AECHJV 09/08/2013
Resenha
BIOGRAFIA:
Graciliano Ramos (1892-1953) foi escritor brasileiro. O romance "Vidas Secas" foi sua obra de maior destaque. É considerado o melhor ficcionista do modernismo e o prosador mais importante da segunda fase do Modernismo. Suas obras embora tratem de problemas sociais do Nordeste brasileiro, apresentam uma visão crítica das relações humanas, que as tornam de interesse universal. Seus livros foram traduzidos para vários países. Seus trabalhos "Vidas Secas", "São Bernardo" e "Memórias do Cárcere", foram levados para o cinema. Recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner, dos Estados Unidos, pela obra "Vidas Secas".
Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu na cidade de Quebrângulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892. Era o primogênito de quinze filhos, de uma família de classe média do sertão nordestino. Passou parte de sua infância na cidade de Buíque, em Pernambuco, e parte em Viçosa, Alagoas. Fez seus estudos secundários em Maceió.
Graciliano Ramos estreou na literatura em 1933 com o romance "Caetés". Em 1934 publicou o romance "São Bernardo" e em 1936 publicou "Angustia". Nesse mesmo ano, ainda no cargo de Diretor da Imprensa Oficial e da Instrução Pública do Estado, foi preso sob acusação de participar do movimento de esquerda. Após sofrer humilhações e percorrer vários presídios, foi libertado em janeiro de 1937. Essas experiências pessoais e dolorosas de sua vida, foram retratadas no livro "Memórias do Cárcere", publicado após sua morte. O romance "Vidas secas", escrito em 1938 é a sua obra mais importante.
Graciliano Ramos seguiu para o Rio de Janeiro, onde fixou residência e foi trabalhar como Inspetor Federal de Ensino. Em 1945 ingressou no partido comunista brasileiro. Em 1951 foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Em 1952 viajou para os países socialistas do Leste Europeu, experiência descrita na obra "Viagem", publicada em 1954, após sua morte.
Graciliano Ramos morreu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1953.
Obras:
Caetés, romance, 1933
São Bernardo, romance, 1934
Angústia, romance, 1936
Vidas Secas, romance, 1938
A Terra dos Meninos Pelados, literatura juvenil, 1942
História de Alexandre, literatura juvenil, 1944
Dois Dedos, literatura infantil, 1945
Infância, memórias, 1945
Histórias Incompletas, literatura infantil, 1946
Insônia, contos, 1947
Memórias do Cárcere, memórias, 1953
Viagem, memórias, 1954
Linhas Tortas, crônicas, 1962
Viventes das Alagoas, costumes do Nordeste, 1962
RESUMO DO ENREDO:
Uma das obras-primas de Graciliano , é narrado em primeira pessoa por Paulo Honório , que se propõem a contar sua dura vida em retrospectiva, de guia de cego a proprietário da Fazenda São Bernardo. Ele sente uma estranha necessidade de escrever, numa tentativa de compreender, pelas palavras, não só os fatos de sua vida como também a esposa, suas atitudes e seu modo de ver o mundo. A linguagem é seca e reduzida ao essencial. Paulo Honório narra a difícil infância, da qual pouco se lembra excetuando o cego de que foi guia e a preta velha que o acolheu. Chegou a ser preso por esfaquear João Fagundes por causa de uma antiga amante.
Possuidor de fino tato para negócios, viveu de pequenos biscates pelo sertão até se aproveitar das fraquezas de Luís Padilha - jogador compulsivo. Comprou-lhe a fazenda São Bernardo onde trabalhara anos antes. Astucioso, desonesto, não hesitando em amedrontar ou corromper para conseguir o que deseja, vê tudo e todos como objetos, cujo único valor é o lucro que deles possa obter. Trava um embate com o vizinho Mendonça, antigo inimigo dos Padilhas , por demarcação de terra. Mendonça estava avançando suas terras em cima de São Bernardo. Logo depois, Mendonça é morto enquanto Honório está na cidade conversando com Padre Silveira sobre a construção de uma capela na sua fazenda. São Bernardo vive um período de progresso. Diversificam-se as criações, invade terras vizinhas, constrói açude e a capela.
