Luís Otávio 02/07/2020
O clero e a carne
Mais uma obra padrão de Eça de Queiros, de muita qualidade. Muito bem escrita, com personagens marcantes mesmo que estereotipados. A crítica ao clero, à hipocrisia, à fofoca, à inveja, à falta de vocação e à influência da Igreja na política são feitas de modo absolutamente magistral, mesmo que um tanto quanto exageradas. Liberdade poética. Há de se compreender o motivo da publicação desse livro ter sido um escândalo, pois trata de assuntos delicadíssimos com uma naturalidade estarrecedora, a ponto de até mesmo céticos, como eu, ficarem horrorizados.
A história é envolvente, a narrativa é bem feita e quem conhece a escrita do Realismo já poderia imaginar qual seria o destino de Amélia, mas nem por isso deixa de ser um final surpreendente ou menos cruel.
O clero retratado por Eça de Queirós tem lá suas semelhanças com os exploradores da fé no século XXI, visando privilégios, lucros, prazeres carnais, influência política e reacionarismo.