legarcia 18/07/2023
A vida que realmente importa
Iniciei a leitura quase que no automático, peguei o livro e me coloquei a ler sem muito pensar previamente. E logo deparei-me com uma forma de narrar muito fluido e íntima. Sentia que estava sendo carregada para dentro do personagem Eugênio, andando as escadas com ele, subindo no veículo e indo em direção à cidade, lembrando de Olívia e sentindo a aflição, mesmo sem conhece-la ainda.
Inicialmente, somos apresentados a um Eugênio vivendo humilhações, sentindo-se envergonhado e inferior por sua condição material, um Eugênio que foi estudante de medicina, que tornou-se médico, doutor. E não obstante a conquista de seu maior desejo, de obter o sucesso que imaginava, sua vida era repleta de falsidades. Ele não era honesto com sua alma nem dentro do casamento, o qual se deu por interesse. Constantemente ele apresenta essa visão extremamente materialista, pela qual ele coisifica tudo e todos e é coisificado.
Na faculdade, porém, ele tem Olívia, uma mulher não tão atraente fisicamente, quem o conecta com o transcendental. É com ela que ele compartilha conversas e momentos profundos, ela é quem o apresenta a um mundo maior. Só que isso não é o suficiente para que ele escolha viver uma vida desprendida do apenas material. A eminente morte de Olívia é o elo rompido responsável por estremecer a vida cotidiana de Eugênio.
É possível perceber ao longo do livro uma polifonia de classes ideológicas condensadas em discursos e personagens. O autor utiliza essa técnica de ponto e contraponto, a qual pra mim se mostrou de muito valor.
Um dos pontos altos do livro pra mim são as cartas de Olívia, verdadeiras consolidações da ética de viver, expondo o cristianismo que se realiza no outro. A partir da leitura das cartas, Eugênio sofre uma transformação tamanha que mesmo tendo decaído de posição social, sente-se preenchido existencialmente, vivendo pelo que realmente importa.
O livro é divido em duas partes, poderia seguir uma linha de pensamento que me levaria a conclusão de que a segunda parte é uma panfletagem piegas e inocente, assim como o Erico disse tempos depois. Entretanto, surpreendendo até a mim mesma, a parte final foi tão linda é tão tocante que não consigo compartilhar dessa opinião. Penso que é um livro que deixa como mensagem algo que é o mais precioso nessa vida: o olhar para o que é transcendente e o desapego com o que é apenas material.
A leitura dessa obra me marcou profundamente. Encantei-me com a maneira de conduzir a narrativa e pela mensagem de amor que Erico Verissimo nos deixou com esse livro. Recomendo a todos!