São Bernardo

São Bernardo Graciliano Ramos




Resenhas - São Bernardo


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Natália | @tracandolivros 20/04/2019

Só deu para parar de ler quando acabou
Paulo Honório foi um jovem libertino, mas que com muito jogo de cintura e inteligência conseguiu comprar sua fazenda de um outro jovem endividado. Sua riqueza foi crescendo, suas terras aumentando e seu poder intensificando.

Ao longo da trama ele narra sobre seu passado, como construiu sua fazenda, as pessoas que conheceu, e depois sobre como encontrou uma garota com quem logo se afeiçoou, ele não era um homem de paixões, apenas queria um herdeiro, e uma moça bonita e bem formada seria a escolha certa.

Paulo continua sua narração até o ponto exato onde sua vida se encontra no momento. A escrita é bem direta e seca, sem floreios, ele apenas conta como tudo aconteceu, sem embelezar, e sempre com sua opinião forte. Me afeiçoei a ele muito rápido, nem mesmo esperava que fosse gostar tanto do livro. E por trás de todo esse drama, existe também uma crítica as revoluções da época, as reformas trabalhistas, e como as máquinas e o centro começaram a ser mais importantes que as fazendas.

S. Bernardo é um livro que fala sobre a sociedade da época, sobre um homem com seus medos e temores, e com uma estória bem elaborada que deixa o leitor preso a ela, e sentido saudades quando acaba.

site: https://www.instagram.com/p/BbmVJEgAcSq/
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Priscila 20/02/2019

Um clássico com muitos males do séc XXI
Livro: São Bernardo
Autor: Graciliano Ramos
Publicação: 1934

Nota: 4/5 (Ótimo)

Passagem preferida: “Mas é bom um cidadão pensar que tem influência no governo, embora não tenha nenhuma. Lá na fazenda o trabalhador mais desgraçado está convencido de que, se deixar a peroba, o serviço emperra. Eu cultivo a ilusão. E todos se interessam”


São Bernardo é muito mais que um bom romance da nossa literatura clássica, o que ele representa para a época e para os dias atuais é muito mais significativo. A história se passa no interior de Alagoas, narrada de forma autobiográfica pelo personagem Paulo Honório, que dá um tom singular à narrativa com toda sua personalidade esmagadora, sua incansável determinação e sua forma de enxergar a tudo e a todos como coisas a serem tirados proveitos. O destaque vai para seu cinismo ao descrever as pessoas e acontecimentos - “não consegui mostrar ao delegado que ele era ranzinza e estupido’’ - assim como sua frieza - “Essa gente nunca morre direito. (...) Na pedreira perdi um (...). Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: Um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o ultimo teve angina e a mulher enforcou-se “.

A narrativa tem como foco principal à conquista de Paulo da fazenda São Bernardo e do seu casamento com Madalena. O sentimento de propriedade e suas ações egoístas são bem marcantes e as consequências que isso traz a ele é o grande clímax do livro - ‘‘O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada’’.

Além de ser um romance bem estruturado e escrito, como já era de se esperar de Graciliano Ramos, São Bernardo tem uma importante representação histórica. Os ideais de Paulo Honório, sua maneira de agir e pensar exemplificam bem a classe burguesa nascente no Brasil, assim como as limitações do capitalismo e a maneira com que o modus operandi desse sistema se infiltra na maneira com que o homem vê e se relaciona com o mundo.

São Bernardo é um livro bom, porém não indico para leitores imaturos, ou aqueles que não conseguem se aprofundar em um livro. Apesar da escrita simples, são usadas de forma expressiva dialetos e gírias locais, o que acaba arrastando a leitura. Por esse motivo, acredito que essa obra deve ser lida sem pressa, digerindo pouco a pouco o que Paulo quer nos dizer, e acredite, ele tem uma forma muito peculiar de fazer isso.
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Cesar525 19/01/2019

O início da narrativa pode ser um pouco complicado por dois motivos: a história que começa pelo fim (numa pequena avalanche de personagens [e de nomes duplos!]) e a linguagem que é bem regional.

