spoiler visualizarKit 12/04/2022
Achei a escrita um pouco cansativa e repetitiva, mas a história tem seu charme particular. Acho que a real questão aqui não é se existe ou não fantasmas, mas sim, até que ponto a mente humana pode influenciar nas suas atitudes e na atitude dos outros à sua volta. A governanta, a meu ver, sofre de algum transtorno psicológico, e tudo o que ela vê é ?fruto de sua imaginação?, influenciada pelo ambiente e pelas histórias e sugestões, que ela mesma ouviu do Tio e da Sra. Grose. Porém, apesar de tudo, acho que a forma como a Sra. Grose permite que ela continue agindo de forma tão insana é mais aterrorizante do que a ideia dos fantasmas em si. Tudo bem que ela mesma diz que certa vez tentou alertar Miles sobre a má influência de Quint e tomou uma resposta que fez com que ela retornasse a seu devido lugar (o de uma serviçal que não deve se meter) e talvez por isso ela seja tão passiva em relação a atitude da governanta (que, de fato, está um degrau acima na hierarquia), mas, na reta final do livro, percebemos que de certa forma ela também é influenciada pelos delírios da governanta, quando concorda que há algo de errado com Flora e que aquilo ?não é natural?, e mesmo não tendo visto nada no lago, diz que acredita na governanta, ou seja, até onde uma atitude insana, porém firme; e uma mentira descarada, porém convincente, pode influenciar no nosso julgamento? No posfácio discutem um pouco sobre a morte de Miles e se ele morreu de susto por ter visto o fantasma de Quint ou pela expressão insana da governanta, mas a meu ver ele morreu devido a forma como ela o apertava, deixando o garoto sem ar, e de certa forma ?meio que sem querer? acaba tirando sua vida.
Outra coisa que me incomodou é o fato de o contador da história, do início do livro, não retornar para trazer um fechamento, dar sua opinião, ou ouvir a opinião dos ouvintes, o que a meu ver deixa a história um pouco mais rasa do que deveria. Acho a adaptação da netflix é infinitamente melhor do que o livro (sei que é uma combinação de outras histórias do autor, junto com esta e também traz outros personagens e elementos à trama), mas acho que o charme desse livro é a forma como ele gera até hoje debates sobre o que é ou não é, e independente do que o autor escreveu, cada um absorve da obra uma ideia particular e isso é, de certa forma, brilhante.
Toda essa discussão e interpretações é algo que somente a arte pode nos possibilitar, pois independente do que os críticos ou o autor digam, ou expliquem, o que interessa é o que nós absorvemos da história, e a forma como ela nos tocou.