tguedes2 25/01/2023
Desculpa, Dostoiévski!
O que posso dizer? Li meu primeiro Dostoiévski e... não achei nada demais. Não quero, de forma alguma, advogar contra a importância do livro ou da obra do autor, pelo contrário! Entendo todo o clamor que esse livro tem e como ele foi um daqueles que mudaram o rumo da literatura. Dito isso, não foi um livro que funcionou muito bem pra mim.
Para mim, alguns enredos paralelos ao enredo principal não acrescentam em muita coisa à história, deixando a narração muito arrastada e lenta. Em vários momentos eu fiquei entediada com os extensos diálogos travados entre personagens que não tem nenhum ou pouquíssimo impacto na história.
Sobre o aspecto psicológico da obra: a psicologia do criminoso aqui consiste tão somente em um medo sobre a descoberta do crime e a possibilidade da prisão; um sofrimento pelo crime e o embate em ficar livre ou viver o castigo para que se possa “abater” esse sofrimento. Em pouquíssimos e esparsos momentos temos acesso ao pensamento do personagem principal sobre a natureza do crime; não há uma reflexão muito profunda sobre o ato em si, sobre como o personagem se sente em ter feito o que fez, a não ser algumas passagens rasas.
A reflexão sobre o crime que é feita é a de que existem tais "pessoas extraordinárias" que estariam, de certa forma, "autorizadas" a violar a lei e a cometer certos crimes, visto que essas pessoas cometem ilícitos que elevem a humanidade de alguma forma. "[...] uma pessoa extraordinária tinha o direito ... não o direito oficial, é claro, mas o direito pessoal de permitir que sua consciência passasse por cima.. de certos obstáculos, e unicamente naquele caso em que a realização de sua ideia (por vezes, salvadora para toda a humanidade, quem sabe) viesse a exigi-lo". (SUPREMACISTA?) Raskólnikov mata, então, se pondo o título de pessoa extraordinária: ele, pobre, sem conseguir terminar seus estudos, matou para roubar o dinheiro de uma velha usurária para que pudesse se educar e, no futuro, prover sua família e participar do "engrandecimento da humanidade". O que ele não consegue, todavia, é "passar por cima" do que fez, sentindo culpa. Desse modo, descobre que não poderia se dar tal título, não passando, portanto, de um "piolho", como ele mesmo diria. Essas reflexões, contudo, apesar de interessantes, ocorrem em momento muito esparsos e não juntam nem 50 páginas.
Esse livro poderia facilmente 300 páginas e menos e passaria a mesma mensagem. O final não me surpreendeu de nenhuma forma, achei clichê e me irritou, pra ser sincera.
Apesar de ser um livro bem escrito, não me cativou em nenhum momento. Achei interessante a ambientação, contudo. O autor tem uma habilidade descritiva muito apurada, o que traz a imaginação os cenários de miséria e injustiça social de Petersburgo do século XIX.
No mais, é isso. Não diria para não lerem esse livro, ele tem uma importância história imensurável, mas, de fato, não foi para mim.