Ale 09/03/2017
Ira que vem do Pelida Aquiles, Musa, cante-a!
A história conta do desentendimento de Aquiles e Agamênon até o funeral de Heitor, representando cerca de 50 dias do último ano de cerco a Ílion. É um poema de milhares de versos que sobreviveu à inexoráveis 2700 anos, encantando grandes generais, como Alexandre, o Grande, assim como a juventude de muitos países no passar dos séculos.
A briga obviamente injusta que inicia o poema leva Aquiles a desistir do combate, favorecendo, no decorrer do poema, os troianos, ao ponto de empurrá-los às naus no acampamento grego. A heroica morte de Pátroclo, que expulsou os troianos do acampamento, incitou a ira de Aquiles novamente, de forma tal que este se reconcilia com Agamenon (fato que não ocorrera nem quando este pedira a reconciliação com Aquiles, prometendo-lhe tesouros inexauríveis e Briseida, mulher que causou, ao ser levada, a ira do Pelida) e sai imbatível, empunhado armas divinas, à caça de todos os troianos e especialmente a Heitor. É capaz de matá-lo com certa ajuda de Atena, e leva seu corpo preso a uma carruagem, arrastado até o acampamento grego. Insulta continuamente o corpo de Heitor, mutilando-o e arrastando-o envolta da pira de Pátroclo. No último canto, Príamo vai ao encontro de Aquiles e pede a ele que devolva seu filho, a mando de Zeus, e ele obedece, ensejando o funeral de Heitor e o fim do épico.
A história apresenta um imenso número de personagens e um sem-número de lutas caracterizadas à exaustão pelo poeta, tornando, na bem da verdade, cansativa a centésima descrição de uma lança perfurando o peito do guerreiro, fazendo seus pulmões saírem pelo outro lado. É um poema de guerra, afinal, e ela é largamente descrita, apesar de ser perceptível um certo esquema que se utilizou o autor para as descrições, deixando-as muito parecidas uma das outros, senão iguais. É um poema que deveria ser cantado, e essa características facilitavam os aedos a cantarem o poema, justificando as semelhanças.
Fiquei relutante em escrever qualquer coisa sobre os poemas homéricos, haja vista o volume incomensurável de literatura sobre só esses dois poemas, mas acreditei ser igual desrespeito ficar mudo frente às montanhas que representam os poemas. Não julguem-me por "spoilers", porque é um poema de mais de dois mil anos! A primeira história do ocidente conhecida tem isenção, convenhamos, de ser alvo de spoilers. Ademais, desfrutem desse clássico e mantenham-no vivo, pois a ira de Aquiles deve perecer de mãos dadas com a humanidade.