Marcio Garcia 18/07/2021
A gênese do gênero da pirataria
Um clássico da literatura juvenil de aventura.
A Ilha do Tesouro é um marco do gênero da pirataria. Não é original em suas ideias, muitas delas Stevenson tirou de outros livros escritos anteriormente, mas é o primeiro que compilou todas as características que nos vêm à mente quando pensamos em piratas: mapas com X marcados, tesouros enterrados em baús, perna de pau, ilha do tesouro - que apesar da vegetação ser das ilhas do Pacífico, está no Caribe, palco principal da pirataria em sua "Era de Ouro - papagaio no ombro, esqueletos, bandeira pirata, tripulação de trapaceiros e vigaristas, rum, aquela clássica música Dead Man's Chest (io ho ho e uma garrafa de rum...) e mais o romantismo decorrente de uma rebeldia com o sistema imperial colonialista do século XVIII e XIX.
Stevenson escreve para "meninos", como bem deixa claro, e não se importa com mensagens ou mesmo com "moral do livro", utiliza como narrador, Jim Hawkins, um menino que perde o pai e sai em aventuras, com seus protetores (um fidalgo e um médico) a partir de um mapa encontrado em um baú de um antigo bucaneiro. A narrativa empresta uns dois capítulos ao próprio médico, o Dr. Livesey, que passa a ser o narrador sob outra ótica.
Podemos pensar que o jovem Jim é o personagem principal e, sob diversos aspectos, é mesmo, afinal, a narrativa segue suas aventuras, mas não há como falar desse livro sem citar Long John Silver, o esteriótipo do pirata, com sua dicotomia entre respeito, educação e submissão às leis e às hierarquias e sua selvageria, baseada em ambição pela riqueza. Long John acaba sendo o personagem mais emblemático, simbolo de uma crítica ao sistema repressor vigente nas colônias imperiais da Europa. Um personagem que, apesar de sua brutalidade e descaramento, passando de um lado para outro de acordo com as vantagens e desvantagens de cada momento, não nos faz ter total antipatia, apesar dos esforços do Dr. Livesey e do fidalgo, diferente dos piratas que se seguiram, como James Hook (Capitão Gancho), que foram idealizados para serem vilões.
Um livro obrigatório para se ler ainda jovem, antes mesmo de ver as adaptações para o cinema e TV e, principalmente, antes de assitir Black Sails, quando então poderemos ver um Long John jovem, e um Capitão Flint ainda vivo...