Aliás, quanto à linguagem, pode ser a maior dificuldade de todo o livro. Por mais que a gente saiba que ela reflete posicionamentos e estilo do autor, bem, isso não torna mais compreensível todas as aquelas palavras, gírias e até mesmo a estrutura de algumas frases, que são absolutamente de um contexto e época específicos. Por outro lado, vale elogiar que o que se perde é somente o sentido, e não o ritmo (a escrita é leve, rápida e ágil, e ainda mais favorecida pela divisão em capítulos curtos).

Contudo, superada essa barreira, o livro é plenamente recompensador. Há um toque de jornada na narrativa em primeira pessoa, e principalmente pela forma como a vida do protagonista vai num crescente até chegar ao seu clímax - ou anticlímax, né. E se Paulo não é exatamente dos mais carismáticos, se tornou bastante humano, crível e, ao final, capaz de nos despertar bastante empatia.

E deixando de lado toda a discussão política e social que a obra permite (que salta aos olhos desde o início), é muito bacana notar também o sentido mais, digamos, filosófico da coisa. Que toda a trajetória do protagonista vem atrelado a certos valores, desejos, expectativas; mas e quando nada satisfaz? Ou se realiza? Ou se cumpre? E se você é que fundamentalmente não satisfaz, realiza ou cumpre?

Enfim, uma boa leitura.

ricardo.machado 14/09/2019minha estante
Excelente resenha. Um dos meus livros preferidos da literatura brasileira.




Caio 25/12/2018

Livro ótimo de análise de um homem comum na sociedade
Livro mt bom que me prendeu do começo ao fim. Ele conta a história do Paulo Honório que sonha em ter em reconstruir a fazenda de São Bernardo, e ter uma família. Ele começa a fazer as coisas e conquistando o seu objectivo, mas no fundo da sua alma ele não sentia satisfeito com a sua vida. Mesmo com uma mulher ao seu lado, com a tia dela, com funcionários, com filho e se sentia um vazio por dentro. Graciliano constrói e desconstrói o personagem. Fala do seu mal humor, da sua solidão, da sua tristeza, da sua triste história, do marasmo da sua vida, da sua vida de escravo, de só trabalhar e viver no mesmo sem sair do lugar e o desânimo bateu na porta e isso reflete no seu modo de tratar as pessoas ao seu redor. Enfim uma grande obra que fala da plenitude e da conquista do homem no topo do status da sociedade, do bem material, mas intimamente estava mal e mostra a sua queda do seu império. Recomendo fortemente. Minha obra favorita de Graciliano Ramos. 5/5.
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Daniel 10/09/2018

Áspero, político e filosófico - Três facetas do Velho Graça
O enredo conta a história de Paulo Honório, um homem de origem humilde, rude e ambicioso, que após trabalhar duro e nem sempre de forma honesta, enriquece e torna-se um poderoso fazendeiro do sertão de Alagoas, dono da fazenda São Bernardo. Visando gerar um herdeiro, casa - se com Madalena, um moça bonita e instruída, professora de ensino primário, cuja personalidade forte e caráter humanista entram em confronto com a violência e egoísmo do marido, levanto a consequências trágicas.
Menos conhecido do grande público que Vidas Secas, São Bernardo é considerado por boa parte crítica a obra mais importante de Graciliano Ramos. Nele percebe-se o auge do apuramento estético e estilístico do autor, combinando com perfeito alinhamento a análise sociológica, o perfil psicológico e o trabalho com a linguagem, feito que, na literatura brasileira, só é encontrado também nas obras de Machado de Assis e Guimarães Rosa.
Com uma linguagem crua, dura e enxuta, quase desprovida de adjetivos, somos levados à mente áspera e pragmática de Paulo Honório, um capitalista típico que desumaniza seus empregados e é desumanizado pelo sistema, tratando todas aqueles que o cercam como meros objetos de seus interesses. Paulo Honório é, como ele próprio afirma, um produto do meio em que vive, o que demonstra a influência determinista na obra. O embate entre o protagonista e a esposa, Madalena, representa a luta entre duas visões de mundo contrastantes: uma individualista, pautada no lucro e na supressão dos valores humanos e outra humanista, que prega a igualdade e a justiça social. Como se vê ao final da obra, com certo cunho existencialista, a primeira prevalece sobre a segunda.
Uma obra-prima do regionalismo e da literatura brasileira.
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Cy 08/09/2018

Que livrão da P****!
Eu li em algum lugar que 'Vidas Secas' fala sobre as misérias do homem que sai (ou tenta sair) do sertão, enquanto 'S. Bernardo' é sobre as misérias de quem fica. Achei uma observação perfeita.

