midnightrainz_ 03/08/2024
Li esse ano “o peru de natal” do mesmo autor para aulas de literatura do colégio e fiquei completamente obcecado pelo conto por um tempo. logo, me senti na obrigação de conhecer mais a fundo a obra do autor. agora concluída, posso dizer que foi uma experiência particularmente interessante.
esse é daquele tipo de livro que foca mais na forma de narrar no que no próprio conteúdo da história (que pode até soar chocante pra época, mas pra mim foi bem tranquilo: o sexo presente aqui não é explicito de forma alguma). Não é sobre o que é contado, e sim o como. nesse sentido, o livro é sensacional.
a escrita do mario de andrade e a experimentação foram o que me fizeram gostar do livro. gosto das descrições poéticas dele, mesmo as mais abstratas e confusas, gosto de como ele mistura expressões idiomáticas na escrita, ou escreve determinados termos de forma oralizada (como o “duma”), trazendo aquilo que ele próprio chamou de “linguagem brasileira”; como ele usa regras gramaticais e de sintaxe da maneira que ele quer (e não respeitando a dita norma culta), brincando com a língua. nesse livro ainda ele introduz um recurso que é o meu queridinho dentro da arte: metalinguagem. qualquer obra artística que utiliza metalinguagem se torna imediatamente uma queridinha minha, ainda mais da forma como o autor utiliza dentro desse livro: colocando voz no seu narrador/escritor e utilizando-se da própria linguagem literária para refletir sobre literatura - uma coisa parecida com o que a clarice lispector fez em “a hora da estrela”, que eu também amo. as simbologias e referências usadas aqui dentro também se encaixam muito bem. os temas em geral são, além da própria identidade cultural brasileira - que permeia toda a sua obra -, e principalmente a hipocrisia social da classe burguesa, que se preocupa mais com as aparências do que com o bem estar dos próprios filhos.
por outro lado, ele acaba não tendo muito destaque nem na história nem nos personagens. a história eu ainda não chego a me importar por que não ele não se propôs a ser um drama familiar épico ou algo do tipo (apesar de sentir que faltou algo que mantivesse o leitor interessado na narrativa), mas a falta de carisma dos personagens me afetou: senti como se tivesse diante de bonecos de papelão. eles não são bons nem maus, são seres humanos como quaisquer outros, e eu não consegui me importar com qualquer um deles. fora a certa conotação racista presente na personagem da fraülein, essa ideia dela defender a raça alemã como superior às outras, fez com que eu não simpatizasse com a única personagem com o mínimo de complexidade. entendo que isso é proposital, entendo que era o objetivo do autor, entendo que isso é uma crítica à sociedade burguesa do século retrasado, eu só não gostei do modo como foi feito msm.