Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018
To Kill A Mockingbird
Lançado em 1960, "O Sol é Para Todos" ou "To Kill a Mockingbird" é um romance de formação com inspiração gótica escrito por Harper Lee. Apresentando traços autobiográficos, sua história foi inspirada num fato verídico, um erro da Justiça, ocorrido em 1936, quando a autora estava com apenas dez anos de idade.
Seu protagonista é Aticcus Finch, um advogado de prestígio, incumbido pelo xerife de Maycomb, no Alabama, para defender um negro, Tom Robinson, acusado de estuprar uma mulher branca, Mayella Ewell. Enfurecido, o pai da jovem está disposto a tudo para acabar com a vida do acusado dentro ou fora dos tribunais, enquanto que Finch defende com veemência a inocência do cliente, atraindo a incompreensão de boa parte dos moradores cuja opinião é fundamentada unicamente pela questão racial.
Em síntese, Aticcus exibe a imagem do herói na defesa dos oprimidos, transmitindo integridade e angariando a simpatia do leitor. Viúvo, é um pai compreensivo que jamais faz uso da violência para punir os filhos, ensinando-lhes bom senso e respeito ao próximo, ao mesmo tempo que tenta poupá-los da maldade do mundo. Aliás, um de seus conselhos pontua a narrativa: "Você nunca entende realmente uma pessoa até ver as coisas de acordo seu ponto de vista. Até estar na sua pele e sentir o que ela sente."
Quem narra o romance é Jean Luise ou simplesmente Scout, sua filha caçula já adulta. No entanto, os acontecimentos são filtrados através do olhar da menina que os presenciou, garantindo leveza e até mesmo um toque de humor para tratar de um assunto dramático. Aliás, são as crianças quem roubam boa parte das cenas, traçando um relato irretocável da infância com suas traquinagens, dificuldades na escola e a conflituosa relação com a vizinhança onde um recluso e misterioso morador, Boo Radley, desperta medo entre os pequenos. Além de Scout, destacam-se Jem, seu irmão, o pequeno Dill, baseado no escritor Truman Capote que foi amicíssimo de Harper Lee, além de Calpurnia, a empregada dos Finch.
Vale considerar a escassa análise crítica da obra, especialmente, se levar em conta seu estrondoso sucesso. Após 50 anos, "O Sol é Para Todos" continua despertando a atenção de leitores de todas as idades, inclusive, trata-se de leitura obrigatória na maioria das escolas norte-americanas, sendo considerado um excelente passaporte para os jovens aprenderem sobre tolerância e amor ao próximo, pois o preconceito ainda que velado, continua sendo uma das maiores ultrajes de nossa sociedade.
Não deixe de assistir o filme homônimo, lançado em 1962. Vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado, Gregory Peck também levou a estatueta como Melhor Ator e aparece impecável como Aticcus Finch, sem dúvida, numa de suas melhores interpretações.
Para finalizar, atente ao trecho que explica o título original:
"Quando nos deu os rifles de ar comprimido, Atticus não quis nos ensinar a atirar. Mas tio Jack nos mostrou os princípios básicos e ensinou que nosso pai não gostava de armas. Um dia, Atticus disse a Jem:
_ Preferia que você atirasse em latas no quintal, mas sei que vai atrás de passarinhos. Atire em todos os gaios que quiser, se conseguir acertá-los, mas lembre-se que é pecado matar um rouxinol.
Foi a única vez que ouvi Aticcus dizer que alguma coisa era pecado e comentei com a Srta. Maudie.
_ Seu pai tem razão. O rouxinol não faz nada além de cantar para o nosso deleite. Não destrói, não faz ninho nos milharais, ele só canta. Por isso é pecado matar um rouxinol".
Jamais destrua o delicado equilíbrio que sustenta a harmonia da vida.