Pra ser bem sincera, não sei bem o que dizer depois de uma leitura dessas... Só achei que era minha obrigação moral obrigar todo mundo a ler. rsss. O livro traz tudo o que eu mais amo no autor (embora eu só tivesse lido Vidas Secas - umas 20 vezes - até hoje). Críticas sociais, a escrita árida do Graciliano, mas ao mesmo tempo extremamente bela e poética, personagens gente da gente... e, sobretudo, a solidão da alma humana.

Livrão!
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Thiago275 29/08/2018

Querer nem sempre é poder
Uma história de ascensão e queda, narrada em primeira pessoa. Paulo Honório, dono das terras da Fazenda São Bernardo, nos conta a história de sua vida, onde grande parte de seus atos, senão todos, foram movidos por ambição e ganância.

Ao longo do livro, acompanhamos sua trajetória, desde a juventude pobre, as numerosas brigas e artimanhas para conseguir as terras onde hoje vive, a construção de uma propriedade produtiva, e, por fim, o momento em que conheceu Madalena.

É preciso reconhecer que Paulo Honório não procurava alguém para amar. Ele primeiramente pensou apenas em ter um herdeiro. Madalena, professora, culta, educada, não era a mulher que ele imaginava, mas os dois acabam se casando.

Durante dois anos, o casal viveu em relativa paz, a paz possível com o mau gênio de Paulo Honório. Após esse tempo, no entanto, o ciúme domina o protagonista, que vê traições em todo canto, e esse sentimento, que deriva da ânsia por dominar, terá consequências trágicas, embora nada óbvias.

Nesse ponto, entendemos o tom melancólico do início do livro, pois de maneira magistral, Graciliano Ramos fecha a história no ponto em que começou.

A linguagem do romance, seca e direta, nos diz mais sobre o narrador do que os acontecimentos e as descrições presentes na obra. Como Paulo Honório é homem de poucas palavras, não veremos aqui muitos detalhes acerca dos cenários e personagens. É preciso ler nas entrelinhas.

Algumas partes do livro me lembraram o estilo de Machado de Assis, pois o narrador, em certos momentos, interrompe a história e conversa com o leitor, explicando porque está escrevendo daquela maneira, o que omitiu, etc. Uma metalinguagem bastante interessante de acompanhar e que nos ajuda a imergir na história. Parece que Paulo Honório está realmente conversando conosco.

São Bernardo é, antes de tudo, um romance de profundidade psicológica. É tocante observar que Paulo Honório, mesmo não abandonando de todo o orgulho, por vezes entende que suas ações o levaram a perder tudo o que conquistou.

Foi meu primeiro contato com a escrita de Graciliano, que é mais conhecido por Vidas Secas. Não achei difícil de ler, pecha que os romances clássicos geralmente possuem. Os capítulos são curtos, recheados de diálogos, e a história flui bem.

Daqueles livros que ficamos digerindo vários dias após a leitura.

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Paulo Sousa 05/05/2018

A beleza de São Bernardo
Livro lido 2°/Mai//24°/2018
Título: São Bernardo
Autor: Graciliano Ramos
Editora: @grupoeditorialrecord
Ano de lançamento: 1934
Ano desta edição: 2014
Páginas: 270
Classificação: ??????????
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"Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão" (Posição no Kindle 1440/27%).

"Vivia agora a passear na sala, as mãos nos bolsos, o cachimbo apagado na boca. Ia ao escritório, olhava os livros com tédio, saía, atravessava os corredores, percorria os quartos, voltava às caminhadas na sala" (Posição no Kindle 2534/47%).

