bonita e encantadora, irmã de criação de Miguel. Gostava muito de ajudar os outros: cuidava de uma negra louca chamada Zana, tinha uma galinha mutilada como sua protegida, e ensinava a Brás o abecedário e algumas rezas. Por isso, todos lhe queriam bem, principalmente Afonso e Miguel. Porém, a irmã gêmea de Afonso, Linda, era apaixonada por Miguel, então Berta fazia de tudo para que ele correspondesse a sua melhora amiga.
Brás tinha um retardado mental, por isso tinha dificuldades para aprender. Um dia ele viu o til num texto e se encantou pelo acento. Berta então se proclamou Til para conseguir ensinar o primo de Afonso. Desde então, sempre que o menino a vê, ele a chama de Til, o que dá título ao livro.
Inhá sempre foi protegida por Jão Fera, um assassino de aluguel. Também chamado de Bugre, ele foi contratado por Barroso para matar Luís Galvão, pai dos gêmeos, durante uma viagem. Quando Berta descobre as intenções de Jão, ela corre contra o tempo para impedir a emboscada, e é bem-sucedida. Contudo, Fera adquiriu uma dívida com Barroso, e a moça oferece o relicário de sua mãe como pagamento. Ofendido, o capanga vai embora, planejando se entregar a um fazendeiro para conseguir o dinheiro. O Bugre vai ao encontro do fazendeiro, mas este quebra o acordo quando tenta amarrá-lo. Sendo assim, Jão vai embora.
Em 1826, a moça mais bonita de Santa Bárbara era Besita. O jovem Luís Galvão e seu camarada Bugre amavam-na. Enquanto Jão a adorava como uma santa, Luís só queria se divertir. Então o pai de Besita arranja um noivo para ela, um rapaz chamado Ribeiro. Logo após o casamento, Ribeiro recebe uma carta, e é obrigado a sair de viagem para recuperar a sua herança. Meses se passam, mas ele não volta para casa. Aproveitando-se disso, Galvão vai até a casa e engana a escrava Zana, e dorme com Besita. Ela fica grávida, e o Bugre, sempre adorando-a, cuida dela com a ajuda de Zana. Ele vai até Campinas com o bebê nos braços, e a batiza com o nome de Berta.
Certa vez Jão precisa sair, e Ribeiro, que havia voltado, adentra na casa e mata Besita, acusando-a de traição. Chega então o Bugre, e Ribeiro foge para Portugal com medo de sua vingança. O Bugre em vez de persegui-lo, fica para ouvir as últimas palavras da moça, que lhe implora para cuidar de Berta. E desde então ele a segue com a mesma devoção que tinha pela mãe. Depois do acontecido, Jão Fera procura pistas do assassino de Besita, e como não consegue vingá-la, alivia sua sede de sangue matando por dinheiro.
Quinze anos depois, Ribeiro volta para São Paulo com o objetivo de se vingar de Luís Galvão, o homem que o humilhou. Contudo ele usa outro nome para não ser descoberto: Barroso. Nem ele nem Fera se reconhecem, pois o tempo mudou-os. Depois que o acordo com Fera se desfaz, Barroso se une com Gonçalo Suçuarana e dois empregados de Galvão (o pajem Faustino e o escravo Monjolo) para bolarem um novo plano, que será realizado na noite de São João.
Chega o dia de São João. Na fazenda de Palmas há uma grande festa. Miguel e Linda estão namorando, e Inhá está com ciúmes. Entretanto ela não diz nada, pois a felicidade de sua melhor amiga é mais importante. D. Ermelinda, mãe de Linda, vê o casal e manda a filha ir pra dentro, já que não aceita a ideia de ver a filha com um rapaz de classe mais baixa. Como ela perde o humor, a festa se desvanece aos poucos, até que todos os convidados vão embora. É aí que Barroso põe seu plano em ação.
Monjolo e Faustino prendem todos os escravos e os empregados, e Gonçalo põe fogo no canavial. Luís Galvão grita e vai correr para apagar o fogo. Atrás dele vão os três capangas de Barroso. Gonçalo bate na cabeça do homem, e quando está prestes a jogá-lo no fogo, aparece Jão Fera e salva seu antigo amigo, matando os outros três. Barroso, novamente foge sem completar o seu plano.
Alguns dias depois, enquanto a família voltava de uma festa, Luís Galvão decide contar a sua mulher que Berta é sua filha. D. Ermelinda fica chocada no início, mas depois diz para o marido que ele deve assumi-la, que Berta poderia morar com eles em São Paulo para onde ela queria se mudar. Galvão agradece sua mulher e eles chamam Berta para lhe contar a “verdade” uma vez que eles emitem algumas partes.
Dias depois, Barroso decide voltar às ruínas da antiga casa onde vive Zana, e ele encontra Berta. O homem decide assassiná-la, mas de novo aparece o Bugre e o mata antes que ele consiga algo. Berta presencia a cena toda, mas antes que ela possa fugir Jão lhe pede desculpas e conta sua verdadeira história.
Na hora que Luís Galvão e sua família vão viajar, eles pedem que Berta vá, mas ela recusa e pede que levem Miguel em seu lugar, para que ele e Linda possam ficar juntos. Miguel vai para São Paulo junto com eles para estudar, e Berta continua na fazenda, ficando com todos que sofrem e com Jão Fera, seu novo pai.
Til é uma obra complexa de se ler, já que a história se passa no interior de São Paulo durante o século XIX. Seu vocabulário envolve palavras que fogem do cotidiano dos dias atuais, como por exemplo, “buliçosa” e “bugre”. Além disso, as obras de José de Alencar são bem detalhadas, o que dificulta a leitura, porém a história vai ficando cada vez mais interessante à medida que os segredos são revelados.
O livro é recomendado para pessoas que pretendam prestar vestibular, pois recentemente ele foi incluído na lista de diversas faculdades. Como a linguagem da obra é complexa, a idade mínima dos leitores deve ser de 15 anos, pois eles possuem um vocabulário mais abrangente.
A importância histórica de Til está no fato de a história se passar durante o Brasil colonial, retratando mesmo que levemente a escravidão. Também é importante pelo fato de ser uma obra regionalista, já que mostra a vida dos moradores do interior.
José Martiniano de Alencar (Messejana, 1 de maio de 1829 – Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi jornalista, político, orador e romancista brasileiro. Suas obras são classificadas em quatro tipos: indianista (Iracema e Ubirajara), histórico (O guarani e A guerra dos mascates), urbano (Senhora e Lucíola) e regional (O gaúcho e O sertanejo).