spoiler visualizarDIRCE18 21/06/2024
Contêm SPOLIER ( com letra maiúscula mesmo)
Traiu ou não traiu eis a questão? Não para mim. Limitar-me a essa questão, seria apequenar a obra.
Um ponto que me chamou a atenção foi o retrato social que Machado de Assis faz da época: um Brasil escravagista (embora a obra tenha sido publicada após a Abolição é nos dado saber que o enredo desenrola-se a partir do ano de 1857 ) com diferenças sócias e extrema religiosidade . E...Bem , li algures que quem tem mãe ,cedo ou tarde, precisará de uma terapia. Pobre Bentinho que não pode contar com uma, pois sua mãe traçou o seu destino mesmo antes do seu nascimento: O SEMINÁRIO, não dando a ele uma chance de idealizar seu futuro. Não sou terapeuta, porém, eu , que me inclinei a igualar Bentinho ao Julien Sorel ( personagem do “ O Vermelho e o Negro” - Stendhal – intragável) , não demorei em perceber que sentimento que o Bentinho me despertou foi pena.
Bentinho tornou-se uma criança sem iniciativa e, décadas depois , quando já era conhecido por Dom Casmurro ( um advogado) e se propõe a contar a estória de sua vida, demonstra ter sido um juiz que condenou Capitu ao exílio , com a qual na adolescência viveu uma bonita estória de amor e ,anos depois , vieram a se casar. Isso porque tinha certeza que Capitu o traiu com seu melhor amigo – O Escobar, um jovem que foi seu amigo no seminário, e também optou por deixar a vida religiosa.
Sei que não passo de uma leitora que faz leituras “ fora da caixinha” , assim sendo, ouso afirmar que, Escobar representava a Bentinho o homem que ele gostaria de ser . E mais, acredito que Bentinho não buscava uma mulher que hoje, comumente, chamamos de empoderada, adjetivo que caberia à Capitu. Um homem que ao enterrar a mãe, travou uma pequena batalha para que no lugar do nome constasse na lápide as palavras Uma Santa , por mais que Capitu fosse uma senhora digna , apesar das suposições do Bentinho, jamais poderia estar à altura da mãe – D. Glória.
Se eu fosse D. Casmurro a narrar sua vida, com, certeza, dedicaria um capítulo ao livro com o título: Era feliz e não sabia.
Ora, Bentinho que tinha tudo para ter sido feliz, optou por renegar o filho, ,filho que teve um final trágico, condenar a esposa que veio a falecer no exílio.
Bentinho terminou como D. Casmurro na casa do Engenho Novo por ele recriada como a casa onde fora criado – a do Matacavalo, visando restaurar na velhice a adolescência , claro que foi um desperdício de tempo e dinheiro, pois conforme D. Casmurro diz no segundo Capítulo do livro : “ (...) Se só me faltassem os outros vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde , mas falta eu mesmo, e essa lacuna é tudo (...)” .
Enfim, concluo esse meu comentário, dizendo que foi uma leitura agradabilíssima (como diria José Dias com os seus superlativos), e que qualquer leitura que se faça da obra, dificilmente um leitor a abandonará.