Nandearah 07/08/2014
Quem nunca ouviu falar do livro Assim Falou Zaratustra? Quem nunca ouviu falar de Nietzsche? Acho que se você já tem um pouco de convívio com livros - ou um bom professor de filosofia - e uma lista de futuras obras a serem lidas, de certo sabe do que estou falando. Comecei a ler esse livro por obrigação (faculdade, seminário, escolher um filósofo e uma obra, essas coisas todas que vocês acham que terminam no Ensino Médio) e nunca um livro me tirou tanto da zona de conforto quanto esse. Então, antes que prossiga, deixe-me alertá-lo sobre uma coisa: Nietzsche é extremamente contra o cristianismo - apesar de ter sido criado em uma família de protestantes - e não acredita em Deus (não só não acredita como condena quem o faz, o que torna a obra muito agressiva). Sobre a história? Vem comigo.
O livro é dividido em quatro partes: Preâmbulo de Zaratustra e Discursos de Zaratustra (que competem a primeira parte); Segunda Parte; Terceira Parte e Quarta Parte. Apesar de não haver tanta diferença na escrita de uma parte para outra, Nietzsche não as escreveu seguidamente (parte Você Sabia? do post): há intervalo de um seis meses entre a primeira parte e a segunda e de um ano entre a terceira e a quarta parte. E não só isso: a primeira e a segunda parte, por exemplo, foram escritas em apenas dez dias. Tipo... Haja criatividade!
A história começa narrando a ida de Zaratustra para a montanha com o intuito de aproveitar o seu espírito e a sua solidão. E assim o fez durante dez anos. Decorrido esse tempo, porém, o protagonista crê que tem muita sabedoria e que precisa compartilhá-lha com os homens. Para tal, decide voltar à cidade e dividir com os outros tudo o que aprendeu durante os anos em que ficara isolado. Enquanto descia das montanhas, deparou-se com um velho que o interrogou a cerca dos motivos que o levariam a voltar para a cidade. Zaratustra respondeu com uma frase simples: "amo os homens". O sábio diz que ele também amava os homens e que por isso teve de recolher-se em sua solidão; e disse, ainda, que agora amava somente a Deus. Ou seja, o sábio tenta convencê-lo de que ir aos homens levar a tal sabedoria não era o melhor caminho, que ali - na montanhas - ele teria um maior contato com Deus, que os homens pouco valorizavam o que sábios como eles tinham a oferecer. Zaratustra concordou, riu com o velho sábio e seguiu o seu caminho. Quando viu-se sozinho, porém, indagou-se: "Será possível que este santo ancião ainda não tenha ouvido no seu bosque que Deus já morreu?"
Houve sempre uma rixa entre cristãos e o
Nietzsche. [ironia] Algo pouco notável e
sem motivo, não é mesmo? [/ironia]
Essa foi a primeira frase que realmente me chocou. Que Nietzsche não era cristão? Ok, já sabia. Que não acreditava em Deus? Ok, me contaram. Que seria tão direto assim? Ainda no século XIX, período no qual a obra foi escrita e publicada? Pessoas, isso foi um verdadeiro choque pra mim. Mas não parou por aí - ainda bem, porque adoro ser surpreendida. Ao chegar na cidade, Zaratustra vai à praça pública e diz ao povo: "Eu vos anuncio o Super-homem". Explicar o que é Super-homem, juro, não é spoiler: ele é a superação do homem pelo próprio homem, não a superação do homem através de uma criação do homem (aqui, o lindo do Nietzsche se refere a Deus). Agora, sim, o resto é não só difícil de explicar como extremamente desconexo de se falar sem que eu solte um spoiler (e pouco provável que eu vá conseguir falar algo ao ponto de você entender sem ler... Deixemos isso pra lá, né?)
A linguagem de Nietzsche é difícil, sim, mas isso não torna a obra a coisa mais impossível de ser lida de toda a face da Terra. O livro vai dar um nó no seu cérebro e você provavelmente ficará puto da vida - ainda mais se abrir o livro com a mente fechada e deixar que dogmas religiosos interfiram no seu ver sobre a obra -, mas, ao fim da leitura, você verá várias pequenas coisas de formas distintas e quem sabe abraçará ainda mais a sua crença (ou deixará de crer nela, vai saber). O livro traz uma bomba de informações sobre coisas que você provavelmente parou pra analisar, mas não muito: pessoas que desprezam o corpo, castidade e amor ao próximo são exemplos disso. É um livro perfeito pra quem está com vontade de ler algo totalmente novo.
site: ternatormenta.blogspot.com