Julia Agnes | @pontoparagrafoo 16/08/2021Um dos meus favoritosPublicado originalmente em 1960, por Harper Lee, O Sol é Para todos é um título que traz uma riqueza de detalhes impressionante, que vão desde reflexões sociais necessárias e atemporais, à estrutura do âmbito jurídico em que se passa a história. Apesar de conter jargões jurídicos, o texto é de fácil compreensão ao leitor, sendo necessária apenas uma vez ou outra recorrer ao dicionário jurídico.
O livro é contado pelo ponto de vista de Jean Louise, conhecida por Scout, uma menina de apenas 8 anos que relata as aventuras em sua vizinhança e sua casa, através da companhia e proteção do irmão mais velho, Jem. Contando com momentos divertidos e com a inocência de uma criança sobre os fatos da vida, nos impressionamos com a intensidade que sentimos perante situações intensas sendo vistas através dos olhos de Scout, como se fossem experiências próprias. É possível voltar a ser criança e ao mesmo tempo ver com clareza as más intenções e interesses pessoais dos adultos, sobretudo entre si.
A trama se passa em torno do julgamento de Tom Robinson, um cidadão americano negro, nos Estados Unidos dos anos 30, que é acusado de estuprar Mayrella, moça de uma das famílias mais antigas da cidade, gerando a capacidade de fazer os jurados ponderarem entre a verdade e a justiça ou o preconceito cultuado e suas consequências.
É admirável toda a sabedoria e o posicionamento do pai das crianças, Atticus Finch, não só perante a sociedade e o tribunal através de seu dever como advogado de defesa de Tom, e como consequência por isso enfrentando todas as represálias dos vizinhos, mas também como pai. Com certeza, o discurso de defesa elaborado por ele, antes de sair a decisão dos jurados, foi uma das minhas passagens favoritas do livro.
Cheio de ironia, percebemos como há contradições em relação ao preconceito quando as personagens secundárias passam a não compreender e até detestam Hitler pelo que ele começava a fazer na segunda guerra mundial com os judeus, alegando que os perseguidos eram pessoas como as outras e do bem, e enfatizando ainda, o quanto é errado menosprezar e destratar alguém por ser diferente de você em alguma coisa. Enquanto de forma hipócrita, era exatamente o que estavam fazendo com os negros de Maycomb.
Um dos momentos mais intrigantes é quando Jem, irmão de Scout, especula a existência de membros da Ku Klux Klan com o pai. Atticus menciona então que a seita acabou há muito tempo, porém o assunto encerra por aí e é de livre interpretação do leitor através da observação do forte orgulho e atitudes violentas e ameaçadoras dos descendentes dos confederados, entender se é de fato isso que aconteceu ou não.
Conforme lia, não consegui deixar de simpatizar com a personagem conhecida por Boo Radley. Tantas pressões em cima do rapaz, que chegaram ao ponto de fazer com que o mesmo se isolasse por anos dentro da própria casa, não tendo contato mais com a vizinhança para que assim não falassem mais dele. Porém, foi inevitável. Já que especulações acerca de seu paradeiro não cessavam nunca. Mesmo assim, Arthur (Boo) Radley consegue provar que o preconceito, seja ele de qualquer forma, só envenena.
Não é em vão que o livro é vencedor do prêmio Pulitzer de Literatura e é considerado um clássico, pois além de retratar um caso de intolerância e racismo, que infelizmente continuam sendo assuntos tão atuais, nos faz pensar o quanto de bom em nós mesmos não perdemos ao crescer, por medo do julgamento dos outros ou pelo que exigem que sejamos.
Recomendo à todos que querem um pouco de calor no coração através de pensamentos e atitudes inocentes de uma criança, perante o mundo de forma nua e crua.
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