Um homem cinquentenário pesa os anos de sua vida. Devastado pela perda e pela solidão, percebe que estragou aqueles que poderiam ter sido anos felizes. Paulo Honório, personagem principal deste magnífico romance da lavra de Graciliano Ramos, é o dono da fazenda São Bernardo, adquirida através de um hábil negócio, e que a transforma num celeiro de prosperidade, onde se discute a sociedade, a fé e a política. É ali também que divide a vida com sua esposa, a jovem professora Madalena, cuja existência é marcada pelos desgostos e humilhações do marido grosseiro e ciumento.

Paulo Honório se deixa levar pelo temperamento difícil e rabugento, pelas manias, pelo desprezo que tem a qualquer forma de erudição e saber, e por pessoas que gastam tempo com livros. Mas, já no fim da vida, a escrita, aquela atividade que tanto lhe gerara desprezo, é a única centelha de vida quw lhe resta, após ser abandonado pelos amigos interesseiros, pelos empregados e pela esposa que, infeliz com os maltratos do marido, ceifara a própria vida. Paulo Honório se isola, impacienta-se com o filho desprezado, vê o resultado da Revolução de 1930 tomarem, pouco a pouco, os limites de suas terras, aliás cada vez mais entregues ao ostracismo...

Sempre admirei o escritor alagoano Graciliano Ramos. Sua escrita enxuta, por muitas vezes esmerilhada e lapidada pelas constantes reescritas, retratam não só a dureza e secura do Nordeste. Elas como que emprestam uma beleza sombria aos ditames vividos pelos povos do Norte. Muitos de suas personagens se parecem com o próprio Graciliano, o jeito seco e duro, as palavras ácidas sempre na ponta da língua, aliás como o próprio Paulo Honório de São Bernardo. Um intelectual incansável, praticamente desenvolveu uma forma de escrever, provinda de seu autodidatismo, onde a economia das palavras são fundamentais para tudo se dizer. Na excelente biografia "O velho Graça", de Dênis de Morais, e que li há uns 4 anos, Graciliano teve de explicar à Ditadura sua ligação com o Partido Comunismo, apesar de o escritor nunca ter sido militante. Com isso veio a prisão política, fartamente e belamente narrada em "Memórias do Cárcere", outro livro de Graciliano que li.
.
Mas minha obra preferida do autor é Vidas Secas, pequenininho e devastador, que não me farto de periodicamente reler. A história curta de uma família de retirantes, que vivem as mazelas próprias advindas das secas castigantes. Ali, Graciliano se agiganta, sua literatura absurdamente bela emerge como uma das vozes mais importantes da Geração de 45, um seleto grupo de escritores entre os quais figuram José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles, Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto.
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Biblioteca Álvaro Guerra 30/04/2018

Defrontado consigo mesmo e suas lembranças, no declínio de um atribulado percurso de vida, Paulo Honório, que chegara a ser um poderoso fazendeiro do sertão alagoano, conta a sua história. E o que nos fica é a figura de um homem simplório, perplexo diante da complexidade da existência sobre a qual lutou, sempre, para se manter no papel de protagonista, e que teve entretanto suas ações voltadas contra si mesmo. É o perfil de um homem envolvido quase instintivamente no jogo de poder, na arriscada aposta da lei do mais forte, e para quem o triunfo rende apenas o vazio e o abandono. Ao final, Paulo Honório deixa de lado o que conquistou, oprimido pela constatação de que perdeu justamente o que poderia humanizar sua vida, inclusive sua mulher, Heloísa, a quem se culpa, no fundo, por ter destruído. O que escapou a Paulo Honório foi a capacidade de manter o que lhe poderia despertar a aptidão para amar. A par da elaborada teia existencial desenvolvida ao longo da trama - pelos conflitos entre as visões de mundo incorporadas pelos personagens - destaca-se um texto riquíssimo, principalmente nas falas de Paulo Honório, construído em metáforas surpreendentes, embora disfarçadas pela concretude das palavras. Ciúme, solidão... Não há sínteses satisfatórias para um romance como este, de linhagem genuinamente machadiana, em que a alma dos personagens se expõe com tanta crueza e exatidão. São Bernardo é a obra que projetou Graciliano Ramos como um dos maiores escritores brasileiros.
Empreste esse livro na biblioteca pública