Ergue uma escola em vista de obter favores do Governador. Chama Padilha para ser professor. Estando a fazendo prosperando, Paulo Honório procura uma esposa a fim de garantir um herdeiro. Procura uma mulher da mesma forma que trata as outras pessoas: como objetos. Idealiza uma mulher morena, perto dos trinta anos, e a mais perto da sua vontade é Marcela, filha do juiz. Não obstante conhece uma moça loura, da qual já haviam falado dela. Decide por escolher essa. A moça é Madalena, professora da escola normal. Paulo Honório mostra as vantagens do negócio, o casamento, e ela aceita. Não muito tempo depois de casado, começam os desentendimentos. Paulo Honório, no início, acredita que ela com o tempo se acostumaria a sua vida. Madalena, mulher humanitária e de opinião própria, não concorda com o modo como o marido trata os empregados, explorando-os.
Ela torna-se a única pessoa que Paulo Honório não consegue transformar em objeto. Dotada de leve ideal socialista, Madalena representa um entrave na dominação de Honório. O fazendeiro, sentindo que a mulher foge de suas mãos, passa a ter ciúmes mórbidos dela, encerrando-a num círculo de repressões, ofensas e humilhações. O casal tem um filho mas a situação não se altera. Paulo Honório não sente nada pela sua criança, e irrita-se com seus choros. A vida angustiada e o ciúme exagerado de Paulo Honório acabam desesperando Madalena, levando-a ao suicídio. É acometido por imenso vazio depois da morte da esposa.
Sua imagem o persegue. As lembranças persistem em seus pensamentos. Então, pouco a pouco, os empregados abandonam São Bernardo. Os amigos já não freqüentam mais a casa. Uma queda nos negócios leva a fazenda a ruína. Sozinho, Paulo Honório vê tudo destruído e, na solidão, procura escrever a história da sua vida. Considera-se aleijado, por ter destruído a vida de todos ao seu redor. Reflete a influência do meio quando afirma: "A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste."
PERSONAGENS:
Negra Margarida: Protegeu o narrador quando ele era menino. Já rico, traz a negra Margarida (que ele chama de mãe) para morar na fazenda São Bernardo. Azevedo Gondim que descobriu o seu paradeiro.
Tubarão: Cão de Paulo Honório; aparece no livro desde o início.
Dona Glória: Tia de Madalena. Paulo Honório tem aversão por ela.
Salustiano Padilha: Ex-dono da fazenda São Bernardo, pai de Luís Padilha. Morreu sem realizar o sonho de ver o único filho doutor.
Germana: Primeira namorada de Paulo Honório. “Cabritinha sarará danadamente assanhada” de quem Paulo Honório gostava. Ela se enxeriu com João Fagundes e provocou uma tragédia: Paulo bateu em Germana e esfaqueou o rival, indo parar na cadeia por três anos, nove meses e quinze dias. Ali aprendeu a ler com Joaquim Sapateiro.
Luís Padilha: vítima dos planos de posse de Paulo Honório. Após a morte do pai. Por conta das dívidas passou a fazenda São Bernardo para o nome do narrador. “S. Bernardo não vale o que um periquito rói.” (a Padilha quando pretendia ter a fazenda, o que conseguiu sem remorsos;) Como compensação, foi contratado para ser professor por Paulo, apesar das idéias socialistas. "Arredei-o de casa, a bem dizer prendi-o na escola. Lá vivia, lá dormia, lá recebia alimento, bóia fria, num tabuleiro" "Continue a escrever os contozinhos sobre o proletário" desmerecendo o que ele escrevi-a.
“Seu” Ribeiro: Um velho alto, magro, curvado, amarelo, de suíças; viúvo. Tinha setenta anos." Paulo Honório encontrou-o em Maceió, trabalhando na Gazeta do Brito. Simpatizou com ele e levou-o para São Bernardo para ser guarda-livro. “Ouvi a sua história, que aqui reproduzo pondo os verbos na terceira pessoa e usando quase a linguagem dele.”
Joaquim Sapateiro: Na cadeia, ensinou Paulo Honório a ler.
Mestre Caetano: Tomava conta da pedreira. Adoeceu de tanto tra-balhar. Se não fosse Madalena, morreria à mín-gua.
