Pedro 02/02/2022
Uma jornada labiríntica
Sem dúvidas, a melhor parte de estar prestando Fuvest foi ler esse livro. Angústia é um daqueles romances em que o leitor se identifica com alguma personagem (no caso, Luís Da Silva, protagonista) e vira um ?aliado? dessa, passando a ?jogar? em seu time. Porém, Luís da Silva é doido, um funcionário público que tem uma visão depreciativa para com o mundo e consigo mesmo, de tal forma que o livro se faz como uma espécie de diário do protagonista.
O livro, ou melhor, o Luís da Silva te prende o tempo inteiro com sua visão unilateral, sórdida, maluca e absurda, mas, ainda assim, a narrativa é tão bem construída que em momentos do livro o leitor se vê ?amigo? de Luís, e passa a concordar com o protagonista, mesmo que, moralmente, o que Luís deseja é completamente errado. Essa aliança feita com o protagonista é o elemento chave para a narrativa ser extremamente envolvente, de forma que sempre queremos saber o que vai acontecer, e passamos a, de alguma forma, incorporar os sentimentos e pensamentos de Luís da Silva, como o ódio por algum personagem do livro, a visão pessimista, entre outras características marcantes da loucura do protagonista.
Mas, resumir o livro apenas à narrativa é reducionista demais. É preciso lembrar que o autor da obra Graciliano Ramos faz parte da Segunda Geração Modernista, portanto Angústia é um romance regionalista, mais especificamente da região de Maceió. Com isso, dá pra entender os motivos de Luís da Silva ser tão negativo, porque por meio dessa ótica, Graciliano consegue fazer críticas sociais, sendo a mais nítida delas a crítica à alta sociedade burguesa do Nordeste do século XX, personificada pela personagem Julião Tavares.
Em suma, Angústia é um livro que prende, tem uma ótima estrutura narrativa, consegue fazer profundas críticas sociais, aborda uma região ?esquecida? do Brasil na época, o Nordeste, mas, como o próprio título diz, é angustiante, especialmente pela constante e única perspectiva do livro todo, pessimista, cética e negativa, tornando a obra não tão agradável para alguns leitores. Particularmente, uma leitura obrigatória para aqueles que querem conhecer mais sobre a obra de Graciliano Ramos, e da Segunda Geração Modernista num geral.
Ps: qualquer semelhança com Crime e Castigo não é coincidência