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788501066657
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janaina.fortunato.7 26/03/2018

"Há homens que são tão pobres que a única coisa que possuem é dinheiro".
Esse é o caso de Paulo Honório, homem de meia idade, rude e violento que resolve contar a sua vida através de um livro de linguagem simples e direta.
Não encontramos na personagem o menor sinal de empatia, nada o sensibiliza. A única coisa que realmente importa a ele é a fazenda São Bernardo, conquistada através de trabalho pesado, mas também meios sórdidos.
Paulo Honório tem nítida consciência da sua condição, dos seus erros e do seu ciúme doentio, no entanto, muito raramente demonstra arrependimentos.
Um livro maravilhoso, que assim como Vidas Secas, traz uma forte crítica social e da condição humana.
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Mr. Jonas 08/02/2018

São Bernardo
O fazendeiro Paulo Honório resolve escrever a história de sua vida. Da infância, pouco se recorda, desconhece as próprias origens, tendo sido criado pela doceira Margarida. Na juventude, esfaqueou um sujeito e ficou preso por quase quatro anos. Na cadeia, aprendeu a ler e escrever. Tendo trabalhado na fazenda de São Bernardo, alimentava o sonho de um dia comprá-la.
Em busca da concretização desse desejo, submeteu-se a todo tipo de trabalho e remuneração. Passou a emprestar dinheiro a juros, que recuperava por vezes de forma violenta. O capanga Casimiro Lopes era o seu ajudante na função e acabou se tornando um companheiro da vida inteira. Fingindo amizade, deu péssimos conselhos a Luís Padilha, jovem herdeiro de São Bernardo e, depois de envolvê-lo em dívidas insolúveis, conseguiu adquirir a propriedade.
Resolveu com violência alguns problemas de divisas com vizinhos e se fortaleceu como agricultor e homem influente, corrompendo aqueles de cujo apoio necessitava. Para agradar ao governo, instalou uma escola em São Bernardo, contratando para o cargo de professor o próprio Luís Padilha, agora falido.
Resolvido a se casar e produzir um herdeiro para suas posses, aproximou-se da jovem professora Madalena. Inicialmente, propôs que a moça substituísse Luís Padilha, mas, diante de sua recusa, declarou as verdadeiras intenções. Depois de alguma hesitação, Madalena aceitou, mudando-se para São Bernardo com a tia, D. Glória.
A independência de pensamento de Madalena e tendência a interferir nos negócios da fazenda, sempre em favor dos empregados, irritavam Paulo Honório. Com isso, as brigas entre o casal passaram a ser constantes. Madalena engravidou e deu a Paulo Honório o filho homem que ele desejava. Mas o nascimento da criança não acabou com as discussões. Paulo Honório passou a imaginar que a mulher que lhe fugia ao controle deveria se submeter aos caprichos de alguém. Tomado de ciúmes, passou a atormentar a esposa com desconfianças e ofensas. Quando a situação chegou a um ponto insuportável, Madalena se suicidou.
Aos poucos, os empregados se retiraram de São Bernardo e os amigos se afastaram de Paulo Honório. Os negócios do fazendeiro caminhavam mal e ele não conseguia reunir forças para se reerguer. Passados dois anos da morte de Madalena, ninguém mais aparecia ali. Restava a Paulo Honório a obediência de alguns empregados, do filho e do fiel Casimiro Lopes.
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Fabio Shiva 25/01/2018

Simplesmente brutal!!!
Esta pungente tragédia nordestina é tão forte e contundente porque é, sobretudo, uma tragédia essencialmente humana. Paulo Honório, protagonista e narrador de “São Bernardo”, é tão universal quanto Édipo ou Hamlet, em suas ações e motivações. Se Édipo age porque não sabe, e Hamlet não age porque sabe, talvez Paulo Honório seja aquele que age para descobrir que não sabe...

Otelo e Dom Casmurro são outras figuras clássicas evocadas nesta poderosa obra, por conta do avassalador ciúme de Paulo Honório. Ao contrário de seus ilustres predecessores, contudo, o ciúme do herói de “São Bernardo” não nasce do amor, mas do sentimento de posse, que coisifica pessoas e relações. Madalena recusa-se a ser um mero objeto possuído, tal como a fazenda de São Bernardo, e por ousar expressar opiniões próprias incorre na ira ciumenta de Paulo Honório.

