Marcos 03/12/2009
Alguns spoilers no final
Este é um livro um pouco diferente dos outros do autor, dividido em duas partes.
A primeira é um monólogo de um sujeito que desenvolve suas próprias teorias sobre a pessoa, como ser individual e seu papel numa sociedade, que muitas vezes não corresponde ao seu valor. Esta narrativa, por incrível que pareça, se destaca pelo sarcasmo empregado pelo autor.
Desenvolve, neste ínterim, uma teoria interessante, a de que o ser humano é imprevisível. Que todas as tentativas de descrevê-lo com modelos prontos é inútil. Sugere, indiretamente, o que eu também concordo, que a educação voltada para dizer aquilo que um homem deve ou não fazer é insuficiente, pois ignora a vontade. Uma pessoa pode simplesmente rejeitar algo vantajoso apenas para se afirmar como um ser único, dotado de vontade própria.
Outra teoria é a oposição entre práticos e planejadores, embora não tenha utilizado esta nomenclatura. Ele diz que o homem de consciência pensa demais e que, portanto, tem dificuldade de agir, enquanto os demais apenas executam com facilidade, sem questionar e nada pode pará-los. E estes últimos parecem ter um valor maior na sociedade em que vivia, causando até uma certa inveja.
Ainda falando sobre o homem de consciência, culto e inteligente, ele ressalta como este é um peixe fora d'agua em sua sociedade. Pois não se enquadra em estereótipos sociais, possui mais dificuldade de ser aceito. Cita o exemplo de que até o preguiçoso teria mais valor do que o homem de consciência, pois teria um ideal a que se agarrar e por ele lutar. Teria o rótulo do preguiçoso e se esforçaria para mantê-lo. Tudo carregado de uma dose de sarcasmo, é claro.
A segunda parte é uma estorinha que nada mais é do que um estudo de casos da teoria abordada na primeira parte. Mostra a história de um homem angustiado, culto e inteligente, mas sem aplicação prática no seu tempo. Sente inveja de seus ex-amigos de infância, pois estes possuem seu próprio grupo, se entendem, enquanto ele acha aquilo tudo muito fútil, um modelo de felicidade que não condiz com aquilo que ele espera. Entretanto, a necessidade de se sentir aceito é maior e acaba se metendo numa grande confusão por conta disso, ao entrar "de penetra" num jantar que estes ex-amigos prepararam pra um convidado.
Ainda mais angustiado, perdido, arrependido pelas besteiras cometidas, acaba conhecendo Liza, uma mulher que parecia diferente das demais pessoas. Após um breve jogo psicológico entre os dois, o personagem se surpreende ao ver que foi finalmente compreendido. Porém, sua tormenta é tão grande que seu espírito ainda não está pronto para a aceitação. Sua baixa auto-estima o torna incapaz de amá-la e outros sentimentos se misturam. Mais uma vez, o personagem, que termina esta estória sem revelar seu nome, é incapaz de se inserir na sociedade, de controlar suas emoções e agir corretamente. O anonimato serve para mostrar que é a estória de muitos outros anônimos, que se repete todos os dias.