carlos 15/11/2019
Otelo me pareceu seguir a mesma fórmula de Macbeth (ou o contrário, agora não lembro qual foi escrita primeiro) de um personagem secundário ser mais chamativo no enredo do que o epônimo. Apesar do título da peça, o personagem que mais me pareceu central à história foi Iago. Era ele quem estava segurando as pontas do enredo manipulando outros personagens.
Com inveja do recém-conquistado posto de Otelo como tenente, Iago planejou a ruína do personagem-título ao fazê-lo acreditar que Desdêmona, sua esposa, o traía com Cássio. Só nisso, são três personagens envolvidos na perversidade de Iago, mas além de tudo ele agia com a ajuda de Rodrigo (a quem no fundo detestava) prometendo-o a separação de Otelo e Desdêmona – que Rodrigo cobiçava; e manipulava Emilia, sua própria esposa, para fabricar provas da traição inventada. Ele brinca com a insegurança de Otelo, com a lealdade de Cássio, com a ingenuidade de Desdêmona e de Emília e com a paixão de Rodrigo.
Todo o discurso de Iago na cena 3 do ato 3 foi tão energético que acho que ele conseguiria convencer qualquer um até mesmo sobre a traição de Capitu por Bentinho (mas ela não traiu, não, por isso ele precisaria convencer).
Além da vingança e da manipulação, um dos temas da peça é o ciúme e dele foram alguns dos meus trechos favoritos:
3.3
Iago: […]
Ah, cuidado com o ciúme;
É o monstro de olhos verdes que debocha da carne que o alimenta.
3.4
Desdêmona: Que tristeza; jamais eu lhe dei causa!
Emília: Isso não basta pr’alma ciumenta;
Não é por causa que se tem ciúme,
Só se o tem porque se o tem; é um monstro
Que é gerado e parido por si mesmo.
Leitura feita pela tradução da Barbara Heliodora publicada em 2017 pela Nova Fronteira.