A prosa de Graciliano Ramos é poderosa e angustiante, enxuta ao extremo, onde não há sequer uma vírgula sobrando. A narrativa é de uma aridez tamanha que deixa a garganta da gente seca, implorando por uma gota de umidade! Isso aliado a uma concepção literária das mais altas, a serviço de um profundo questionamento sobre o sentido da vida humana e da ordem do mundo, imaginem! Tudo considerado, em minha opinião teria sido merecidíssimo se Graciliano tivesse sido o primeiro brasileiro a ganhar o Nobel de Literatura...

A edição que li traz, após o magistral romance, um ensaio crítico de João Luiz Lafetá, muito interessante, de onde copio algumas ideias para referência futura:

* “Sumário Narrativo” X “Cena”: “O ‘sumário narrativo’, explica-nos Norman Friedman, ‘é a exposição generalizada de uma série de eventos, abrangendo um certo período de tempo e uma variedade de locais’; a cena, por sua vez, implica a apresentação de detalhes concretos e específicos, dentro de uma estrutura bem determinada de tempo e lugar.” (177)

* “V. Propp demonstrou que os contos populares se constituem sempre em torno de um núcleo simples: o herói sofre um dano ou tem uma carência, e as tentativas de recuperação do dano ou de superação da carência constituem o corpo da narrativa” (V. Propp, Morfologia del cuento). (179)

* “O romance, segundo Lukács, é a história da busca de valores autênticos por um personagem problemático, dentro de um universo vazio e degradado, no qual desapareceu a imanência do sentido à vida” (G. Lukács, A Teoria do Romance). (195)

* “Como afirma Lukács, a mais humilhante impotência da subjetividade manifesta-se menos no combate contra estruturas sociais vazias do que ‘no fato de lea estar sem forças diante do curso inerte e contínuo da duração’.” (196)

Curiosamente, em seu brilhante e extenso ensaio o crítico deixa de mencionar dois aspectos que muito chamaram minha atenção:

1) O cachorro da fazenda chama-se Tubarão, em um rico e sugestivo paralelismo com a cachorra Baleia de “Vidas Secas”.

2) O que para mim sintetizou de forma brilhante a coisificação (ou reificação) de pessoas e relações em “São Bernardo” é o filho de Paulo Honório de Madalena, “franzino e amarelo”, rejeitado por todos, que é destituído até mesmo da simples dignidade de um nome. Ele é apenas o “menino”. Brutal!!!

E viva a Literatura Brasileira! Viva Graciliano Ramos!

http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/2018/01/sao-bernardo-graciliano-ramos.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Juliana 26/01/2018minha estante
Suas resenhas são sempre inspiradoras. Quantos não foram os livros que li por causa delas! Fugi desse livro na época da escola, e hoje mais velha, estou fazendo o seguinte experimento: dar uma chance a minha pessoa de aceitar as indicações dos meus professores.


Fabio Shiva 27/01/2018minha estante
Oi Juliana, fiquei muito feliz com seu comentário, que alegria saber disso!
Sobre os livros que nos obrigam a ler na escola, acho que simplesmente não funciona obrigar a pessoa a ler tendo que decorar fatos e nomes para depois fazer uma prova, e ainda esperar que a leitura seja agradável e proveitosa! Lembro de "Iracema" do José de Alencar, que odiei quando li na escola, e tempos depois, ao reler por livre e espontânea vontade, amei!


faelfloriano 07/02/2018minha estante
Terminei de ler o livro hoje, justas as suas palavras!


Carolina 08/02/2018minha estante
As resenhas do Fabio dão vontade de ler os livros mesmo


Fabio Shiva 15/02/2018minha estante
Gratidão, amigos!


Nathalia.Ramos 02/04/2018minha estante
Tenho esse livro em casa, comecei mas não terminei. Agora quero saber da história :D


Fabio Shiva 17/04/2018minha estante
Que bom, Nathalia! Boa leitura!




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