Wanderley 12/08/2023
Uma releitura, 30 anos depois
Li Dom Casmurro pela primeira vez ainda no colegial, adolescente como quando Bentinho e Capitu começaram a namorar. Li por dever de estudante. O tempo passou e voltei ao livro pela curiosidade de reexaminar a técnica de Machado - agora que ganho a vida escrevendo como jornalista, que tenho família e reminiscências da juventude, que sei o impacto da vida adulta nos humores do indivíduo - para constatar que realmente ninguém se torna um clássico, um referência, uma lenda, por acaso.
A composição dos capítulos, dispostos como lembranças e muitas vezes intercalando épocas, é linda. O estilo narrativo envolvente. De resto, as imagens e comparações, as reflexões sobre temas diversos, tudo é feito em nível máximo, mas sem afetação, sem exageros. Fico pensando se ele planejou a estrutura antes de escrever a obra ou se foi construindo-a junto com o texto.
Para mim, a famosa dúvida persiste e cada leitor a complementa como desejar (o narrador até antevê isso no meio do livro, ao dizer que algumas obras necessitam ser concluídas pelos leitores).
Ao ler o livro na maturidade, achei incrível ver que, por mais que tudo mude no curso da vida, o Bentinho e a Capitu da infância e da adolescência mantiveram algo de si em suas versões adultas, pelo menos pelo olhar de Dom Casmurro ele ciumento, ela misteriosa. É, talvez, a índole, aquela essência que carregamos conosco e que pode se manifestar ao contato com as circunstâncias.