Zé - #lerateondepuder 06/08/2019
O Amante de Lady Chatterley
Imagine uma obra que falava abertamente sobre amor e descrevia o sexo nos mínimos detalhes, só que no início do século XX, em uma Inglaterra pós Eduardiana, ainda com ares tradicionalistas, onde o sistema de classes sociais era extremamente rígido? Este é o contexto do clássico O Amante de Lady Chatterley, de autoria de David Herbert Lawrence, escrito em 1928 e, por conta de preconceituosa sociedade da época, somente publicado e vendido livremente, muitos anos à frente.
A história se baseia em uma jovem mulher que vivia sua mocidade plenamente com suas aventuras amorosas, até a eclosão da Grande Guerra, quando conhece e se casa com um rapaz de títulos da nobreza inglesa, que vai combater naquele grande confronto, dele retornando paraplégico. A trama, incialmente, se concentra na descrição do relacionamento e vida conjugal infeliz, sem amor e sem vida sexual por conta das limitações físicas do marido, até que esta Lady se interessa por um dos empregados da propriedade e passa a viver às escondidas um natural e adorável caso extraconjugal, que vai se intensificando, chegando ao momento em que estes enamorados tomem, a todo custo, a decisão de ignorar as convenções sociais da época e tentar se separar de seus respectivos cônjuges, para viverem a comunhão de uma autêntica vida amorosa, em que pese o escândalo desta relação de classes sociais tão distintas, aos olhos da maioria.
Dentre os principais personagens destaca-se a Lady Constance Chatterley, conhecida por Connie, uma mulher à frente do seu tempo, iniciada na vida sexual já em sua juventude e filha de pais ligados ao mundo da arte e cultura, que irá conhecer e contrair matrimônio com o importante Sir Clifford Chatterley, tradicional herdeiro da mansão Wragby na região de atividade mineradora de Tevershal, nas Midlands inglesas. Clifford é uma pessoa que não acredita no amor carnal, mas prioriza a relação espiritual do casamento, ainda mais por conta da sua então condição física assexuada. É um perfeito lorde inglês autor de contos literários e gerente das atividades em suas minas.
Na união dos Chatterley irá interferir sobremaneira o empregado e guarda-caça, Oliver Mellors, homem de origem humilde, mas que tem certo letramento e que combatera como oficial na 1ª Guerra, dela também retornando assolado por uma pneumonia que lhe rendera uma pensão. A trama irá contar com a enfermeira Sr.ª Ivy Bolton, a quem são reservados os cuidados mais íntimos e básicos do inválido Lorde Clifford, até mesmo suas confidências. Ainda há a presença em certas passagens de Hilda, a irmã separada e confidente de Coonie, e seu pai Sir Malcolm Reid, pintor bem conhecido da Academia Real, ambos familiares que participam e apoiam todas as decisões de Lady Chatterley.
O livro passa ao mesmo tempo a frieza e tristeza de um casamento formal, em contraponto às experiências carnais de amantes que se completam com a paixão no seu sentido mais único e íntimo. Há diversas falas sobre a diferença de classe e, principalmente, do preconceito. Clifford, em uma passagem, tripudia sobre os operários que trabalham nas minas de suas terras, depois que assume efetivamente sua gestão, comparando seus trabalhadores aos simplórios escravos de Nero. Entretanto, os personagens são descritos de uma forma bem realista, bem ao estilo da vida como ela é. A busca pelo prazer sensual, ligado a forma de transcender rumo à espiritualidade é um dos grandes motes dessa leitura.
Preconceito e tabu resumem bem a história, principalmente este último, que chocará os leitores pelo relato preciso das cenas obscenas e dos termos chulos utilizados pelo autor, certamente impropérios para época. Não se pode desconsiderar o relato notório da solidão e tristeza dos protagonistas. Tanto Clifford como Mellors têm suas restrições evidentemente físicas, mas como todo ser humano, e assim como Connie, têm necessidades instintivas e espirituais. Mas, a grande mensagem talvez seja a de que o amor verdadeiro entre homem e mulher vale a pena e supera todos os óbices.
A questão da publicação do livro é bem relevante, uma vez que Lawrence, seu autor, só vai conseguir publicá-lo em Florença, de forma bem confidencial. Várias edições sem autorização do autor consideradas como piratas foram vendidas em outros países, principalmente nos Estados Unidos, passando por 32 anos de vida ilegal, até que houve um julgamento formal, para daí ser publicado legalmente na Inglaterra, somente nos idos de 1960.
Quanto ao autor, D. H. Lawrence Lawrence sofria de tuberculose e por isso era impotente, tendo casado com Frida, que o traia frequentemente, sem muito a esconder. Era uma personalidade controversa, muitas vezes tido como misógino, que deixou, na verdade, um relato da guerra dos sexos da época. Parece que este pretendia apresentar um verdadeiro manifesto em favor do aspecto sensual e das paixões, além da visão feminina neste contexto.
Por fim, esta resenha se baseou em uma versão e-book da Editora Penguin – Companhia das Lestras, cujas datas e edição não são descritas, sendo escolhida por ser um romance clássico não tão conhecido e de fácil leitura, uma vez que os termos não são tão eruditos, ou seja, uma boa oportunidade para refletir sobre as relações pessoais, as convenções sociais próprias da condição humana. Há, pelo menos, três adaptações para filme e poderá ser encontrado o livro físico para venda entre R$ 25,00 e R$ 35,00, havendo a opção de baixar a versão digital em: http://lelivros.love/book/download-o-amante-de-lady-chatterley-lawrence-d-h-em-epub-mobi-e-pdf/.
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