Azevedo Gondim: Lúcio Gomes de Azevedo Gondim é redator e diretor do jornal O Cruzeiro. Jornalista, amigo de Paulo Honório, freqüenta-lhe a casa. Achava que um artista não pode escrever como fala. Por isso, desentendeu-se com o narra-dor
Casimiro Lopes: Amigo de Paulo Honório desde os tempos difíceis. Corajoso, laça, rasteja, tem faro e fidelidade de cão. Executa as ordens de Paulo Honório sem discuti-las
João Nogueira: Advogado, amigo de Paulo Honório, freqüenta-lhe a casa. No início, foi convidado para participar da composição das memórias. Queria compor o livro em língua culta, à maneira de Camões. Provocativo do capitulo 25, "requebrando-se para o Nogueira, ao pé da janela". Ciúmes.
Mendonça: Tinha barba branca e nariz curvo. Dono da fazenda Bom-Sucesso, vizinha à São Bernardo. Certo domingo, quando voltava da eleição, recebeu um tiro de tocaia e morreu na estrada.
Dr. Magalhães: “pequenino, tem um nariz grande, um pincenez e por detrás do pincenez uns olhinhos risonhos”. Juiz de Direito, amigo de Paulo Honório, frequenta-lhe a casa. Na ambição de conquistar mais terras, Paulo indispõe-se com todos os vizinhos, menos com ele.
Marciano: Tomava conta dos bichos. Certa vez, Paulo Honório deu-lhe uns tapas e, por isso, indispôs-se com Madalena.
Costa Brito: Jornalista que tentou extorquir dinheiro de Paulo Honório. Não conseguindo, promoveu uma campanha de difamação na Gazeta contra o narrador. Levou chicotadas, no meio da rua.
Rosa: Casada com Marciano. Mulher com quem o narra-dor se envolvia às escondidas ( "Tive sempre cuidado de mandá-lo à cidade, às compras, oportunamente."). No capitulo 31, faz descrição das atitudes de Rosa ao atravessar o riacho.
TEMPO:
O tempo cronológico do livro se passa durante a revolução de 30, que correspondeu a um período de crise na oligarquia rural do país e que desestabilizou os seus defensores, constitui uma referência temporal importante em São Bernardo. Já psicológico do livro, podemos vê-lo quando analisamos que o romance se envolve totalmente em torno da tensão psicológica de Paulo Honório e este se desenvolverá em dois planos: Paulo Honório narrador e personagem. A história se passa num tempo posterior aos fatos. O personagem passou por varias experiências quando mais moço e agora (no tempo presente do livro) quer relatá-lo e começar a entender a si próprio. Os dois tempos, o presente e o lembrado, se entrelaçam tão perfeitamente e pode ser facilmente confundidos. Toda a narrativa se envolverá num processo de circularidade e alternâncias: no enredo central, teremos Paulo Honório personagem; na narração, aparecerá o Paulo Honório avaliativo, distante dos fatos, buscando entender a si, ao mundo e até mesmo ao seu processo de criação.
ESPAÇO:
A natureza agreste que percorre todo o livro é interiorizada em cada cena, em cada movimento do personagem.
“Eu olhava para a torre da igreja. E o meu pensamento estirava-se pela paisagem, encolhia-se, descia as escadas, ia ao jardim, entrava na sacristia. A sacristia onde, ao som do pio da coruja, conversara a última vez com Madalena, na noite de sua morte. Onde dormira mal essa noite, acompanhando hora por hora a passagem do tempo, a sacristia em cuja torre experimentamos a vaga sensação de ter crescido quinze metros. E quando, assim agigantados, vemos rebanhos numerosos a nossos pés, plantações estirando-se por terras largas, tudo nosso, e avistamos a fumaça que se eleva de casas nossas, onde vive gente que nos teme, respeita e talvez até nos ame, porque depende de nós, uma grande serenidade nos envolve.”
A paisagem do livro se entrelaça com as personagens fazendo com que os dois se completem. Os dois elementos se mesclam de tal maneira que fica da mesma forma do tempo.
