Marlo R. R. López 31/03/2021Leitura ótima!Aqui temos um livro que é menos um romance e mais uma novela: 120 páginas, narrativa direta de um só fôlego, ausência de capítulos ou pausas e pouquíssimos personagens. Trata-se de uma grata surpresa para os fãs do criador de 'Admirável mundo novo' e pode ser facilmente considerada uma pérola escondida na vasta obra do escritor inglês.
A trama é simples: dois homens, velhos amigos, se sentam à beira de uma lareira na véspera de Natal, bebericando scotch, e um deles, o dono da casa, se propõe a narrar um período muito particular de sua juventude: a época em que viveu na casa de Henry Maartens, um brilhante físico que era também seu orientador de pesquisa. O fato é que a permanência do rapaz na casa do eminente professor lhe dá a oportunidade de se envolver com toda a família que mora lá: a esposa e bela matriarca (a deusa do título), a filha do casal (uma adolescente metida a poetisa), o pequeno caçula e a empregada doméstica. Esse envolvimento com pessoas tão diferentes do mesmo núcleo familiar dá o tom da história e dos conflitos da trama, que vão crescendo em espiral.
O livro é um estudo delicioso sobre conflitos familiares, puberdade e comportamento moral. Assim como em grande parte de seus outros escritos, aqui temos um Huxley que se propõe a criticar aquele intelectualismo pomposo que descamba para uma falta total de inteligência prática para enfrentar os problemas da vida. Embora curto, o livro é profundo e rende excelentes reflexões sobre as relações humanas e os determinantes de nossas condutas - meu exemplar está todo sublinhado.
Publicado em 1955, 'O gênio e a deusa' foi a penúltima das ficções do autor, que morreu em 1963 (a última seria 'A ilha', um ambicioso libelo utópico).
Vale a leitura, tanto para quem já está familiarizado com o autor quanto para quem está conhecendo sua obra agora.