FOCO NARRATIVO:
O romance é narrado na primeira pessoa. O narrador conta a sua história depois de a ter vivido - vale-se das lembranças para expor fatos do presente e do passado, dando à história feições de memórias - conta sua dura vida em retrospectiva, de guia de cego a proprietário da fazenda São Bernardo. “Tenciono contar a minha história. (...) Talvez deixe de mencionar particularidades úteis, que me pareçam acessórias e dispensáveis.” Paulo Honório narra a difícil infância, da qual pouco se lembra excetuando o cego de que foi guia e a preta velha que o acolheu.
ESTILO:
A técnica de São Bernardo é marcada por uma linguagem dura, seca, fria e objetiva, características do próprio Graciliano Ramos e que combinaram com a personalidade de seu personagem. Não utiliza-se de rodeios ou grandes momentos de descrição. Graciliano Ramos procura ser o mais objetivo possível. Não há uma palavra a mais ou a menos em cada passagem do livro, somente o necessário para que se chegue à uma compreensão clara e direta. Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa por cada um deles: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente. Já o Paulo Honório personagem é caracterizado pelo tempo pretérito. Nas páginas iniciais do livro podemos observar um texto metalinguístico, em que Paulo Honório explica aos leitores como seu livro seria feito, contando com a participação de quatro personagens que o ajudariam no comprimento dessa tarefa. Ao perceber que a maneira como a escrita estava sendo feita não se aproximava da real fala, Graciliano faz com que o próprio Paulo escreva sua história, fazendo assim com que a linguagem da narrativa se caracterize por vocabulário enxuto, com uma economia nas descrições e a tentativa de incorporar o falar oral à linguagem formal da escrita, como já citado. Vale ressaltar que além de uma narrativa regionalista, o apelo psicológico na obra São Bernardo é muito presente e forte. O narrador utiliza um tipo de escrita que leva o leitor ao presente e, de modo súbito e desorganizado, remete aos acontecimentos do passado. O narrador irá se debruçar sobre seu passado, tentando entender a si mesmo, ao mundo e como ele se relaciona com esse mundo exterior.
Verossimilhança:
A narração se passa entre 1930 e 1940 e muitos artistas faziam suas obras para criticar e mostrar os problemas vividos no nordeste. O plano de fundo da obra “São Bernardo” é esse, mas o autor vai muito mais além. A obra narra a vida árdua e difícil de Honório o qual afirma em suas histórias que se tornou um homem brutal e sem amor por causa de sua profissão. O autor dá para o leitor a oportunidade de viver um universo real e um de mentira se dando nós. A realidade do livro e a vida real naquela época começam a se juntar e ainda se juntam com o mundo de lembranças do protagonista.
MOVIMENTO LITERÁRIO:
Graciliano Ramos é um dos principais nomes do movimento literário brasileiro que ficou conhecido como Romance de 30, constituindo a 2ª geração do modernismo brasileiro. Este movimento contou com algumas características peculiares. A prosa construída durante este período era classificada como romance regionalista, mais focado na região nordeste do país. Possui elementos antifascistas e anticapitalistas e apresenta um ponto de vista vigoroso e crítico. Durante o desenrolar da história (São Bernardo), Graciliano utiliza alguns elementos da estética modernista, embora também seja possível reconhecer alguns traços do movimento realista ao se tratar de questões sociais.
CONLUSÕES:
Dono de estilo contundente e direto, Graciliano Ramos é um dos mais importantes autores da literatura brasileira, cujo interesse estético é inseparável do comprometimento ético. Seja por suas intervenções no campo político, pelo empenho em favor dos oprimidos ou ainda pela defesa do artista no mundo moderno, Graciliano reafirma, de modo inconfundível, o vínculo entre literatura e vida. Foi um autor muito perseguido durante a ditadura de Vargas por escrever enredos em que houvesse algum tipo de oposição à forma de governo instalada no país. Dessa maneira, teve forte papel para a sociedade que estava insatisfeita, principalmente dentre os nordestinos. Sua contribuição para a literatura brasileira foi de extrema importância exatamente por esses pontos de denúncia.
Alunos: Clara Helena, Anna Elizabeth, Lucas Resende, Barbara Galvão, João Victor Neme
Gama Ômega